O desejo de ver um país diferente, mais inclusivo, é o que move um grupo de mulheres americanas reunidas no coletivo We, Women. Criado logo após a ascenção de Donald Trump ao poder, o coletivo usa imagens para tratar de questões que afetam as mulheres na América.
Os projetos nasceram de uma frustração mútua com as profundas divisões políticas que ocorreram nos Estados Unidos nos últimos anos. E retratam questões cruciais como imigração, educação, mudança climática, raça, maternidade e família, controle de armas, saúde, religião, reforma da justiça criminal, gentrificação e agressão sexual.
Uma seleção de trabalhos do coletivo está em exposição em Nova York até o dia 12 de setembro. A mostra”The Power of We” (O poder do “nós”, em tradução livre) segue depois para outras cidades americanas.
Conheça alguns dos trabalhos:
O projeto “Up for Air” convida pessoas espiritualizadas e não espiritualizadas a navegar na narrativa de como corpos negros de pessoas com diferentes identidades sexuais transitam nos espaços religiosos. Nas igrejas negras, a ‘queerness’ está presente, mas raramente é abordada ou mencionada, pois é considerada uma ameaça tanto à masculinidade quanto à feminilidade.
Em 1973, após a aprovação do Title IX (lei federal de direitos civis que proíbe a discriminação com base no sexo nas escolas) , Mary Dixon Teamer fundou o time Lady Bleu Devils, na Dillard University em Nova Orleans. Quase 50 anos depois, a neta de Mary, Ashley Teamer, junto com Annie Flanagan, documentaram a equipe atual.
Por meio de uma série de outdoors em Nova Orleans exibidos este ano, o projeto inseriu as mulheres negras na paisagem da cidade, destacando a importância do trabalho em equipe e as complexidades de cada jogador em sua busca da excelência atlética e acadêmica em uma universidade historicamente negra.
Dear Newtok é um projeto de aconselhamento audiovisual produzido por residentes do Delta de Yukon-Kuskokwim, no sudoeste do Alasca, uma das primeiras regiões dos Estados Unidos a experimentar relocação forçada devido à crise climática.
Uma das etapas do projeto retrata enfoca a aldeia Yup’ik de Newtok, onde a linha costeira está se desgastando rapidamente devido ao aquecimento global. A comunidade está se mudando para o vilarejo recém-construído de Mertarvik, a 14,5 km de distância.
Usando palavras e imagens, o Dear Newtok oferece conselhos e idéias sobre como se adaptar a um mundo em mudança.
Na foto, Drake Charles e Jeffrey Charles Jr. pescam ao longo das margens do Baird Inlet em Mertarvik, Alasca, em 15 de julho de 2020.
Em “The Workers Studio” Sol Aramendi documentou o cotidiano de membros da comunidade imigrante em Nova York.
Embora os imigrantes desempenhem funções essenciais para o crescimento da economia, eles foram afetados de forma desproporcional pela pandemia da Covid-19. Para lidar com o impacto, as mulheres criaram sistemas alternativos de ajuda mútua nas comunidades.
“Espaços de Detenção” é um projeto colaborativo que examina como a infraestrutura e a arquitetura em quatro centros de detenção no interior do estado de Nova Jersey moldam as interações sociais e afetam o bem-estar e a saúde mental dos migrantes. Por meio da coleta de narrativas autobiográficas, os migrantes detidos nessas prisões relatam suas experiências em forma de desenhos, escritos e colagens de fotos.
Esta colagem foi criada usando narrativas de migrantes sobre sua jornada de migração e experiência nos centros de detenção.
“Welcome to Intipuc City” é um projeto multimídia colaborativo de autoria de Jessica Avalos, Anita Pouchard Serra e Koral Carballo, que usa imagens e palavras para reconfigurar as imagens da migração salvadorenha para Washington D.C., Maryland e Virgínia. O objetivo é mudar a imagem dos migrantes centro-americanos estigmatizados pelo discurso de ódio e mostrar a complexidade das identidades transnacionais por meio de suas histórias de vida.
O projeto inclui instalações em empresas salvadorenhas nos EUA para homenagear o orgulho das pessoas de serem migrantes.
Na foto, mulheres lêem uma revista ‘Welcome to Intipuc City’ no salão de beleza Golden Scissors, em Washington D.C., durante uma exposição comunitária no início de 2020.
“Eles também sofrem. Por tudo que fiz no passado, eles sofrem agora. Meu passado está me assombrando”, disse Keshena de Tacoma. Ela é mãe de dois adolescentes. O filho mais velho está a caminho da prisão. Seu marido também está cumprindo pena, assim como seu padrasto. Devido a várias condenações por falsificação, que incluíram 4 anos e meio de prisão, Keshena agora deve aproximadamente US$ 50 mil em obrigações financeiras legais.
Uma lei dos EUA aprovada em 1934 determina que os indivíduos devem ter uma determinada fração de sangue indígena, ou quantum de sangue, para se inscrever como um membro tribal.
No projeto Reservation Mathematics: Navigating Love in Native America, a fotojornalista Tailyr Irvine entrevistou indígenas em Missoula e e na Reserva Indígena Flathead, no oeste do estado de Montana.
Eles compartilham suas preocupações pessoais, sociais e políticas sobre o sistema quântico do sangue, que impacta decisões pessoais dos nativos americanos – incluindo com quem eles têm filhos. Por meio de sete histórias, Irvine mostra como os requisitos quânticos de sangue estão cada vez mais pressionando a vida dessas comunidades.
Na foto, uma imagem da carteira de identidade tribal de Prairie Cocowee Antoine, que é 145/256 Salish e Kootenai. Prairie tem sangue Salish e Kootenai suficiente para que seus futuros filhos atendam ao requisito quântico mínimo de 1/4 de sangue, independentemente de seu futuro parceiro.
O projeto “Folded Map” conecta residentes que moram em endereços correspondentes em lados opostos de Chicago em bairros racial e economicamente diferentes para investigar como a segregação sistêmica afeta as pessoas.
O que começou como um estudo fotográfico evoluiu para uma projeto multimídia, convidando o público dialogar sobre como todos são impactados pelas condições sociais, raciais e institucionais causam segreação. O objetivo é ajudar as pessoas a entenderem como os ambientes urbanos são estruturados e buscar soluções.
Na foto, os “gêmeos do mapa” Nanette, à esquerda, residente do sul de Chicago, e Wade, à direita, um residente do norte da cidade, posam juntos na varanda de Wade.
Em “There Ain’t No Grave Gonna Hold My Body Down”, Stacy Kranitz aborda a falência da saúde rural em Appalachia. Kranitz fez parceria com organizações de saúde para abordar problemas das pessoas que vivem na área rural, no contexto da crise por que passa o sistema público de saúde nos Estados Unidos.
Como uma imigrante negra iemenita de primeira geração, Muna Malik criou o projeto “Our Family” (Nossa Família), que examina como a cultura molda a forma como as pessoas veem a si mesmas e enxergam as outras, tendo como pano de fundo histórias de separação de famílias dos Estados Unidos. O trabalho tomou como referência a comunidade somali em Minnesota durante o período do banimento de viagens a países islâmicos decretado por Donald Trump e. 2017.