
O que era para ser um insumo básico tornou-se um fator de risco permanente no campo paranaense. O fornecimento de energia elétrica da Copel apresenta falhas sistemáticas nas principais regiões produtoras de peixe do estado, gerando uma sequência de prejuízos severos que ameaçam a viabilidade do setor. A situação é mais crítica nos tanques-rede de tilápia no Oeste e Sudoeste, onde quedas de energia constantes e frequentemente sem aviso prévio resultam em mortandade em massa de animais, devido ao colapso abrupto dos sistemas de oxigenação.
A dimensão do problema materializa-se em casos concretos e dramáticos. Em março de 2025, uma piscicultora do distrito de Sede Alvorada, em Cascavel, perdeu aproximadamente 60 toneladas de tilápias após ficar quase 24 horas sem eletricidade. O prejuízo financeiro é estimado entre R$ 300 mil e R$ 420 mil. O dano, contudo, foi além da produção: o restaurante anexo à propriedade foi obrigado a fechar as portas, ampliando o rombo financeiro. “O impacto foi devastador. Perdi a produção e interrompi meu negócio”, desabafou a produtora à reportagem.
Este não é um incidente isolado. Outros casos com perdas na casa de dezenas de toneladas foram registrados no mesmo período. Os piscicultores relatam uma barreira de silêncio e descaso ao buscarem respostas da concessionária. A Copel tem negado responsabilidade, atribuindo os episódios a causas externas como tempestades e quedas de árvores. Este argumento tem sido a base para a recusa de pedidos de indenização, utilizando como amparo a Resolução Aneel nº 1000/2021.
Em nota, a Copel sustenta que os eventos ocorreram por fatores alheios ao seu controle e que o fornecimento foi restabelecido dentro dos prazos regulatórios. A justificativa, no entanto, não se sustenta frente à realidade dos produtores. Em Toledo, um criador enfrentou apagões diários ao longo de uma semana inteira em fevereiro de 2025. A intermitência quase levou à morte de 120 mil tilápias. O produtor conseguiu evitar a tragédia acionando geradores a diesel de forma emergencial – solução cara e improvisada –, mas ainda assim teve dois aeradores queimados devido às instabilidades na rede. Cansado da inércia, ele decidiu acionar a Copel judicialmente.
A crise ganhou contornos institucionais. A FAEP/Senar-PR, federação que representa os produtores rurais, já recebeu mais de 50 ofícios de sindicatos de diferentes regiões detalhando as falhas crônicas de energia. A entidade cobra da Copel providências urgentes e investimentos em infraestrutura para garantir a confiabilidade do fornecimento, considerado um insumo de vida ou morte para a aquicultura.