Parlamentares e representantes de órgãos ligados à agropecuária pediram rapidez nas providências para compensar os efeitos das geadas em diversas culturas, que incluem crédito a juros baixos e prazos de carência para pagar os empréstimos. A expectativa é que os recursos permitam também o enfrentamento de dois outros problemas que já afetam o setor: o aumento de custos e os prejuízos causados pela estiagem.
Os impactos das geadas que atingiram vários estados do país entre junho e julho foram discutidos nesta quarta-feira (1º) na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. Os dados consolidados sobre as perdas devem ser divulgados durante o mês de setembro, mas já se sabe que houve prejuízos nas lavouras de milho, cana-de-açúcar, hortaliças e frutas, além da pecuária de leite.
O café foi a cultura mais atingida, com efeitos nas safras dos próximos dois anos. Os levantamentos vão mostrar se as áreas plantadas foram afetadas de maneira superficial, pela chamada “geada de capote” ou se os cafezais foram queimados, comprometendo as futuras florações, como explicou o diretor-executivo de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Sergio de Zen.
“O café é uma planta bianual, ou seja, nós tínhamos esse ano uma bianualidade negativa, então para a próxima safra nós esperávamos uma bianualidade positiva e, com isso, nós vamos frustrar um pouco essa previsão de produção”, observou.
Só em Minas Gerais, o maior produtor de café do País, os efeitos das geadas afetaram 170 municípios e cerca de 10 mil propriedades rurais. O diretor-presidente da Emater de Minas, Otávio Maia, destacou alguns dos pedidos que o governo estadual fez à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para minimizar os danos.
“Ampliação do acesso ao crédito aos produtores atingidos pelas geadas, considerando que há produtores que têm dificuldades de acesso ao crédito e não mantêm operações com agentes financeiros por motivos diversos. Liberação de crédito para outras lavouras atuais ou atividades pecuárias, que permitam retorno financeiro rápido para os anos de 2021 e 2022, como soja, milho, feijão, entre outros, possibilitando a diversificação das atividades na propriedade rural”, enumerou.
Recursos do governo
Durante a audiência pública, o diretor de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Silvio Farnese, anunciou que, dos R$ 5, 9 bilhões do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), R$ 1,3 bilhão já está separado para apoiar os produtores rurais atingidos pelas geadas. O Banco do Brasil também destinou crédito de R$ 2 bilhões para a recuperação de cafezais e de outras lavouras prejudicadas pelas baixas temperaturas do inverno.
O coordenador de Produção Agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Maciel da Silva, acrescenta outra dificuldade para equilibrar as contas dos produtores rurais: o aumento de custos como fertilizantes e energia elétrica.
“Além de todos esses eventos climáticos, todos esses impactos em relação à receita, a gente tem visto também uma pressão para o lado do custo, contribuindo também com o estreitamento das margens (de lucro) dos produtores”, observou.
Seguro rural
Assim como outros debatedores, o representante da CNA também apontou a baixa adesão dos agricultores ao seguro rural, que poderia ser um importante apoio financeiro na compensação dos prejuízos causados pelo clima. O deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), um dos parlamentares que propuseram a realização da audiência, defende que os produtores rurais sejam estimulados a mudar essa cultura.
“Não é possível que a gente continue tendo o seguro agrícola como algo ainda eventual. Tem que ser algo que esteja presente no planejamento. É curioso como nós temos, às vezes, um pouco de dificuldade de absorver isso como um investimento necessário e não uma mera despesa”, disse o deputado.
Ele pretende sugerir outra audiência pública para discutir especificamente mecanismos para aumentar a adesão dos produtores ao seguro rural.
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