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Pistas para o colapso de uma civilização maia encontradas em fezes humanas antigas

As fezes humanas podem revelar mais do que você imagina, mesmo quando são muito, muito antigas.

08/07/2021 às 20h30
Por: Redação Fonte: https://universoracionalista.org/pistas-para-o-colapso-de-uma-civilizacao-maia-encontradas-em-fezes-humanas-antigas/
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Pistas para o colapso de uma civilização maia encontradas em fezes humanas antigas

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Em um novo estudo de uma civilização maia da América Central, amostras de fezes antigas mostraram como o tamanho dessa comunidade variava significativamente em resposta às mudanças climáticas contemporâneas. Os pesquisadores identificaram quatro períodos distintos de mudança no tamanho da população como uma reação a períodos particularmente secos ou úmidos, que não foram todos documentados antes: 1350-950 a.C., 400-210 a.C., 90-280 d.C. e 730-900 d.C.

Além disso, as pilhas de fezes achatadas mostram que a cidade de Itzán – que nos dias modernos seria na Guatemala – foi habitada cerca de 650 anos antes do que as evidências arqueológicas sugeriram anteriormente. Isso é muita informação para obter de fezes humanas.

Tradução da imagem: centro populacional (population centre), transformação microbial nos intestinos (microbial transformation in the intestines), colesterol (cholesterol), coprostanol, armazenamento no solo (soil storage), degradação microbial no solo (microbial degradation in the soil), epi-coprostanol, transporte direto (direct transport), rios/escoamento (rivers/runoff), erosão (erosion), lago (lake) e erosão e redeposição de sedimentos do lago (lake sediment erosion & redeposition). (Créditos: Keenan et al., Quaternary Science Reviews, 2021)

“Esta pesquisa deve ajudar os arqueólogos, fornecendo uma nova ferramenta para observar mudanças que podem não ser vistas nas evidências arqueológicas, porque as evidências podem nunca ter existido ou podem ter sido perdidas ou destruídas”, disse o biogeoquímico Benjamin Keenan, da Universidade McGill no Canadá.

“As terras baixas maias não são muito boas para preservar edifícios e outros registros da vida humana por causa do ambiente da floresta tropical.”

Este estudo usa um método relativamente novo de análise baseado em estanóis fecais – moléculas orgânicas em fezes humanas (e animais) que são preservadas em camadas de sedimentos sob lagos e rios, às vezes por milhares de anos. As concentrações desses estanóis ao longo do tempo, marcadas por camadas de sedimentos, podem dar aos pesquisadores pistas sobre mudanças populacionais que podem ser corroboradas por outros registros históricos. Até agora, os estanóis têm se mostrado indicadores precisos de quantas pessoas viviam em um determinado lugar em um determinado momento.

Aqui, os estanóis foram extraídos de um lago próximo ao sítio arqueológico de Itzán e comparados com o que os especialistas já sabem sobre a área nos últimos milhares de anos, com base em descobertas em escavações arqueológicas tradicionais.

Essas descobertas foram então comparadas com dados climáticos históricos, incluindo evidências de precipitação (ou falta dela) e níveis de pólen (indicando cobertura vegetal) deixados no registro geológico. Os pesquisadores encontraram algumas correlações, mas também algumas novas mudanças populacionais nas antigas camadas de restos de fezes.

“É importante para a sociedade em geral saber que houve civilizações antes de nós que foram afetadas e adaptadas às mudanças climáticas”, disse o biogeoquímico Peter Douglas, da Universidade McGill.

“Ao relacionar as evidências de mudanças climáticas e populacionais, podemos começar a ver uma ligação clara entre a precipitação e a capacidade dessas cidades antigas de sustentar sua população.”

A equipe também foi capaz de usar o registro fecal para identificar um aumento populacional na época do ataque de 1697 d.C. pela Espanha ao último reduto maia em uma área vizinha – presumivelmente um movimento de refugiados de guerra, e que os historiadores não documentaram até este ponto.

Também há pontos em que épocas de alta população conhecida em Itzán não correspondem ao volume de estanóis fecais recuperados. Os pesquisadores acham que isso pode ser porque as fezes humanas foram usadas por esta comunidade maia como fertilizante de plantações – uma forma de neutralizar a degradação do solo e a perda de nutrientes em suas terras agrícolas.

E tudo isso pode ser avaliado a partir de restos de fezes deixadas há milhares de anos – mostrando que esse método de análise pode ser uma parte útil do kit de ferramentas dos cientistas quando se trata de rastrear as mudanças populacionais desde os tempos antigos.

“Os estanóis fecais têm um grande potencial para servir como indicadores para as mudanças nas populações humanas e animais nas paisagens mesoamericanas, ao mesmo tempo que fornecem informações sobre as mudanças no uso da terra”, concluem os pesquisadores em seu paper publicado.

A pesquisa foi publicada na Quaternary Science Reviews.

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