As últimas semanas tem sido movimentadas na música sertaneja. Após declarações de Zé Neto contra Anitta, dizendo ainda que não precisava da Lei Rouanet, o cantor desencadeou uma verdadeira avalanche de críticas que levaram até a denúncias e investigações, não só para ele, mas para outros colegas de profissão, como Gusttavo Lima, que foi duramente afetado e teve um show de R$ 1,2 milhão cancelado devido às polêmicas.
Além das discussões sobre o assunto na internet, que são incessantes desde o primeiro ataque de Zé Neto, as declarações do sertanejo acabaram levantando uma grande discussão sobre o uso de dinheiro público para financiar shows, sobretudo sertanejos, que hoje tem os maiores cachês do mercado. Ainda, de acordo com o colunista Fefito, a atitude de Zé Neto desencadeou uma crise entre os colegas do sertanejo.
Segundo o colunista, Zé Neto vai precisar “rebolar muito” para sair dessa situação que criou com os sertanejos, já que sua atitude levou uma verdadeira investigação sobre cachês, sobretudo do Gusttavo Lima. Ao que parece, a maioria dos cantores e empresários do gênero não estão aliviando o parceiro de Cristiano, criticando fortemente por “abrir a boca”.
O grande medo na classe sertaneja é de que começa uma verdadeira “caça às bruxas”, já que o Ministério Público não está poupando esforços para investigar as contratações milionárias, que na maioria das vezes não tem licitação e serve para o desvio de verbas públicas destinadas à saúde e educação.
Inclusive, muito se fala na internet sobre uma CPI do sertanejo. O termo chegou a figurar entre os assuntos mais comentados do Twitter na última semana, onde usuários pediram investigações aprofundadas sobre o tema e expuseram vários artistas que estão envolvidos nesses esquemas de contratação.
Recentemente, Zé Neto usou um pedaço do seu show em Sorriso (MT) para atacar Anitta e a Lei Rouanet, que incentiva a realização de projetos e ações culturais: “Sorriso, Mato Grosso, um dos Estados que sustentou o Brasil durante a pandemia”, diz o cantor no vídeo. “Nós somos artistas que não dependemos de Lei Rouanet, o nosso cachê quem paga é povo, a gente não precisa fazer tatuagem no ‘toba’ pra mostrar se a gente tá bem ou não, a gente vem simplesmente aqui e canta. E o Brasil inteiro canta com a gente… Olha aqui, oh, será que tá ruim?” discursou o sertanejo durante sua apresentação.
Apesar de tal declaração emblemática, muito clássica entre apoiadores do Presidente Jair Bolsonaro, as coisas não acontecem exatamente da como a forma que Zé Neto declarou no show. Quem nos mostrou isso foi o jornalista Demétrio Vecchioli, que chamou minha atenção ao denunciar em seu perfil do Twitter os valores altíssimos que Zé Neto e Cristiano recebem de verba pública.
Mas pera aí, isso não vai contra o que o cantor sertanejo pregou em seu show? Exatamente, se você, meu leitor, pensou isso, está correto. A partir do momento que Zé Neto e Cristiano e qualquer outro cantor critica a Lei Rouanet, mas recebe seu ‘humilde cachê milionário‘ de dinheiros de prefeituras ou público, seja de qualquer proveniência, está em contradição, pois a lei literalmente incentiva tais recursos para a cultura.
Após essa breve explicação sobre a lei, vamos aos fatos apresentados por Demétrio. Em uma thread no Twitter, o jornalista expôs vários comprovantes que provam uma série de cachês altíssimos financiados por dinheiro público. Ah, e ainda não acabou: ele ainda expôs que nenhum show tem a devida licitação.
Nos prints postados por Demétrio, destaca-se a informação do show de Sorriso (MS), esse mesmo show realizado na última semana por Zé Neto e Cristiano que serviu de palco para a polêmica. E você acredita que tal apresentação foi financiado pela prefeitura e custou nada menos que R$ 400 mil?
“Zé Neto e Cristiano atacam quem capta recursos da Lei Rouanet, federal. Mas eles vivem de receber muito dinheiro de prefeituras pequenas, sempre sem licitação. Alguns exemplos no fio”, escreveu o jornalista na publicação que expõe os valores a seguir:
A quantia recebida no total foi de cerca de R$ 3 milhões. Como um bom jornalista, Demétrio também explicou o motivo da contratação e reclamação de Zé Neto e Cristiano ser contraditória: “Eles são contratados por inexibilidade. A prefeitura fala: quero contratar a dupla tal. A dupla diz: tem que pagar pra empresa tal, o valor é esse. E a prefeitura vai lá e paga o valor pedido (justo ou não) pra empresa indicada”, começou.
“Na Rouanet o artista pede dinheiro tipo pra montar um álbum. No projeto, ele coloca quanto custa a hora do técnico de som, o aluguel do estúdio, o fotógrafo… apresenta três orçamentos. O governo aprova o valor, e autoriza a pedir doações pras empresas, que descontam no Imposto de Renda”.