Em alusão ao mês da Consciência Negra, o Governo de Sergipe, por meio da Vice-Governadoria e com o apoio da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura, realizou nesta quarta-feira, 24, o Webinário “O Poder Público e o Combate ao Racismo”, que foi transmitido e segue disponível no Canal do YouTube Educação Sergipe.
Além da presença da vice-governadora Eliane Aquino, o webinário contou com a participação do presidente nacional da Central Única das Favelas - Cufa e também CEO e fundador do Lis - Laboratório de Inovação Social, Preto Zezé; do diretor-geral da Fundação Pedro Calmon/Secult Bahia e ex-presidente da Fundação Palmares de 2007 a 2011, Zulu Araújo; e da presidente da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap) de Sergipe, Conceição Vieira.
O webinário foi promovido tendo como base a importância de ter o racismo estrutural no debate público e o combate a ele como pauta permanente dos governos e de toda sociedade. “Temos que compreender a importância de construirmos políticas afirmativas dentro de todos os entes do poder público de modo a atender a população desde a primeira infância. Isso porque, ao buscarmos dados oficiais em relação à nossa população, o resultado de uma total relação entre desigualdade social, pobreza, extrema pobreza e a cor da pele de brasileiras e brasileiros. Uma relação direta, portanto, entre desigualdade social e racial em nosso país”, pontuou a vice-governadora Eliane Aquino. Eliane destacou ainda que a sociedade precisa avançar conjuntamente em várias frentes. Reforçando que apenas criar leis não basta. É preciso o compromisso de todos para os avanços se tornarem efetivos. “ A Lei 10.639, que leva a história da África e a cultura afro-brasileira para as salas de aula do ensino fundamental, é um exemplo de avanço legal, mas que sabemos que ainda está longe de ser operacionalizada. Não queremos inventar história, mas que a nossa história seja contada como ela foi construída para que nossas crianças cresçam com esse conhecimento”.
Trazendo um amplo e detalhado contexto histórico, o diretor geral da Fundação Pedro Calmon, vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, e ex presidente da Fundação Palmares entre os anos de 2007 a 2011, Zulu Araújo destacou que para além da disseminação do conhecimento é preciso lutar contra uma construção do racismo que vem sendo consolidada no Brasil desde o seu colonialismo. “Não podemos continuar acreditando que o racismo é fruto da ignorância, da desinformação ou de pessoas más. O racismo brasileiro foi e continua sendo muito bem estruturado. Ele tem origem na formulação da expansão capitalista no mundo praticada pelos países centrais, com origem na Europa, no século 18”. Trazendo o panorama das leis destinadas ao povo negro, antes mesmo da abolição, Zulu demonstrou o quanto se constituiam em falácias que em nada beneficiavam o povo negro. “Um exemplo é a Lei do Ventre Livre. Como uma mãe escrava poderia criar um filho livre? Foi aí que vimos que as primeiras crianças em situação de rua são fruto de um erro do estado brasileiro”, complementou.
De acordo com o IBGE, os negros representam 70% dos brasileiros abaixo da linha de pobreza. O Pnad Educação de 2019 aponta que 71,7% dos jovens que estão fora da escola são negros. 61% das mães solo no Brasil são negras. Dados que apontam uma parte do tamanho do abismo a ser transposto quando se fala em políticas públicas para a população negra. “Temos presenciado, a meu ver, um retrocesso significativo quando falamos em racismo. Mais do que nunca é importante investirmos, enquanto gestores públicos, em formação e disseminação de conhecimento. Ao chegarmos em espaços de poder, precisamos lembrar que nunca estamos sós carregamos conosco muitos outros que não conseguiram chegar. Temos que pensar coletivamente para que possamos levar nossa negritude a vivenciar uma sociedade mais justa”, afirmou a presidente da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap) de Sergipe, Conceição Vieira.
Ex-lavador de carro nas ruas de Fortaleza, o presidente nacional da Cufa - Central Única das Favelas, Preto Zezé, ressaltou que o racismo segue enraizado na população brasileira. E que um dos desafios é justamente a construção de uma agenda racial que paute a política e os estados como um todo. “Precisamos colocar o enfrentamento ao racismo como um eixo de desenvolvimento do país. Porque não é possível um país crescer excluindo a maioria da população brasileira da prioridade de orçamento e investimentos. Precisamos que nossos filhos e filhas, as gerações que estão vindo, possam dizer que o estado também lhes pertence”, disse, ressaltando, também, que a presença do enfrentamento ao racismo na esfera pública é essencial para o Brasil.
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