Durou menos de uma semana a tentativa da agência global de relações públicas Teneo tentar estancar a crise de imagem que se abateu sobre ela depois que o fundador e CEO, Declan Kelly, foi afastado do conselho de um ONG global por ter bebido demais e assediado homens e mulheres durante um evento beneficente.
Nesta terça-feira (29/6), a agência anunciou a renúncia de Kelly, de 53 anos, substituído pelo cofundador e diretor de operações, Paul Keary.
A história que levou à queda de um profissional reconhecido e poderoso, que já assessorou grandes líderes empresariais e políticos como Hillary Clinton, aconteceu em maio. Mas só se tornou pública na semana passada, revelada pelo jornal Financial Times.
O evento, que teve shows de grandes celebridades locais, era o “Vax Live”, promovido pela organização Global Citizen para arrecadar fundos para a compra de vacinas para os países pobres.
Os padrinhos da ação eram o príncipe Harry e sua esposa, Meghan Markle. A má conduta do consultor ocorreu durante o coquetel promovido após o show.
Antes mesmo de sair a reportagem, a crise de imagem de Kelly havia feito a Global Citizen remover o executivo de seu conselho e cancelado o contrato com a agência.
No dia 25/6 foi a vez de outro grande cliente, a General Motors, fazer o mesmo. A CEO da companhia, Mary Marra, está entre os executivos assessorados pelo consultor.
Ao informar a decisão de afastar seu principal executivo, o Conselho de Administração fez um afago a Declan Kelly e não mencionou o motivo pelo qual ele estava deixando a empresa.
“Queremos agradecer a Declan por sua liderança e dedicação nos últimos dez anos na construção da Teneo como a firma de consultoria de CEOs mais proeminente do mundo.
Graças à liderança de Declan e aos esforços de sua excelente equipe, a Teneo hoje atende empresas líderes mundiais, com uma ampla base de consultores experientes em uma série de disciplinas, com 1.250 funcionários e 33 escritórios em todo o mundo. Ele está deixando a empresa em uma posição forte para o sucesso contínuo.”
Ao lado há um statement do próprio Kelly sobre o ocorrido, admitindo que a empresa está sendo questionada:
“Em 2 de maio cometi um erro público e embaraçoso e assumo toda a responsabilidade. Pedi desculpas para aqueles diretamente afetados, assim como para os meus colegas e clientes.
Uma campanha contra a reputação de nossa empresa se seguiu e pode até continuar nos próximos dias.
No entanto, independentemente da veracidade de tais questões, não quero que desviem o foco. Para proteger os funcionários da Teneo e seus clientes, e com forte apoio da minha família, decidi deixar a empresa e renunciar ao cargo de Presidente e CEO.
A Teneo continuará sendo a melhor do mundo no que faz, uma empresa cujo sucesso foi impulsionado por três virtudes – trabalho árduo, decência e compaixão.
Nos últimos dias, recebi inúmeras mensagens de apoio de meus colegas, clientes, figuras públicas e pessoas que me conhecem bem pessoal e profissionalmente. O apoio e a confiança é o que mais conta. Serei eternamente grato a todos eles.”
O desligamento era quase inevitável. O tempo que levou para acontecer, no entanto, é um sinal de que a decisão não foi fácil.
A agência tem sedes em Nova York e Londres, e faturamento estimado em US$ 400 milhões. Segundo a revista PR Week, o contrato com a GM valia US$ 250 mil por mês somente em fees.
Mais do que um executivo, Declan Kelly era a principal face de uma empresa dedicada a um tipo de assessoria que depende fortemente da figura do consultor — não é uma linha de montagem em que peças podem ser facilmente trocadas.
Ainda que a agência tenha mais de 1 mil funcionários, nesse tipo de negócio o relacionamento é vital. E Declan Kelly era o principal homem à frente do relacionamento com figuras-chave das corporações e da política.
O desafio agora será contornar a má impressão causada pelo episódio, que compromete a reputação da companhia. E ao mesmo tempo convencer os clientes de que a expertise do ex-CEO pode ser compensada pela de outros executivos.
O deslize no coquetel transformou a vida de um profissional de sucesso.
Graduado pela National University of Ireland, Declan iniciou sua carreira como jornalista antes de passar ao ramo de relações públicas. Em 1994, ganhou o prêmio AT Cross Business como Jornalista do Ano.
Em 2008, tornou-se o mais jovem a receber a prestigiosa medalha de ouro da American Irish Historical Society. Ele é professor visitante honorário na Queen’s University Belfast e em 2011 recebeu um doutorado honorário da universidade.
Antes da Teneo, Declan serviu como enviado econômico dos Estados Unidos para a Irlanda do Norte, nomeado pela então Secretária de Estado, Hillary Clinton, em setembro de 2009.
A história de vida e a carreira de Declan já inspiraram dois livros: A Few Wise Words e Journeys – An American Story. Não será surpresa se o caso atual render um terceiro.