Traiano muda calendário às pressas para evitar mais um dia de constrangimento

Para tentar escapar de punições por ter confessadamente recebido uma propina de R$ 100 mil, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano (PSD), resolveu forçar todos os deputados a apressar suas atividades para que o recesso parlamentar comece um dia antes do previsto. Nesta segunda (11) e terça-feira (12), o Legislativo faz uma espécie de força-tarefa para que tudo seja votado às pressas e Traiano não precise passar por mais um dia de constrangimento público, na quarta-feira, que deveria ser o dia do encerramento dos trabalhos do ano.

A ideia do presidente é que nos quase dois meses de recesso a população acabará esquecendo que ele confessou um crime grave e que tudo voltará a ser como antes. E embora a diferença de apenas um dia pareça pequena, é possível entender a pressa quando se vê o tamanho do buraco que Traiano cavou para si mesmo.

Nesta segunda-feira, o deputado Fábio Oliveira (Podemos), ligado à Lava Jato, subiu à tribuna para pedir a Traiano, que estava poucos metros à sua frente, que renunciasse em nome da ética e também da reputação da Assembleia. Traiano ouviu quieto, mantendo o silêncio que se autoimpôs desde que Renato Freitas (PT) trouxe a público as provas de que ele cobrou propina para renovar o contrato entre a TV Icaraí, de Joel Malucelli, e a TV Assembleia.

Nos últimos dias, Traiano tem sido presença constante na tevê e na Internet e chegou a ser alvo de um manifesto da OAB paranaense, que pediu sua renúncia. Renato Freitas, antes levado por Traiano ao Conselho de Ética, agora repondeu abrindo ele mesmo uma representação em que pede a cassação de Traiano por quebra de decoro parlamentar.

Nesta segunda, o presidente do Conselho de Ética, Delegado Jacovós (PL), disse que ainda não recebeu o pedido de cassação de Traiano que, ironicamente, precisa ser despachado primeiro pela própria Mesa Diretora, presidida por Traiano. Jacovós diz imaginar que a Mesa “excluirá” Traiano da decisão sobre o destino do processo. Em tese, o presidente pode arquivar de ofício as representações disciplinares.

Em cima do muro

Em plenário, absolutamente nenhum deputado se manifestou em defesa de Traiano desde que os fatos sobre a delação premiada de Vicente Malucelli e, posteriormente, sobre o acordo de não persecução penal assinado por Traiano por uma liberalidade do Ministério Público, vieram a público. No entanto, à exceção de Renato Freitas e de Fabio Oliveira, os outros 51 deputados também têm evitado brigar publicamente com Traiano.

Na sessão desta segunda, por exemplo, Renato Freitas disse que informou a todos os colegas que iria pedir a cassação de Traiano. Disse que abriu sua denúncia para o caso de mais alguém querer acompanhá-lo e assinar junto – no entanto, segundo ele, ninguém se manifestou. O mesmo aconteceu no discurso de Fabio Oliveira: não houve sequer um aparte para dizer que o deputado estava certo.

Nos bastidores,sabe-se que há mais um ou outro deputado com disposição para enfrentar Traiano. Caso de Luiz Claudio Romanelli (PSD), que chegou a dizer numa reunião de líderes que Traiano deveria renunciar – o que lhe valeu a fúria do presidente.