Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert
Um documento escrito por um frade milanês, datado de cerca de 1345, contém o que parece ser uma referência à costa atlântica da América do Norte – sugerindo que os marinheiros italianos já conheciam o continente cerca de 150 anos antes de Cristóvão Colombo partir para lá. Intitulada Cronica universalis e de autoria de Galvaneus Flamma, a obra é escrita em latim e atualmente inédita. Nele, Galvaneus tenta detalhar a história de todo o mundo, desde sua criação até o século XIV.
“Estamos na presença da primeira referência ao continente americano, ainda que de forma embrionária, na região do Mediterrâneo”, disse Paolo Chiesa, professor do Departamento de Estudos Literários, Filologia e Linguística da Universidade de Milão.
Galvaneus escreve sobre uma terra chamada Marckalada, a oeste da Groenlândia, que coincide com a região de Marclândia mencionada por várias fontes islandesas. Provavelmente se refere à Labrador ou Terra Nova dos dias modernos.
O pensamento é que o frade ouviu falar de Marckalada ou Marclândia por meio de contatos e informações repassadas de Gênova, na costa italiana ao sul de Milão. Isso levanta a questão de saber exatamente o que Colombo esperava encontrar quando zarpou para o oeste em 1492. Embora o documento seja limitado pelo conhecimento da época – sugere que gigantes vagavam por Marckalada, por exemplo – ele se encaixa em outros relatos dessa região norte-americana, como a Saga dos Groenlandeses, um texto islandês significativo.
“O que torna a passagem [sobre Marckalada] excepcional é sua proveniência geográfica: não a região nórdica, como no caso das outras menções, mas o norte da Itália”, escreve Chiesa no estudo.
“A Marckalada descrita por Galvaneus é ‘rica em árvores’, não muito diferente da Marclândia arborizada da Saga dos Groenlandeses, e animais viviam por lá.” Isso contrasta com as descrições de outras terras do Norte na época, como a Groenlândia que era conhecida por ser “desolada e estéril”, apesar de não haver evidências de que marinheiros italianos se aventuraram lá.
O próprio Colombo nasceu em Gênova, embora tenha embarcado em sua famosa viagem da Espanha, e não é inconcebível que ele tenha aprendido histórias de uma terra norte-americana com os marinheiros que frequentavam o porto.
Gênova era conhecida por ter bons contatos com o norte, como mostra a avançada geografia das cartas ali traçadas na época de Galvaneus, corroborando a ideia de que o frade realmente sabia sobre o que escrevia.
Não parece que os marinheiros italianos ou catalães já haviam desembarcado na Islândia ou na Groenlândia, mas é provável que tenham ouvido histórias dessas partes nas rotas comerciais – mesmo que Marckalada ou Marclândia não fossem conhecidas o suficiente para entrar em qualquer documentos oficiais na mesma época.
“Esses rumores eram muito vagos para encontrar consistência em representações cartográficas ou acadêmicas”, disse Chiesa.
A pesquisa foi publicada na Terrae Incognitae.