Dados oficiais mostram que o Brasil vem sofrendo um rápido processo de desindustrialização nas últimas décadas. Há tempos, vozes influentes no setor industrial e no meio político defendem a criação de um projeto estratégico voltado ao segmento, sem sucesso. O setor encolheu em um milhão de vagas na última década, vendo o fechamento de 9,5 mil empresas, segundo dados do IBGE.
A Pesquisa Mensal da Indústria (PMI) por estado, do mesmo IBGE, apontou que, até outubro de 2022, a Indústria cresceu 0,28% no geral, com alta em 6 estados e queda em 8. A maior alta foi o Pará, com +5,2% e a maior queda o Ceará, com -13,7%. Em 10 anos, houve queda de 16,05% no país. A maior alta foi Pará, com 25,9% e a maior queda foi Espírito Santo, com 51,1%.
No governo passado, chegou-se ao ponto de extinguir o ministério da área, mas a conjuntura mudou. "Estamos vendo uma janela de oportunidades, que não pode ser perdida", afirma José Roberto Colnaghi, presidente do Conselho da Asperbras, que atua em diversos setores da indústria e do agronegócio. "Chegou a hora de o Brasil investir seriamente na indústria", afirma o empresário.
Colnaghi cita justamente a recriação do Ministério do Desenvolvimento Indústria Comércio e Serviços (MDIC) e o rearranjo nas cadeias globais de produção, que foram rompidas na pandemia de Covid-19. Naquele momento, ficou claro para os principais detentores da riqueza mundial que manter todas as fábricas do outro lado do mundo representava um risco para o negócio. Desde então, tem ganhado peso na agenda norte-americana e europeia um processo de aproximação - ou mesmo internalização - das cadeias produtivas. Com sua localização estratégica, o Brasil desponta como uma opção e pode atrair bons investimentos industriais.
José Roberto Colnaghi destaca que o setor industrial chegou a representar cerca de 22% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional na década de 1980, e hoje detém uma fatia em torno de 12%, mesmo percentual da década de 1950. Em comparação, entre 1980 e 2020, a indústria dos Estados Unidos dobrou de tamanho. A do mundo ficou três vezes maior; a da China cresceu 47 vezes.
"Os países que se tornaram desenvolvidos conseguiram ascender com a força da indústria, por isso é preciso recuperar o protagonismo da indústria de transformação", diz José Roberto Colnaghi, ressaltando que o Brasil viveu um processo de desindustrialização precoce, antes de se tornar uma nação de renda alta. Hoje, o setor predominante na economia é o de serviços. Nos Estados Unidos e na Europa, este segmento também responde pela maior parte do PIB, mas esses países tornaram-se ricos antes do pêndulo econômico mudar da indústria para os serviços.
No Brasil, porém, apesar da redução do peso da indústria na economia brasileira, ela responde por 30% da arrecadação de impostos. Também aporta 69% de todo o investimento de pesquisa e desenvolvimento, sendo a mais inovadora, e tende a oferecer empregos com salários 10% acima da média dos demais segmentos.
Por isso, um dos pontos-chave, que é uma condição estrutural, para a indústria retomar sua força é a realização de uma Reforma Tributária que traga isonomia entre os setores e simplifique a cobrança de impostos. A adoção de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que une os impostos federais, estadual e municipal (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) num único tributo, de preferência com uma única alíquota, seria um passo importante para dar racionalidade ao sistema.
"O Brasil necessita de um projeto de reindustrialização que passe pela redução do custo-Brasil e pela melhoria do ambiente de negócios no país. Daí a importância da reforma tributária", diz José Roberto Colnaghi. Segundo ele, uma política industrial contemporânea passa necessariamente pela sustentabilidade. "Este é o ponto de partida, o Brasil tem de apostar na descarbonização da economia, com redução da emissão de gases de efeito estufa, do apoio a uma economia de baixo carbono, privilegiando tecnologias limpas e dando início a um processo produtivo seguro e sustentável" completa Colnaghi.
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