O atual chefe do Judiciário do Irã, Ebrahim Raisi, é considerado franco favorito para vencer a eleição iraniana desta sexta-feira (18/06) e se tornar o oitavo presidente do país. O clérigo islâmico ultraconservador, conhecido pelo envolvimento como promotor na execução de milhares de prisioneiros políticos no final dos anos 80, não é estranho aos iranianos.
Raisi é o chefe do Judiciário do país desde 2019. Ele precisará garantir a maioria absoluta para vencer a votação no primeiro turno. E é provável que consiga, considerando que muitos iranianos querem se manter longe das urnas: pesquisas recentes preveem comparecimento historicamente baixo, de cerca de 40%.
Pesquisas sugerem que apenas 23 milhões dos 59 milhões dos habilitados a votar planejam ir às urnas. Para sair vitorioso, seria o suficiente para Raisi que 12 milhões de iranianos o apoiassem. Se nenhum candidato obtiver maioria absoluta nesta sexta-feira, haverá um segundo turno uma semana depois, em 25 de junho.
A votação de sexta-feira escolherá o sucessor do presidente moderado do Irã, Hassan Rouhani, que não pode concorrer novamente após cumprir dois mandatos consecutivos de quatro anos. Ele deixa o cargo em agosto.
O poder máximo no Irã está nas mãos do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, mas o presidente tem influência significativa em questões que vão da política industrial a relações exteriores.
A eleição ocorre em momento crítico para o Irã. A economia do país enfrenta as duras sanções dos EUA, impostas pelo governo do ex-presidente Donald Trump depois que Washington deixou o acordo nuclear internacional fechado por Teerã e potências mundiais em 2015.
O ressurgimento das sanções mergulhou a economia na recessão, e Rouhani foi atacado pelos ultraconservadores por ter confiado no Ocidente. O país de 83 milhões de habitantes está atualmente impedido pelos EUA de vender seu petróleo e negociar com grande parte do mundo.
Raisi pertence ao campo ultraconservador que mais profundamente desconfia dos Estados Unidos e critica duramente Rouhani desde que o acordo nuclear começou a desmoronar.
"Muitos observadores esperam que Raisi ganhe as eleições", diz Sanam Vakil, vice-diretor e pesquisador sênior do Programa para o Oriente Médio e Norte da África do think tank Chatham House, sediado em Londres.
Votação escolhe sucessor do moderado Hassan Rouhani, que não pode concorrer após dois mandatos consecutivos
Ela acredita que a vitória dele nas eleições pode colocar a Europa em uma posição difícil, porque a UE e os EUA impuseram sanções a Raisi por seu papel nas violações dos direitos humanos que aconteceram no Irã durante os protestos antigovernamentais ocorridos em todo o país em 2019.
Além disso, Vakil destaca que Raisi é uma figura desconhecida para a comunidade internacional, e suas posições sobre importantes questões regionais e globais permanecem obscuras.
"É por isso que acho que os países europeus, especialmente Alemanha, França e Reino Unido, ficarão bastante cautelosos, mas provavelmente mais unidos", avalia.
Embora durante a campanha eleitoral, Raisi tenha criticado duramente o acordo nuclear internacional de 2015, como todos os outros candidatos, ele enfatizou sua intenção de cumprir o acordo.
Ele parece entender que, como presidente, suas políticas terão que levar em conta a situação econômica ruim do país, que melhoraria se os Estados Unidos voltassem ao acordo e suspendessem as sanções.
Mohammad Javad Zarif, ministro do Exterior do atual presidente Rouhani, está atualmente liderando a delegação iraniana nas negociações internacionais em Viena para reativar o acordo nuclear.
Até agora, os iranianos só mantiveram negociações indiretas com diplomatas americanos, por meio de representantes da UE.
Muitos observadores, no entanto, acreditam que Zarif concluirá as negociações antes que o próximo presidente iraniano tome posse em agosto. Reportagens da mídia iraniana também sugerem que Zarif foi encarregado de fazer lobby durante as negociações em Viena para remover o nome de Raisi das listas de sanções da UE e dos EUA.
Um compromisso com o acordo nuclear por si só não seria suficiente para a comunidade global, diz Bijan Djir-Sarai, legislador alemão e membro do Comitê de Relações Exteriores do Bundestag.
"O acordo nuclear com o Irã só faz sentido se acordos adicionais sobre, por exemplo, o papel do Irã na região e o programa de mísseis do Irã também forem adotados", explica.
"Eu recomendaria à União Europeia e também ao governo alemão, que seguissem uma política em relação ao Irã guiada não apenas por interesses, mas também por valores", acrescentou. "Seria necessário abordar o papel destrutivo do Irã na região, assim como condenar as flagrantes violações dos direitos humanos no país."