A perseguição da administração de Hong Kong, sob o comando do governo chinês, ao jornal pró-democracia Apple Daily não cessou após o encerramento das atividades do jornal. O dono do Apple Daily, o magnata da mídia Jimmy Lai, com patrimônio estimado em US$ 1 bilhão, cumpre desde abril uma sentença de três anos. Ele foi condenado sob a Lei de Segurança Nacional imposta por Pequim depois dos protestos que começaram em 2019.
Mesmo com a prisão de seu dono e congelamento de ativos pessoais, o jornal continuou desafiando as autoridades locais, até que no dia 17 de junho a polícia invadiu a redação e prendeu cinco profissionais, incluindo o editor-chefe. A Justiça congelou os ativos do Apple Daily, que foi obrigado a suspender a impressão do jornal e atualização do site menos de uma semana depois.
A notícia da nova prisão, sob pretexto de colocar em risco a segurança nacional por forças estrangeiras, foi revelada por outro jornal pró-democracia, o Stand News, que continua funcionando, mas já anunciou a retirada de artigos de opinião do site.
As medidas foram tomadas para proteger os apoiadores do veículo, articulistas e a equipe editorial na “inquisição literária” de Hong Kong, disse o jornal em um comunicado.
A Associação de Jornalistas divulgou um comunicado afirmando que a série de incidentes ocorridos nos últimos dias prejudicou quase completamente a liberdade de imprensa em Hong Kong.
“Reiteramos que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são valores fundamentais de Hong Kong”, disse o órgão. “Se nem mesmo a escrita pode ser tolerada, será difícil para Hong Kong ser considerada uma cidade internacional.”
Diante das pressões, seis diretores do Stand News também renunciaram, incluindo a ex-legisladora Margaret Ng e a celebridade Denise Ho, ambas proeminentes figuras pró-democracia.
O jornal anunciou que deixaria de vender assinaturas e não aceitaria mais dinheiro de doadores ou assinantes, pelo risco de os recursos serem desperdiçados.
A Lei de Segurança Nacional permite que contas e ativos da mídia sejam congelados se autoridades acreditarem que os fundos estão relacionados ao crime, como ocorreu com o Apple Daily.
“Temos dinheiro suficiente para funcionar por mais nove a 12 meses”, disse o veículo. Na edição online, o Stand News publicou a notícia da prisão de Fung Wai-kong.
As ações da polícia contra o Apple Daily geraram indignação internacional e acusações de que as autoridades estavam usando a Lei de Segurança Nacional para sufocar a liberdade de imprensa. O governo e a polícia negaram as acusações.
No domingo, o comissário de polícia, Raymond Siu, que foi nomeado para o cargo depois que seu antecessor foi promovido na sexta-feira, pediu uma lei contra “notícias falsas” e culpou a mídia por diminuir os níveis de confiança na força policial.