Coordenadores de instituições sociais criadas durante a pandemia e deputados de oposição denunciaram, em audiência pública, a omissão de governantes no combate ao novo coronavírus e no apoio a pacientes, familiares e profissionais de saúde.
A importância da organização comunitária no enfrentamento da pandemia de Covid-19 foi tema de reunião conjunta realizada nesta sexta-feira (28) pelas comissões de Legislação Participativa; e de Direitos Humanos e Minorias. Parlamentares governistas marcaram presença, mas não se pronunciaram durante o evento.
Um dos deputados que solicitaram a audiência, Helder Salomão (PT-ES) afirmou que houve retrocesso no atual governo com a extinção de órgãos colegiados das mais diversas áreas, e que o objetivo do debate de hoje foi “unir forças” com as instituições para cobrar ações do Executivo federal.
“Faremos um relatório e vamos acompanhar as demandas para que a gente possa efetivamente mostrar para o Brasil e para o mundo não só os problemas, mas também as soluções e sugestões de como vamos superá-los”, disse.
Articulação social
O presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto, informou que a entidade encaminhou documentos à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, em funcionamento no Senado, e que eles serão ouvidos pelo colegiado. “O governo federal se omite e empurra responsabilidades para os governos estaduais e municipais ao mesmo tempo em que busca interditar o papel desses governos. O que está acontecendo no Brasil é fruto de ação e omissão deliberada”, criticou.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS), outra idealizadora da audiência pública, destacou que o documento produzido após a reunião de hoje também poderá ser encaminhado à CPI e recomendou que todas as instituições se aproximem dos senadores para denunciar as falhas. “O trabalho conjunto é extremamente importante, dá uma contribuição ao País e ao Parlamento”, ressaltou.
Representação criminal
A Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico Brasil) pretende apresentar uma representação criminal contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, em julho. A informação foi dada pelo coordenador da entidade, Gustavo Bernardes.
“Nós queremos ser a pedra no sapato dos governantes negacionistas, fazer o controle social e o cuidado das pessoas. É preciso responsabilizar governantes que lançam dúvidas sobre a eficácia de vacinas e defendem a utilização de remédios sem eficácia”, declarou.
Bernardes relatou que sentiu na pele a falta de apoio do Estado após a própria internação. “Quando a gente está dentro do sistema de saúde, vê não só o desespero de famílias inteiras internadas sofrendo com falta de ar, vê o desalento dos profissionais de saúde, que não têm muito o que fazer”, apontou. “É uma doença que vai exigir muito do Estado brasileiro, não só na questão de saúde, como também no trabalho e previdência.”
Rede de apoio
Para o coordenador da Rede Nacional de Apoio às Famílias de Vítimas da Covid-19 no Brasil, Danilo César, a sociedade teve que se aliar em virtude da falta de apoio oficial. “É importante que a gente leve adiante aquilo que o governo federal não tem feito”, disse.
Ele lembrou que, além das sequelas da doença em pacientes recuperados, a pandemia trouxe problemas sociais como o retorno da fome, o aumento de morte por outras doenças que não podem ser tratadas pela sobrecarga dos hospitais e o crescimento de enfermidades mentais associadas à perda de parentes, ao isolamento e a outras questões relacionadas à Covid-19.
E criticou a onda de notícias falsas sobre a doença. “Mais violenta é a onda de negacionismo e desinformação, que deixa a nossa população absolutamente tonta”, comentou.