A Nigéria, país mais populoso da África e maior economia do continente, realizou neste sábado (25/02) as eleições que definirão o novo Parlamento assim como o sucessor do atual presidente do país, Muhammadu Buhari, que está no poder desde 2015.
Buhari deixará o cargo após encerrar seu segundo mandato consecutivo de quatro anos permitido pela Constituição.
O dia das eleições foi marcado pela ausência de incidentes graves, embora tenha havido alguns atrasos na abertura dos locais de votação.
"Esses atrasos não deveriam ter acontecido. No entanto, vou esperar e exercer minha responsabilidade cívica. Tenho 79 anos e ainda sonho em ter um país melhor", disse à agência de notícias EFE o nigeriano Tunde Adebagun, enquanto aguardava a abertura de seu centro de votação, na área de Ajegunle, em Lagos.
"Para minha surpresa, os mesários não chegaram até agora", acrescentou.
A situação foi diferente na área de Lekki, também na cidade de Lagos, onde as urnas foram abertas pontualmente, mesmo com a presença de poucos eleitores.
"Esperamos que as pessoas comecem a vir logo", afirmou Adebimpe Salami, funcionário da Comissão Eleitoral Nacional Independente (INEC).
Segundo a INEC, quase 93,5 milhões de pessoas se registraram para votar neste sábado em mais de 176.800 locais de votação em todo o país.
Em um país onde a idade média é de 18 anos, muitos eleitores nigerianos participam das eleições pela primeira vez. É o caso de Fola Adeosun, que exercerá seu direito com muito entusiasmo.
"Este é o meu momento. A Nigéria merece o melhor e farei de tudo para fazer parte daqueles que trazem a mudança", destacou o jovem.
As eleições se apresentam como as mais acirradas desde o fim da ditadura militar e a restauração da democracia, em 1999.
No total, 18 candidatos concorrem pela presidência, mas as pesquisas indicam que apenas três têm chances reais de vencer: o muçulmano Bola Tinubu, de 70 anos, candidato do governista Congresso de Todos os Progressistas (APC); Atiku Abubakar, de 76 anos, do Partido Democrático dos Povos (PDP), principal legenda de oposição; e o cristão Peter Obi, de 61 anos, do Partido Trabalhista, que está liderando em algumas pesquisas.
Tinubu e Abubakar, 76, tem bases bastante fortes em toda a Nigéria e são vistos como políticos tradicionais que tentaram mobilizar eleitores baseados em grande organização e vultosas quantias de dinheiro.
Já Obi é visto como um reformista que anseia modificar o sistema político nigeriano. O ex-empresário conduziu uma campanha baseada nas mídias sociais, no boca-a-boca e na energia dos seus militantes, em grande parte jovens. Mais de 80% dos 10 milhões de novos eleitores que se registraram para a próxima votação têm menos de 34 anos.
Embora pesquisas recentes indiquem que Obi tem entre 10% e 40% de vantagem sobre seus rivais, muitos especialistas alertam que a vantagem pode se diluir se o comparecimento for baixo, o que significa uma provável vitória para o candidato governista.
Embora a disputa pareça acirrada, a lei eleitoral nigeriana torna improvável um segundo turno, já que o candidato vencedor precisa apenas de maioria simples, desde que obtenha 25% dos votos em pelo menos dois terços dos 36 estados.
Para garantir a segurança das eleições, a polícia nigeriana mobilizou mais de 301.900 agentes de segurança em todo o país.
Além disso, o país anunciou o fechamento de todas as suas fronteiras terrestres desde a meia-noite de ontem e até domingo.
A Nigéria está sofrendo de múltiplas crises, incluindo turbulência econômica, extremismo e criminalidade que afetam grande parte do país. Nas últimas semanas, um esforço para substituir quase todas as notas bancárias da Nigéria – em parte para reduzir a prática generalizada de compra de votos – causou uma grande perturbação econômica e muita raiva popular.
O vencedor dessas eleições herdará uma nação assolada por uma crescente insegurança em algumas partes do território, com constantes ataques de gangues criminosas que sequestram civis para obter resgates lucrativos, além de grupos jihadistas e rebeldes pró-independência.
Terá ainda de enfrentar a desvalorização da moeda local (naira), a inflação galopante e o elevado desemprego, apesar de a Nigéria se destacar como o maior produtor de petróleo da África.