O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, afirmou que a grande preocupação do Itamaraty no combate à pandemia de Covid-19 tem sido a baixa oferta de vacinas. Em resposta a parlamentares, ele também ressaltou a posição de equilíbrio do governo brasileiro no conflito entre israelenses e palestinos, além de destacar a autonomia dos chefes das missões diplomáticas do País no exterior.
O convite para a audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados nesta quarta (19) foi motivado por declarações do embaixador do Brasil na França, Luís Fernando Serra, à imprensa internacional. O diplomata falou a jornalistas sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da autonomia de estados e municípios no enfrentamento da crise sanitária e sobre a superlotação de hospitais.
Autor dos requerimentos para a audiência, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) questionou o titular das Relações Exteriores.
“Se é uma orientação do Itamaraty a difusão de fake news a respeito de uma decisão da Suprema Corte brasileira e se é uma orientação do Itamaraty que os embaixadores, ao serem questionados da situação da pandemia hoje no Brasil, coloquem a responsabilidade nos ‘ditos’ 24 anos de governos de esquerda”, indagou Padilha.
Exagero retórico
O chanceler Carlos França classificou as relações entre Brasil e França como estratégicas e salientou a cooperação entre os dois países nas áreas comercial, acadêmica e cultural, além da discussão de temas multilaterais, como as mudanças climáticas.
“Eu acho que o ânimo é sempre de acertar. Se houve ali algum exagero retórico, alguma coisa, acho que sempre é a avaliação do embaixador nesse momento que conta, pelo fato de ele poder estar ali no calor daquele momento”, disse.
Oriente Médio
Vários parlamentares criticaram a gestão do ex-ministro Ernesto Araújo, referindo-se também ao depoimento dele à CPI da Pandemia, no Senado. Eles cobraram do atual chanceler uma posição sobre o conflito entre Israel e Palestina e ouviram que o Brasil tem boas relações tanto com o governo israelense quanto com o mundo árabe.
“Ressaltamos aí a importância do direito israelense à autodefesa, dentro dos princípios da carta da ONU, e também, claro, o que pedimos é o imediato cessar-fogo, o imediato fim das hostilidades”, observou o ministro.
Doses excedentes
Os deputados também quiseram detalhes sobre a atuação do Itamaraty no combate à pandemia. O ministro das Relações Exteriores explicitou a preocupação com a nova cepa indiana da Covid-19 e disse estar em permanente contato com a Organização Mundial de Saúde (OMS), que vê no Brasil um líder natural no enfrentamento ao novo coronavírus na região.
O chanceler espera que o País seja beneficiado com parte das 200 milhões de doses excedentes dos Estados Unidos. Ele apontou como um grande problema, em relação à vacinação, a falta de continuidade no recebimento de insumos e de vacinas.
“Nem os contratos privados, nem países como a Europa têm conseguido obter a quantidade de vacina contratadas. A Astrazeneca previa, no mês passado, fazer uma entrega trimestral de 180 milhões de vacinas à Europa, conseguiu entregar apenas 70 milhões”, disse.
IFA e patentes
Na audiência, a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC) fez um pedido como relatora da comissão externa da Câmara que acompanha as ações contra a Covid-19.
“Que a gente possa, cada vez mais, estreitar as relações e defender todo o IFA [Ingrediente Farmacêutico Ativo], tanto o da Índia quanto o da China, para que a gente possa ter o maior número de doses de vacinas do Instituto Butantan e da Fiocruz para a nossa população brasileira”, declarou.
O chanceler Carlos França também foi questionado por alguns parlamentares sobre a adesão a um movimento internacional pela suspensão temporária de patentes de vacinas, mas afirmou que o governo não concorda com essa iniciativa.