Participantes de audiência pública da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados criticaram nesta segunda-feira (14) a ausência, na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), de programação voltada para o combate ao racismo.
Segundo o cineasta e doutor em Comunicação Joel Zito Araújo, que já fez parte do Conselho Consultivo da empresa, atualmente a EBC está desconectada da realidade brasileira, deixando assim de cumprir seu papel de comunicação pública.
“Hoje eu vejo a transformação da TV Brasil em quase que uma televisão chapa branca. Eu não vejo ali espelhado um esforço dessa televisão de estar conectada com a maior preocupação do Brasil neste momento, que é esse profundo desastre social com a morte de quase 500 mil brasileiros pela Covid. Eu não vejo a EBC envolvida em campanhas educativas para ajudar o brasileiro a se cuidar. Eu não vejo no jornalismo da atual EBC a preocupação que se tinha antes com problemas graves da sociedade brasileira, como o extermínio da juventude negra nas periferias brasileiras”, afirmou Araújo.
A jornalista da EBC Juliana Cézar Nunes afirmou que é preciso resgatar os dez primeiros anos da empresa, quando era feita uma comunicação pública representativa da população brasileira de maioria negra, para que a emissora volte a ter um conteúdo de televisão pública de combate ao racismo.
Ao ser criada, a EBC ficou responsável pelos canais de rádio e TV que eram dirigidos pela estatal Radiobrás e pela Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto. O objetivo da nova empresa era unificar e gerir as emissoras federais já existentes, instituindo o Sistema Público de Comunicação.
O diretor-geral da EBC, Roni Baskis, afirmou que a montagem da programação das emissoras de TV e rádio não segue determinações de governos. Ele disse ainda que a programação continua sendo ampla, sem orientação para a redução de conteúdos de qualquer temática.
“Não existe qualquer orientação da direção da empresa de que tenha que ter diminuição desse tipo de conteúdo temático”, declarou. “Talvez a única emissora que cumpra toda a legislação com relação à abordagem do tema, inclusive na semana da consciência negra em novembro, seja a Empresa Brasil de Comunicação”, disse Baskis.
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que a reunião foi motivada por denúncias de que está existindo dentro da EBC uma censura em relação à temática do povo negro.
“Estamos vivendo um processo altamente ideológico e político que tem promovido uma série de atos de censura. A discriminação que nós estamos assistindo, com o cancelamento de programas e de políticas públicas, censura em campanhas publicitárias e de comunicação, isso tem impactado principalmente as questões raciais”, disse a parlamentar.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi convidado para participar da reunião, mas não compareceu.