Cenários incríveis, variedade de povos e costumes, infraestrutura e mão de obra especializadas, empenho do poder público e muitas histórias para contar. Esse conjunto de trunfos tem feito o Paraná ganhar ainda mais espaço e peso no mercado audiovisual nacional, seja atraindo grandes produções, seja dando vida a obras nascidas aqui mesmo. Nas telinhas e telonas, as paisagens paranaenses estão em alta.
A natureza litorânea da Ilha do Mel , por exemplo, serve de palco para pelo menos duas produções. “Alice Júnior 2 - Férias de Verão” foi gravado no final de 2024, aproveitando as belezas e a tranquilidade de um dos cartões postais mais icônicos do Litoral do Estado. E, neste início de ano, as câmeras, microfones e claquetes retornaram ao local para tirar do papel “A Lenda do Tesouro do Padre Sem Cabeça da Ilha do Mel”, que também tem cenas em Paranaguá e Curitiba. A diretora da obra é a curitibana Solange Pizatto.
Nos últimos meses outro cenário paradisíaco começou a transição para as telinhas: uma equipe de filmagem tomou conta das Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, para as gravações das cenas iniciais da nova versão da novela “Vale Tudo”, da Rede Globo, com participação de Taís Araújo, Cauã Raymond, Paolla Oliveira, Alice Wegmann, Debora Bloch e outros artistas de renome nacional. A Odete Roitman de 2025 terá um pé no Paraná. Para se ter uma ideia do volume de gente envolvida, esse núcleo de trabalho mobilizou cerca de 130 pessoas por dia nos sets.
O Interior do Estado proporcionou ainda ambientação para outras produções de grande porte. Em Londrina, o filme “Assalto à Brasileira”, com Murilo Benício, não só coloca a cidade nos holofotes, como também retrata uma passagem real da história da região – o roubo a uma agência do Banestado em 1987, quando mais de dez reféns ficaram sob poder dos bandidos.
O Norte Pé Vermelho também se fará presente nas telas com o ficcional “Rumor”, rodado em Cambará, Jacarezinho e Ribeirão Claro. A obra é da produtora Sambaqui Cultural, com direção de Joana Nin e roteiro de Alana Rodrigues e Helena Schoenau.
E a Capital certamente não ficaria de fora desse boom, depois do sucesso de "Deserto Particular", de Aly Muritiba, e "Estômago", de Marcos Jorge. Agora Curitiba rendeu cenários para o longa “Doutor Monstro”, da Zencrane Filmes, com direção de Marcos Jorge e participação de Taís Araújo e Guilherme Weber. O filme, com lançamento previsto para 2025, é baseado na história real do cirurgião plástico paulista Farah Jorge Farah, que em 2003 matou e esquartejou uma de suas pacientes.
Todas essas obras, espalhadas pelo território paranaense, são exemplos de como o mercado audiovisual está ativo no Paraná de modo amplo, não se restringindo a apenas uma região ou cidade.
“Vemos esse cenário de forma muito positiva, mas não nos causa surpresa. Nos últimos anos, investimos muito em formação profissional, o que permite que produções paranaenses e de fora do estado tenham tudo o que precisam para trabalhar. Além disso, temos a PrFilm Commission, que dá todo o suporte do Estado”, afirma Luciana Casagrande Pereira, secretária de Estado da Cultura do Paraná.
“Esses elementos, formação técnica qualificada e apoio institucional, junto do aporte direto de recursos nas produções, vindos da Lei Paulo Gustavo, e dos vários cursos de cinema e audiovisual do Estado, fazem com que seja natural que o Paraná se torne um grande polo cinematográfico”, explica.
Para Luciana Casagrande Pereira, o mercado do audiovisual tem dois pontos que são bastante relevantes para a região em que atuam. “O mercado audiovisual tem características que importam muito para a economia paranaense. Os postos de trabalho são muito especializados e as equipes trabalham de forma muito horizontalizada. Essas características beneficiam o ecossistema econômico, gerando uma série de empregos diretos e indiretos”, enfatiza a secretária.
“Ao mesmo tempo há o valor simbólico. É importante que o paranaense ouça o próprio sotaque na tela. Veja a si mesmo. Reforça o sentimento de pertencimento. Nos torna mais unidos. Esse é um valor que não pode ser quantificado, e talvez por isso seja ainda mais importante”, conclui.
