Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Uma nova análise da mandíbula quebrada revela que ela não tem nada em comum com outros restos de neandertais. Em vez disso, poderia pertencer a um Homo sapiens – e, como é datado entre 45.000 e 66.000 anos atrás, pode ser a mais antiga parte conhecida da anatomia de nossa espécie no continente europeu. O próprio osso foi encontrado em 1887 na cidade de Banyoles, na Espanha, que lhe deu o apelido de Homem de Banyoles. Desde então, cientistas o estudaram extensivamente, datando-o de um período no final do Pleistoceno, quando a região que hoje é a Europa era predominantemente habitada por neandertais (Homo neanderthalensis).
Isso e a forma arcaica do osso levaram os cientistas à conclusão de que a mandíbula do homem de Banyoles de fato pertencia a um Neandertal.
“A mandíbula foi estudada ao longo do século passado e por muito tempo foi considerada um Neandertal com base em sua idade e localização, e no fato de que falta uma das características de diagnóstico do Homo sapiens: um queixo”, disse o paleoantropólogo Brian Keeling, da Universidade de Binghamton nos EUA.
Keeling e seus colegas realizaram uma investigação completa do osso usando um processo chamado análise morfométrica geométrica tridimensional. Trata-se de um protocolo não invasivo que envolve examinar exaustivamente a forma de um osso, mapear suas características e compará-las com outros restos.
Eles fizeram escaneamentos 3D de alta resolução e os usaram não apenas para estudar o osso, mas para reconstruir as peças que faltavam. Em seguida, eles compararam o homem de Banyoles com as mandíbulas dos neandertais e dos humanos modernos. “Nossos resultados encontraram algo bastante surpreendente”, disse Keeling. “O homem de Banyoles não compartilhava traços neandertais distintos e não se sobrepunha aos neandertais em sua forma geral”.
Parecia mais consistente com os maxilares de nosso próprio ramo da árvore genealógica, exceto por um detalhe: o queixo ausente.
Como o queixo é considerado uma característica definidora do Homo sapiens em comparação com outros humanos arcaicos, isso representava um problema. Além disso, o homem de Banyoles também compartilhava características com hominídeos antigos que habitavam a Europa centenas de milhares de anos atrás.
Os pesquisadores compararam o osso com o de um humano moderno de cerca de 37.000 a 42.000 anos atrás, cujos restos foram encontrados na Romênia. É conhecido por ter características de Neandertal, mas também tem um queixo.
A análise de DNA dessa mandíbula mostrou que o DNA incluía sequências de um único ancestral neandertal que viveu quatro ou seis gerações antes – o que provavelmente explica suas características mistas.
Como o homem de Banyoles não tem características de Neandertal, a equipe concluiu que é improvável que sua forma estranha se deva ao fato de o indivíduo ser um híbrido.
A comparação com os primeiros ossos do Homo sapiens da África mostrou que esses indivíduos tinham queixos menos evidentes do que temos agora.
Portanto, há duas possibilidades. Ou o homem de Banyoles era um Homo sapiens de um grupo anteriormente desconhecido que coexistiu com os Neandertais no final do Pleistoceno na Europa. Ou era um híbrido entre o Homo sapiens deste grupo desconhecido e um humano antigo ainda a ser identificado.
Apenas uma coisa é certa: que o homem de Banyoles não era um Neandertal.
Existe uma maneira de resolver o mistério, dizem os pesquisadores – tentar extrair algum DNA do osso ou de um dos dentes e sequenciá-lo.
“Se o homem de Banyoles é realmente um membro de nossa espécie, este ser humano pré-histórico representaria o primeiro Homo sapiens já documentado na Europa”, disse Keeling.
A pesquisa foi publicada no Journal of Human Evolution.