O número de pessoas vivendo como refugiadas, requerentes de refúgio ou deslocados internos em seus próprios países - após serem forçadas a fugir de sua regiões devido a perseguições, conflitos, violência e violações dos direitos humanos - aumentou para 82,4 milhões no ano passado, segundo o último relatório Global Trends, do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).
O documento, divulgado nesta sexta-feira (18/06), pede uma reversão da tendência global de aumento dos deslocamentos e fugas, que já dura quase uma década. Os números cresceram 4% em relação ao total registrado no final de 2019 (79,5 milhões de pessoas).
A ampla maioria dos refugiados em todo o mundo está abrigada em países de renda média ou baixa que fazem fronteira com regiões em crise. Os países menos desenvolvidos acolhem 27% de todos os refugiados.
No final do ano passado, havia 20,7 milhões de refugiados sob a tutela do Acnur, além de 5,7 milhões de palestinos e 3,9 milhões de venezuelanos. Essas dados tiveram um leve aumento em relação ao ano anterior.
Outros 48 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar dentro de seus próprios países, enquanto 4,1 milhões estão na condição de requerentes de refúgio.
Os dados revelam que, apesar da pandemia e de pedidos globais de cessar-fogo para que governos possam cuidar de doentes e feridos, conflitos permanecem sendo a maior causa dos deslocamentos.
O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, disse que por trás de cada um desses números está "uma pessoa deslocada de sua casa e uma história de fuga, desenraizamento e sofrimento". "Cada indivíduo merece nossa atenção e apoio, não apenas através de ajuda humanitária, mas na busca de soluções para pôr fim aos seus tormentos."
Grandi afirma que, mesmo com a Convenção de Genebra para os Refugiados, de 1951, e o Pacto Global sobre Refugiados sendo os quadros legais e as ferramentas para lidar com o problema, "precisamos de vontade política mais forte para lidar com os conflitos e perseguições que forçam pessoas a fugir".
Segundo o relatório, mais de 160 países fecharam suas fronteiras durante o auge da pandemia de covid-19 em 2020, sendo que 99 nações não fizeram exceções para pessoas que buscam proteção internacional.
Contudo, cada vez mais os países encontram meios de processar os pedidos de refúgio, ao mesmo tempo em que conseguem conter o avanço da doença. Isso vem sendo possível com medidas como exames médicos nas fronteiras, certificados de saúde, imposição de quarentenas temporárias aos recém-chegados, procedimentos simplificados de registro e audiências por vídeo para os requerentes de refúgio.
Durante o ano passado, 33,8 mil refugiados receberam suas cidadanias nos países que os acolheram. Entretanto, dados referentes ao reassentamento - ou seja, a passagem de migrantes de um primeiro país anfitrião não seguro para um terceiro país seguro - registraram queda acentuada.
Apenas 34,4 mil pedidos de reassentamento foram aceitos – o número mais baixo dos últimos 20 anos. Isso se deve a uma significativa diminuição dos países abertos a receber refugiados, assim como à pandemia.
Grandi sublinhou que os governantes e os que possuem influência sobre as tomadas de decisões devem "deixar de lado suas diferenças, abandonar abordagens egoístas em suas políticas e se concentrar em evitar e resolver conflitos, além de garantir os direitos humanos".
Segundo o relatório, as crianças são, particularmente, as mais afetadas pelas crises de deslocamento, especialmente se essa situação se arrastar durante muitos anos. A ONU calcula que quase 1 milhão de crianças já nasceram como refugiadas entre 2018 e 2020.
No total, 42% das pessoas forçadas a se deslocarem são meninas e meninos com idades inferiores a 18 anos. Muitas delas estão sob risco de permanecer no exílio durante os próximos anos. Algumas, potencialmente, pelo resto de suas vidas.
O relatório conclui que um dos grandes desafios é assegurar as melhores condições para as crianças em risco, além daquelas que estão desacompanhadas ou separadas de suas famílias.
Em torno de 21 mil menores desacompanhados ou separados entraram com pedidos de refúgio em 2020, em comparação com 25 mil no ano anterior. Levando-se em conta que o número total de novos pedidos de refúgio caiu em 1 milhão em 2020 devido à pandemia, os dados referentes às crianças ainda são excepcionalmente altos.