PRFILM COMMISSION– Luiz Gustavo Vilela, secretário-executivo da PrFilm Commission, política pública vinculada à Secretaria da Cultura que tem a missão de atrair e facilitar as atividades do trabalho audiovisual, reforça o sentimento de que esse aquecimento do setor é fruto de muito trabalho. “O Paraná sempre esteve no radar das produções cinematográficas. A gente tem uma variabilidade étnica e de cenários muito grande, sempre tivemos muitos profissionais qualificados, mas, principalmente, a gente tem contexto de produção”, diz.
De acordo com ele, antes dessa aproximação com o mundo cinematográfico, as equipes de marketing de outros estados já tinham o Paraná como referência na produção audiovisual. “Ao longo dos últimos anos, em grande parte por causa das faculdades de audiovisual – uma delas inclusive é estadual, a Unespar, que tem a faculdade de cinema –, a gente vê uma profissionalização do setor. Essa profissionalização leva a filmes cada vez mais bem produzidos, atração de recursos. É muito contexto de produção”, acrescenta.
Segundo ele, desde que a PrFilm Commission foi criada, em 2023, a estimativa é que mais de 100 obras tenham passado por ela. São filmes de longa metragem, curtas estudantis, documentários, videoclipes, novelas, entre outras produções. Alguns materiais exigem maior envolvimento direto, outros apenas demandam alguma troca de informações, como contatos ou indicações.
“A gente atua nesse trabalho de apoio econômico, em toda a cadeia produtiva. Se o cara vai filmar lá em Cambará, é a gente que entra em contato com a prefeitura, fala que é hotel cheio, que os restaurantes vão consumir mais, que isso é muito importante para agitar a economia”, conta Vilela.
“Um filme, um longa, é uma operação de guerra. Vão ser 300 profissionais que vão se deslocar, lotar hotéis, contratar restaurantes, motoristas, alugar casas para usar de cenário, vão contratar cenógrafos, costureiros, roupistas, iluminadores. Muitos desses trabalhos são hiperespecializados. Gira a cadeia produtiva”, complementa.
De acordo com Luiz Gustavo Vilela, estudos feitos no Rio de Janeiro e em São Paulo sugerem que para cada real investido pelo Estado para atrair essas produções cinematográficas, o retorno em impostos representa em média R$ 7 a R$ 10, respectivamente. Financeiramente, é uma aposta com potencial de resultados. “Claro que o retorno financeiro vai depender muito de como cada cadeia está estruturada, mas existe um claro benefício econômico. Além disso, há a construção de uma identidade cultural paranaense”, relata.
“Ter a possibilidade de ver sua casa, as paisagens da sua vida, na tela grande. Ver a si mesmo enquanto construção simbólica. Isso é muito poderoso”, diz Luiz Gustavo Vilela.
E essa onda é grande. Um dos principais nomes do cinema mundial, o cineasta americano Francis Ford Coppola, recebeu em 2024 a comenda da Ordem Estadual do Pinheiro , a mais alta honraria do Estado, por conta de "Megalópolis", cujo enredo teve a capital paranaense como uma de suas inspirações. Ele retornou à capital paranaense 21 anos depois da temporada de três semanas que passou em Curitiba 2003. A estadia naquela época foi justamente para buscar inspirações para a cidade utópica que seria retratada no filme.
OSCAR 2025 – Para além do cenário, atores e personagens dos bastidores estão em alta no Paraná. No próximo domingo (2) o Brasil vai acompanhar o Oscar para ver se “Ainda Estou Aqui” ganha a estatueta de Melhor Filme Internacional. O filme, dirigido por Walter Salles, retrata o desaparecimento de Rubens Paiva e o drama da família. O roteiro foi adaptado pelos curitibanos Murilo Hauser e Heitor Lorega e o elenco conta com os atores curitibanos Marjorie Estiano, Lourinelson Vladmir e Otávio Linhares.
E não foram apenas atores e atrizes conectados ao Paraná que fizeram diferença no longa. Um laboratório fotográfico de Curitiba, o Lab:Lab Análogico, teve importante contribuição com a produção, realizando um procedimento técnico bastante específico. A equipe do laboratório especializado em fotografia analógica foi incumbida de transformar arquivos digitais em películas físicas, criando slides fotográficos que endossam a construção narrativa do filme.