Sábado, 20 de Abril de 2024
13°

Tempo limpo

Nova Cantu, PR

Brasil Arthur Lira

Arthur Lira impõe sigilo sobre reuniões em seu gabinete na Câmara

Parecer de advogado da Casa diz que informar relação de visitantes pode comprometer segurança da instituição; reforma criou ‘entrada secreta’

14/08/2022 às 14h32
Por: Redação Fonte: IG
Compartilhe:
Paulo Sergio/Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados
Paulo Sergio/Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados

Com um dos cargos mais importantes da República, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) , mantém em sigilo a informação de quem entra e quem sai de seu gabinete. Amparado por um parecer produzido pela própria advocacia da Casa no ano passado, já sob sua gestão, o deputado tem se recusado a divulgar os encontros que mantém no local de trabalho, o que contraria recomendação da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre a necessidade de transparência nos registros de visitas a prédios públicos.

Desde o mês passado, o GLOBO solicita, via Lei de Acesso à Informação (LAI), a relação de pessoas com quem Lira se reuniu em seu gabinete entre os dias 15 de junho e 15 de julho, período em que o Congresso votou uma série de medidas de interesse do governo de Jair Bolsonaro, entre elas a Proposta de Emenda à Constitucional que promoveu um drible na lei eleitoral para pagar benefícios às vésperas da campanha.

A Câmara, porém, tem negado os pedidos sob o argumento de que fornecer tais informações “compromete a segurança” da Casa.

“Havendo fundado receio de dano potencial à segurança das instalações, rotinas de segurança para acesso às autoridades, disposição dos policias no interior da edificação, como apontado pelo órgão responsável técnico, é prudente se recomendar, a não divulgação do referido banco de dados”, afirma o parecer citado para embasar a negativa. O documento, de 14 páginas, foi assinado pelo advogado da Câmara, Jules Michelet Pereira Queiroz e Silva, em 9 de abril de 2021, apenas dois meses após Lira assumir o comando da Casa.

Em outro trecho, o advogado utiliza como argumento restrições impostas pela Lei Geral da Proteção de Dados Pessoais (LGPD), sob o pretexto de que os dados poderiam municiar eventual envio de propaganda a quem visita a Câmara.

“Imagine-se uma determinada instituição enviando propaganda comercial ou política a todos aqueles que se dirigiram a um partido com tendências X ou Y. Isso é tudo o que a LGPD tenta evitar, ou pelo menos tenta que seja dado o consentimento para ser feito dessa maneira”, diz.

Questionado sobre a divulgação de quem recebe em seu gabinete, Lira afirmou, por meio de nota, não ter “ingerência sobre as decisões administrativas da Casa, que tem autonomia institucional [...] Principalmente quando as mesmas são tomadas com previsão na lei”.

Responsável por implementar medidas de combate à corrupção e em favor da transparência no governo federal, a CGU estabelece que os órgãos públicos devem dar publicidade aos registros de entrada e saída de pessoas de suas dependências. O entendimento, firmado num parecer elaborado em maio de 2021, não atinge a Câmara, por envolver apenas o Poder Executivo, mas na avaliação de especialistas tem efeito pedagógico a outros Poderes.

 

 

Foi com base na resolução da CGU, por exemplo, que o Palácio do Planalto precisou divulgar em abril deste ano as visitas realizadas pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, pivôs de um escândalo no Ministério da Educação . Em um primeiro momento, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) chegou a impor sigilo sobre os registros, mas recuou diante da possibilidade de contrariar a norma.

Mudança de gabinete

 

Na gestão de Lira a Câmara também promoveu uma reforma para mudar o gabinete da presidência de lugar. Se antes o chefe da Casa legislativa e todos seus visitantes precisavam cruzar o Salão Verde — área próxima ao plenário e por onde passam jornalistas, deputados e demais servidores — para ter acesso à sala, agora podem percorrer um caminho alternativo, utilizando um elevador privativo para entrar e sair do prédio, longe dos olhares do público.

Apesar de não fornecer as informações, a Câmara registra nome, documentos e profissão de visitantes, além de para qual gabinete se dirigem. Quem acessa a sala de Lira também costuma ter os dados anotados. No dia 29 de junho, por exemplo, o deputado Luis Miranda (Republicanos-DF) esteve no local. O GLOBO presenciou o momento em que a secretária do presidente da Casa anotou o nome e o assunto que ele iria tratar: o rol taxativo da Agência Nacional de Saúde (ANS).

O encontro é um dos que estão cobertos pelo sigilo imposto pela Câmara, sob alegação de segurança. A falta de transparência inclui ainda prefeitos e parlamentares que Lira recebe em seu gabinete para tratar de assuntos como a liberação de emendas. Esse tipo de informação é diferente daquelas que constam da agenda oficial do presidente da Casa, pois tratam da identificação feita nas portarias do prédio e na entrada do gabinete.

Além de negar dados de quem esteve no local de trabalho, a Câmara também impôs sigilo aos encontros que Lira mantém na residência oficial, onde costuma promover reuniões políticas. Neste caso, o argumento utilizado foi de que divulgar a relação de visitantes “tangencia a privacidade, a intimidade e a segurança (não só do presidente da Câmara como, no caso, de seus familiares)”.

Autor do livro “Lei de Acesso à Informação: Reforço ao Controle Democrático”, Fabiano Angélico afirma que a imposição de sigilo sobre encontros do presidente da Câmara é inconstitucional e fere o princípio da própria LAI, aprovada há mais de 10 anos pelo Congresso.

"Essa argumentação de que vai afetar segurança não para de pé. De que maneira a informação sobre encontro com algum empresário vai colocar em risco a segurança do Lira? É uma justificativa risível", afirma ele.

 

A gerente de projetos da Transparência Brasil, Marina Atoji, qualifica como “absurdo e inconstitucional” a imposição de sigilo sobre os encontros no gabinete, mas faz a ressalva que, no caso da residência oficial, o critério pode ser diferente.

"Quanto ao gabinete, é um completo absurdo. Não há nenhuma justificativa para negar. O gabinete é um espaço público, que abriga representantes da população. Com relação à residência oficial, até um certo ponto tem a questão da privacidade, pois é onde o presidente da Câmara mora. Mas não significa a negativa completa das informações", conclui Atoji.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
Nova Cantu, PR Atualizado às 08h05 - Fonte: ClimaTempo
13°
Tempo limpo

Mín. 10° Máx. 24°

Dom 26°C 12°C
Seg 28°C 15°C
Ter 28°C 17°C
Qua 27°C 19°C
Qui 28°C 19°C
Horóscopo
Áries
Touro
Gêmeos
Câncer
Leão
Virgem
Libra
Escorpião
Sagitário
Capricórnio
Aquário
Peixes
Ele1 - Criar site de notícias