O governo federal anunciou nesta segunda-feira (19) a intenção de começar a vacinar trabalhadores portuários contra a Covid-19 até o final do mês de maio. O anúncio foi feito durante audiência pública da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados.
Encarregados de atividade definida como essencial durante a pandemia, os portuários já fazem parte da lista de grupos considerados prioritários pelo Ministério da Saúde na vacinação contra a doença. No entanto, como ocupam a penúltima posição na lista, à frente apenas dos trabalhadores da indústria, até o momento os portuários ainda não foram convocados para a vacinação.
Presidente da Federação Nacional dos Estivadores (FNE), José Adilson Pereira cobrou urgência na vacinação dos portuários e não descartou a paralisação de portos brasileiros por conta do número de trabalhadores contaminados pelo novo coronavírus. “Nós somos porta de entrada. É por nós que passam todas as mercadorias do País. Temos contato com tripulações, com pessoas que vêm de outros países”, observou. "Se param os portos, o Brasil vai à bancarrota.”
Plano de vacinação
Estivador e mestrando da Unifesp Campus Baixada Santista, João Renato da Silva Nunes recomendou ao Ministério da Saúde uma revisão do atual Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19 a fim de acelerar a vacinação da categoria.
"Eles não se preocuparam com os riscos de cada cidade. Se você pegar o [plano] americano, o chileno, o australiano, o chinês e o israelense, eles foram cortados pela cidade. Cada cidade tem o seu risco. Será que o ministério não está seguindo o SUS? O SUS não adota a mesma política para uma cidade portuária e para uma cidade do interior”, alertou.
Segundo Nunes, mesmo submetidos a um alto risco de contaminação pelo coronavírus, os portuários continuaram trabalhando 24 horas por dia desde o começo da pandemia. “Entrar a bordo de um navio é como cruzar a divisa com diversos países”, destacou.
O deputado Glauber Braga (Psol-RJ), que propôs o debate, reconheceu que a natureza do trabalho desenvolvido pelos portuários os deixa mais expostos ao novo coronavírus, sobretudo em razão do contato com diversas tripulações de várias partes do mundo.
“O que estão vivendo os trabalhadores portuários é uma situação dramática. Se a formalização da prioridade não tem como consequência a imunização real, a gente não pode ficar satisfeito”, relatou. Braga sugeriu que, ao final da reunião, os portuários encaminhem formalmente suas demandas e argumentos ao Ministério da Saúde.
Representando o Ministério da Saúde, a assessora técnica do Programa Nacional de Imunizações Caroline Gava Alves disse que a expectativa do governo é conseguir ofertar a primeira dose da vacina para todos os grupos definidos como prioritários, portanto incluindo os portuários, até o final de maio. Segundo ela, caso não haja atrasos na entrega das doses, isso deve ocorrer logo após a conclusão da atual fase de vacinação, que reúne pessoas com idade entre 60 e 64 anos, e da etapa seguinte, que envolverá cerca de 18 milhões de pessoas com comorbidades. “Muitos portuários com comorbidades inclusive já poderão ser imunizadas nesta fase”, ressaltou.
Segundo o Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19, até o momento já foram convocados para a vacinação: idosos e pessoas com deficiência que vivem em instituições de acolhimento; povos indígenas; trabalhadores da Saúde; povos e comunidades tradicionais ribeirinhas e quilombolas; pessoas com mais de 65 e forças de segurança e salvamento e forças armadas.