O uso de dinheiro vivo em grandes valores para comprar bens e fazer transações não configura uma ação ilegal. Mas, por ser pouco comum, a prática levanta suspeitas devido ao fato desse tipo de transação ser usado como uma forma de encobrir rastros de lavagem de dinheiro .
Após as investigações sobre o esquema de "rachadinha" no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz , outras operações financeiras da família Bolsonaro utilizando dinheiro em espécie foram divulgadas e mostram como os filhos, ex-esposas e pessoas ligadas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) têm utilizado recursos que, somados, totalizam valores milionários.
Confira abaixo algumas das transações recentes em dinheiro vivo realizadas pela família Bolsonaro e pessoas ligadas aos seus membros.
O filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), pagou em dinheiro vivo por um imóvel que custava R$ 150 mil, em 2003 . Em valores corrigidos pelo IPCA, o montante corresponde hoje a R$ 366 mil. A escritura que oficializou a compra do primeiro imóvel de Carlos fica localizado na Rua Itacuruçá, na Tijuca e ainda é uma propriedade do parlamentar.
A escritura de compra e venda do apartamento, obtida pelo Estadão, comprova que o pagamento foi realizado em "moeda corrente do País, contada e achada certa". Quando tentou a reeleição como vereador em 2016, Carlos Bolsonaro declarou que o apartamento valia R$ 205 mil. Em 2020, o parlamentar segue na disputa pelo sexto mandato como vereador do Rio de Janeiro.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pagou um total de R$ 150 mil em espécie durante a compra de dois apartamentos localizados na zona sul do Rio de Janeiro. Os valores foram repassados entre 2011 e 2016 e correspondem a R$ 196,5 mil atualmente.
O montante é correspondente a uma parte do valor total dos empreendimentos. As informações estão nas escrituras públicas dos imóveis, registrados em dois cartórios da cidade, segundo o Globo.
As doações em dinheiro em espécie para as campanhas eleitorais não são proibidas, mas seguem regras que determinam um teto para esse valor. A resolução 23.607, de 17 de dezembro de 2019 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proíbe doações em dinheiro vivo superiores a R$ 1.606,10.
Assim, o valor de R$ 10 mil doado de Jair Bolsonaro para financiar a campanha deste ano de Carlos Bolsonaro havia contrariado a lei. O depósito em dinheiro constava na declaração de receita, feita pelo próprio Carlos.
Em sua defesa, o vereador do Rio de Janeiro compartilhou em sua conta oficial do Twitter que o valor foi devolvido ao pai e que a doação teria sido um "equívoco". "O recurso, de origem LÍCITA, então foi devolvido e transferido como esclarece a regra", declarou.
A declaração de Imposto de Renda do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) do ano de 2010 mostra que foi realizada uma doação em espécie no valor de R$ 733 mil para Rogéria Nantes Bolsonaro , mãe dele. A quantia representa cerca de R$ 1,3 milhão em valores corrigidos para os dias de hoje.
O levantamento foi realizado pelo jornal O Globo e mostrou que no mesmo ano, o patrimônio de Flávio Bolsonaro havia sido reduzido em 30% e que ele possuía uma dívida de R$ 285 mil com dois assessores que trabalharam com Jair Bolsonaro na época em que ele era deputado. Flávio chegou a negar irregularidades e alegou que estava impedido de comentar questões sobre sua vida financeira.
Os R$ 733 mil são referentes a quatro vezes o salário de Flávio no ano de 2010, que somaram R$ 173 mil. Ainda em 2010, Flávio declarou a venda de um conjunto de salas comerciais por R$ 854 mil, envolvendo dinheiro em espécie. As transações imobiliárias estão na mira do Ministério Público do Rio de Janeiro, sob suspeita de lavagem de dinheiro.
O funcionário fantasma de Flávio Bolsonaro, na época em que o parlamentar era deputado na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) pagou R$ 38 mil em dinheiro vivo por um terreno que estava sendo vendido por Jair Bolsonaro e a segunda ex-esposa Ana Cristina Siqueira Vale. O valor corresponde a R$ 71 mil nos dias de hoje.
Guilherme dos Santos Hudson foi identificado pelo Ministério Público do Rio como funcionário fantasma. Ele é casado com Ana Maria Siqueira Hudson, tia de Ana Cristina, e fez um saque de R$ 15 mil, equivalente a 74% dos valores recebidos enquanto trabalhava para Flávio Bolsonaro.
A operação financeira reforçou a teoria do MP-Rio sobre repasses de salário, conhecidos como "rachadinha". Ana Maria também fez um saque de R$ 430 mil, referente a 43% de tudo o que recebeu como servidora do gabinete de Flávio Bolsonaro.
A mãe de Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro pagou R$ 95 mil em dinheiro vivo, à vista, por um apartamento. A compra foi feita em 1992 e em valores corrigidos o montante representa R$ 621 mil. Rogéria Bolsonaro era casada com o presidente Jair Bolsonaro em um regime de comunhão parcial de bens.
A revelação mais recente de transações bancárias da família Bolsonaro aponta para o recebimento de R$ 7,5 milhões doados para o programa de Michelle Bolsonaro , atual esposa do presidente. Os valores haviam sido inicialmente doados pela empresa frigorífica Marfrig ao Ministério da Saúde para comprar 100 mil testes da Covid-19 .
O dinheiro desviado corresponderia a 70% do total arrecadado pelo programa Pátria Voluntária, que tem a primeira-dama como coordenadora. As informações foram levantadas pela Folha de São Paulo.