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Pandemia de Covid agravou situação de violência contra idosos

Isolados em casa, idosos tornaram-se vítimas dos próprios filhos, denunciam especialistas

Redação
Por: Redação Fonte: Agência Câmara de Notícias
18/06/2021 às 03h51
Pandemia de Covid agravou situação de violência contra idosos
Entre as sugestões dos debatedores está a regulamentação da profissão de cuidador - (Foto: Ocskay Bence/Fotolia)

Participantes de seminário sobre a violência contra os idosos realizado pela Câmara dos Deputados apontaram nesta sexta (18) que a pandemia do coronavírus fez crescer o volume de denúncias e, muitas vezes, manteve no mesmo ambiente a vítima e o agressor, o que resultou em violações diárias dos direitos dessa parcela da população. O evento lembrou a data de 15 de abril, dia internacional de conscientização sobre o tema, e destacou a importância da prevenção.

A deputada Carla Dickson (Pros-RN) mostrou o aumento das denúncias de violência contra os idosos no Disque 100. Ouvidor Nacional dos Direitos Humanos, Fernando Ferreira levou para as discussões dados coletados a partir deste e de outros canais de denúncias. Segundo ele, só em 2021 já foram 37 mil notificações de violência contra os idosos, 29 mil delas sobre violência física. A maior parte das vítimas tem entre 70 e 74 anos, 68% são do sexo feminino e 47% dos agressores são os filhos. As ocorrências mais frequentes são maus tratos, exposição a risco à saúde e constrangimento.

Fernando Ferreira deu destaque também à violência patrimonial, responsável por 9 mil denúncias neste ano. A maioria dos casos, segundo ele, envolvem utilização do cartão de crédito do idoso, empréstimos e transferência de propriedades. "Os idosos se transformam em escravos dos próprios filhos no que se refere à obrigação de sustentá-los durante o período da pandemia e, dessa forma, são agredidos para que o façam, uma coisa absurda”, revelou.

Professor da Universidade Católica de Brasília, Vicente Faleiros explicou que a vulnerabilidade dos idosos está ligada à desigualdade social e que os diversos tipos de violência estão interligados. “Há uma interatividade, por exemplo, entre a violação psicológica, de ameaça, de xingamento, com a violência física e a financeira. Então elas não são separadas, são violações que interagem”, esclareceu.

O pesquisador Daniel Groisman, da Fundação Oswaldo Cruz, citou algumas dificuldades da vítima para fazer a denúncia sobre violência. “Num ambiente muito pequeno, com pouca gente, o idoso tem medo que cheguem à conclusão de que foi ele que fez a denúncia", disse. Há também, segundo Groisman, a preocupação em comprovar essa denúncia. "Há uma certa descrença nas instituições, ou seja, uma ideia de que denunciar não vai dar em nada”, lamentou.

Dr. Frederico afirmou que Parlamento trabalha na modernização da legislação para o idoso
Dr. Frederico afirmou que Parlamento trabalha na modernização da legislação para o idoso - (Foto: Gustavo Sales/Câmara dos Deputados)

Políticas públicas
Groisman sugeriu que o Poder Legislativo centre esforços na criação de um serviço público de cuidados domiciliares e na regulamentação da profissão de cuidador, entre outras providências.

Presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara, o deputado Dr. Frederico (Patriota-MG), afirmou que o Parlamento está trabalhando na modernização da legislação e na formulação de políticas públicas contra a violência aos idosos. “Fica cada vez mais claro que as políticas públicas nacionais precisam ser permanentemente mapeadas e aprimoradas para, finalmente, atender com propriedade a demanda do cidadão de mais idade”, afirmou.

O representante da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, Renato Gomes, pediu aos parlamentares uma atenção especial ao reforço das redes locais de proteção do idoso e ao fomento ao debate sobre a violência contra os mais velhos nas escolas.

Junho Violeta
Na abertura do seminário, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, destacou as ações do Junho Violeta, campanha nacional de conscientização sobre a violência contra os idosos. A ministra ressaltou que o enfrentamento desse problema deve ser prioridade e acrescentou que o poder público precisa chegar antes dos agressores.

O promotor público Alexandre Alcântara, do Ministério Público do Ceará, ressaltou as consequências da pandemia para os mais velhos, como a queda na expectativa de vida. 340 mil idosos já morreram em decorrência da Covid-19 no Brasil.

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