Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert
Pesquisadores que estudam um fóssil da espécie Ischyrhiza mira – um peixe-serra extinto que viveu na América do Norte há cerca de 65 a 100 milhões de anos – encontraram mais evidências que apoiam a ideia de fora para dentro. Como os tubarões-serra e peixes-serra de hoje, a criatura tinha pontas irregulares ao redor do focinho para ajudar a afastar predadores e procurar comida. Acredita-se que essas pontas, chamados dentículos rostrais, sejam versões modificadas das escamas do resto do corpo.
Em uma tentativa de examinar a relação entre dentículos rostrais e escamas, a equipe analisou a camada externa esmaltoide dura das pontas do focinho – mas o que eles encontraram foi significativamente diferente do que eles esperavam.
“Surpreendentemente, o esmalte do dentículo rostral de I. mira era tudo menos simples”, disse o paleontólogo de vertebrados Todd Cook, da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA). “Era consideravelmente mais complexo do que o esmalte das escamas do corpo.”
“Na verdade, a organização geral do esmalte neste antigo peixe-serra se assemelhava à do moderno esmalte de dente de tubarão, que foi bem caracterizado.”
Em particular, o esmalte no fóssil combina com o esmalte nos dentes de tubarão modernos no sentido de que é composto de séries de microcristais de fluorapatita, dispostos em linhas nítidas perto da superfície do dente e mais aleatoriamente dispostos mais abaixo. Percorrendo essas camadas estão arranjos de microcristais posicionados perpendicularmente à superfície do dente. Essas diferentes orientações dão aos dentes de tubarão sua força e resistência ao desgaste, e parece que é a mesma história com o I. mira.
“É provável que o arranjo de microcristais agrupados do esmalte dos dentículos rostrais de I. mira também tenha servido como forma de resistir a forças mecânicas”, disse Cook.
Embora não seja impossível que essas escamas e dentes tenham desenvolvido suas microestruturas agrupadas separadamente, faz mais sentido se um veio após o outro – em outras palavras, a hipótese de fora para dentro sobre a origem dos dentes.
Curiosamente, os pesquisadores não pretendiam realmente investigar a história evolutiva dos dentes quando começaram sua análise de dentículos rostrais, mas suas descobertas podem ter um impacto significativo em estudos futuros neste campo.
À medida que mais e mais semelhanças são encontradas entre as partes externas das criaturas marinhas e os dentes dentro de nossas bocas, parece mais provável que os dentes dentro de nossas bocas sejam na verdade escamas de peixe altamente evoluídas.
“Esta descoberta fornece evidências diretas que apoiam a hipótese de fora para dentro, pois mostra que as escamas têm a capacidade de desenvolver um esmalte complexo semelhante a um dente fora da boca”, disse Cook.
A pesquisa foi publicada no Journal of Anatomy.