Senadores governistas que compõem a CPI da Pandemia voltaram a afirmar nesta quarta-feira (23) que o colegiado tem blindado as investigações relativas aos recursos federais encaminhados aos estados e municípios. Prestes a completar dois meses de trabalho, a CPI, segundo eles, tem se prestado a fazer uma apuração “seletiva com foco 100% no governo federal” e que a prorrogação do prazo de funcionamento do grupo por mais 90 dias, como quer o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), serviria apenas para manter essa narrativa.
— Acho que é mais uma narrativa de espichar uma CPI que não está encontrando nada dentro do fato determinado. Blindam quem tem de investigar e tentam construir, todo santo dia, uma narrativa para emparedar o governo federal. Então é uma bobagem. Aí vão ficar aqui fazendo espuma enquanto nós precisamos ajudar sobre vacinação, o Plano Nacional de Vacinação, e apurar a corrupção que aconteceu em consórcios, nos estados e municípios, é isso que a gente tem que fazer — declarou o senador Jorginho Mello (PL-SC) em entrevista coletiva.
Durante a reunião da CPI, Randolfe informou que vai apresentar requerimento nesta quinta-feira (24) para a prorrogação dos trabalhos do grupo. A manifestação foi feita logo após alguns senadores reclamarem do direcionamento das investigações e da aprovação de requerimentos que atenderiam, segundo eles, somente às demandas do grupo que faz oposição ao governo.
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que se declara independente, disse que a CPI tem feito uma “blindagem explícita à corrupção” ao não se debruçar nas denúncias de desvios de recursos federais nos estados e municípios. Ele citou novamente a necessidade de ouvir as pessoas ligadas ao contrato de R$ 48 milhões realizado pelo Consórcio do Nordeste para compra de respiradores e que, de acordo com ele, nunca foram entregues.
— Então o que está acontecendo no Consórcio Nordeste já está virando algo que está na boca do povo. Se essa CPI não chamar, na semana que vem, alguém com relação a isso, mostra realmente uma blindagem completa, escancarada da corrupção. Então nós estamos faltando quatro dias para essa CPI fazer dois meses de trabalho. E o que que foi visto até agora? Ações e omissões, investigando o governo federal apenas. E tem um requerimento que a maioria dos senadores assinou que não está sendo visto que é investigar os bilhões de verbas federais enviadas a estados e municípios. Isso não pode ser ignorado. Isso é um 'tratoramento' — denunciou.
O senador voltou a cobrar a aprovação da convocação do ex-secretário Executivo do Consórcio Nordeste Carlos Eduardo Gabas; do ex-secretário da Casa Civil Bruno Dauster e da dona da empresa Hempcare (responsável pela venda dos respiradores), Cristiana Prestes Taddeo.
Em relação à linha de investigação da CPI sobre o contrato de compra da vacina indiana Covaxin, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que os senadores que são ligados ao governo em nenhum momento criaram obstáculos às investigações do colegiado. No entanto, ele defendeu que elas sejam baseadas em fatos e evidências e não em narrativa que, segundo ele, está sendo construída “100% com foco no governo federal”.
— O que a gente observa em relação a essa questão da contratação das vacinas é uma narrativa que vem sendo repetida desde o início de que houve omissão, de que houve ação deliberada para não contratar, mas o fato é que as vacinas foram contratadas e estão chegando. Os mesmos que hoje às vezes questionam o valor de uma ou outra vacina lá atrás discursavam, brigando, falando de forma enfática que tinha que comprar. Custasse o que custasse tinha que comprar vacina. Realmente as vacinas estão sendo compradas, chegando mais de 100 milhões já distribuídas, e os brasileiros sendo vacinados — argumentou.
Por outro lado, o senador Otto Alencar (PSD-BA) disse considerar “graves” as recentes informações sobre o contrato para compra da Covaxin pelo Ministério da Saúde e que, por isso, precisam ser investigadas com profundidade e responsabilidade.
— O contrato da Precisa [empresa intermediadora do contrato com o laboratório Bharat Biotech] é de R$ 1,6 bilhão, e uma empresa com capital social de R$ 12 milhões. Tudo isso chama atenção. A Precisa já tinha relações de compra e venda de produtos ao Ministério da Saúde, já é uma empresa conhecida, já muito falada aqui nos centros e circuitos políticos de Brasília. E realmente ela tinha uma força muito grande em termos de lobby dentro do Ministério da Saúde, tanto é que está comprovado agora — disse.
Em um dos requerimentos aprovados nesta quarta-feira, a CPI pede informações e quebras de sigilo relacionadas à compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, a um preço quatro vezes maior que a vacina da AstraZeneca. Também há indícios, segundo investigação do Ministério Público, de que o contrato de R$ 1,6 bilhão com intermediação da empresa Precisa Medicamentos teria previsto a compra de doses a um preço 1.000% maior que o valor cobrado por dose meses antes.
— Tem um grande esquema de corrupção aí. Esse esquema de corrupção foi levado ao presidente da República. Vamos encontrar quem são os personagens desse esquema todo. Não tenho dúvida que tem vários servidores públicos se beneficiando — disse Randolfe.
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