Por Carly Cassella
Publicado na ScienceAlert
Esta antiga supertempestade foi desencadeada por uma onda de plasma quente e pelo magnetismo do Sol, e é significativamente maior do que qualquer coisa que registramos na história recente. As descobertas deixaram os cientistas preocupados com nossa capacidade de prever quando o Sol vai se descontrolar novamente.
Tempestades solares na Terra ocorrem periodicamente em alguns poucos anos, quando a atividade do Sol está no pico, mas essa antiga supertempestade está em uma escala totalmente diferente e parece ter ocorrido durante uma fase silenciosa do ciclo solar. Nos últimos anos, os cientistas alertaram que estamos totalmente despreparados para uma tempestade solar desse tamanho. Os especialistas ainda não descobriram como prever esses eventos raros, mas desastrosos, e a infraestrutura que construímos hoje é excepcionalmente vulnerável às consequências geomagnéticas.
Se uma dessas supertempestades ocorrer amanhã, poderá impactar satélites e astronautas em órbita, bem como controle de tráfego aéreo, redes elétricas e cabos submarinos, provocando atrasos de viagens, apagões e interrupções globais da Internet que podem durar meses.
Basta considerar o que aconteceu em 1859, quando tínhamos muito menos infraestrutura em jogo. O Evento Carrington foi uma tempestade solar tão severa que derrubou os sistemas de telégrafo na Europa e na América do Norte, ao mesmo tempo em que desencadeou auroras em todo o mundo, da Austrália ao Havaí, da China ao México.
Mas o que aconteceu 9.000 anos atrás poderia ser algo muito maior que esse evento notório. Uma erupção solar ou uma ejeção de massa coronal é o que geralmente desencadeia uma tempestade solar. A última ocorre quando o Sol lança cerca de um bilhão de toneladas de partículas energéticas no espaço e, se a erupção for grande o suficiente, essas partículas podem atingir a atmosfera da Terra em menos de 15 horas.
A reação produz vários nuclídeos radioativos, como carbono-14, berílio-10 e cloro-36.
Traços desses isótopos distintos, congelados no gelo ou presos em sedimentos, podem, portanto, nos ajudar a elucidar a história de eventos solares extremos na Terra, para que possamos entender melhor com que frequência eles ocorrem. Os recentes núcleos de gelo analisados da Groenlândia e da Antártida agora revelaram alguns dos maiores picos de produção de berílio-10 e cloro-36 já detectados no passado distante da Terra.
A evidência sugere fortemente que houve uma tempestade solar extrema cerca de 9.125 anos antes do presente.
“Este é um trabalho analítico demorado e custoso”, disse o geólogo Raimund Muscheler, da Universidade de Lund, na Suécia. “Portanto, ficamos agradavelmente surpresos quando encontramos tal pico, indicando uma tempestade solar gigante até então desconhecida em conexão com a baixa atividade solar”.
A julgar pela proporção de isótopos de cloro-36 para berílio-10, este evento pode até ter sido maior do que a maior tempestade solar registrada até hoje em outros núcleos de gelo e anéis de árvores, datados do ano 774.
Ambas as tempestades antigas foram muito maiores do que qualquer coisa que vimos desde a década de 1950, “implicando assim uma ameaça até agora subestimada à nossa sociedade”, segundo os autores do estudo.
“Essas enormes tempestades não estão suficientemente incluídas nas avaliações de risco”, disse Muscheler. “É de extrema importância analisar o que esses eventos podem significar para a tecnologia de hoje e como podemos nos proteger”.
Caso contrário, o Sol poderia nos pegar totalmente despreparados.
O estudo foi publicado na Nature Communications.
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