A violência como método “pedagógico” está fora de controle nas escolas militarizadas.
O mais recente “caso isolado” ocorreu em um colégio estadual no norte do Paraná, onde um monitor militar foi gravado por estudantes arrastando um aluno com um mata-leão.
Trata-se de um golpe que pode enforcar e levar a vítima a óbito, de uso proibido mesmo nas operações de algumas polícias militares, como a de São Paulo. Mas foi desferido contra um estudante de apenas 13 anos.
Não há informações confiáveis sobre o que levou à agressão. Em depoimento à mídia local, uma estudante afirmou que o colega estava sem o uniforme cívico-militar e foi proibido de entrar na escola. Ao insistir e discutir com o monitor, teria sofrido o golpe.
Independente dos fatos que antecederam o episódio gravado, não há justificativa para o ocorrido. Um monitor militar enforcou um estudante menor de idade com um mata-leão. Nada mais importa. É brutal e trágico. É inaceitável.
É o que acontece quando substituímos profissionais treinados para educar por profissionais treinados para responder com violência. Lugar de policial é na rua, combatendo o crime. Escola é lugar de educador(a). Ponto.
A aluna do colégio cívico-militar em questão explicou que o episódio é apenas a face mais visível da violência praticada cotidianamente na escola, e criticou a falta de acolhimento e de canais de denúncia.
“Nós já fomos tratados bruscamente por militares, que pegam a gente pelo braço, que puxam e maltratam realmente. Nós não temos um suporte para reclamar sobre os problemas, pois não acontece nada”, conta a estudante que teve a identidade preservada.
Trata-se de uma espiral de silêncio, furada apenas pelas lentes dos celulares e uma ou outra denúncia que escapa dos muros das escolas.
Cabe perguntar até quando o governo permitirá a continuidade deste modelo, responsável por situações cada vez mais absurdas nas escolas do Paraná.
Entre as violências já registradas estão a imposição de cortes de cabelo, incentivo ao uso de armas de fogo, racismo, assédio sexual e ameaças de morte.
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) afirmou que o monitor foi afastado das atividades e que apura o ocorrido.
Confira a nota da Seed na íntegra:
Sobre o caso do monitor do CCM de Rolândia
O monitor do colégio cívico-militar de Rolândia foi afastado preventivamente pela Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed-PR). A decisão aconteceu após a primeira fase de investigação do caso, que terminou ontem, 4 de julho. Nesta fase, o monitor e o aluno foram ouvidos pelo Núcleo Regional de Educação de Londrina, pela direção da escola e pelo Conselho Tutelar.
A partir de agora, a investigação entra na segunda fase, com o objetivo de levantar mais evidências sobre o caso e chegar a uma decisão. Essa etapa será conduzida pela assessoria técnico-jurídica da Seed e pela coordenação dos colégios cívico-militares.
Independentemente do resultado das investigações, a Seed reforça que a violência, em suas diversas formas, não é tolerada nos colégios, não importa quem a pratique. Nesta linha, a pasta atua tanto na área de punição quanto de prevenção. Na primeira, prioriza esse tipo de caso nos seus processos de apuração internos e afasta preventivamente as pessoas envolvidas. Na segunda, conta com um serviço de atendimento psicológico para professores e funcionários.
Nenhuma pessoa, seja professor, aluno ou funcionário, pode ter sua dignidade e integridade feridas nos colégios públicos do Paraná. Todos e todas merecem respeito.