O repórter Anatoly Kurmanaev, correspondente do jornal The New York Times no México e na América Central, teve sua entrada na Nicarágua negada por autoridades. O jornalista não chegou a entrar no avião que o levaria ao país. Em nota publicada sobre o ocorrido, o Times destacou Kurmanaev cumpriu todos os requisitos legais e de saúde estabelecidos e que o episódio aconteceu em meio a “uma ofensiva nacional contra a mídia e a sociedade civil no país centro-americano”.
Em seu Twitter, o jornalista destacou que perguntou a Rosa Murrillo, esposa do presidente Daniel Ortega, a razão pela qual sua entrada no país foi negada. A resposta dela foi apenas “Obrigada pelo seu interesse”. Ele escreveu que já cobriu Venezuela, Cuba, Rússia, entre outros países, mas nunca antes teve sua entrada negada para fazer seu trabalho.
O que é especialmente chocante sobre a repressão na Nicarágua é a rapidez com que está se desenrolando. Todos os dias alguém com quem você falou é preso. A cada semana, um novo setor da sociedade é atingido. Você começa a escrever para alguém e percebe que acabou de ser cobrado. Nunca vi nada assim.
Michael Slackman, editor-gerente assistente do Times para a editoria de internacional, declarou que o ocorrido é mais um dos diversos obstáculos que os jornalistas enfrentam para garantir uma sociedade informada: “Os esforços para silenciar os jornalistas devem ser motivo de preocupação para todos”.
A negação da entrada de Kurmanaev é mais um caso de perseguição à imprensa na Nicarágua promovida pelo governo Ortega.
No final de maio, o procurador público do país intimou, na qualidade de testemunhas ou de investigados, pelo menos 16 jornalistas em um suposto caso de lavagem de dinheiro envolvendo a fundação Violeta Barrios de Chamorro – uma ONG que promove a liberdade de imprensa e o jornalismo independente no país.
A organização encerrou as atividades em fevereiro por recusar-se a se submeter à Lei de Agentes Estrangeiros, que controla os recursos externos que pessoas e organizações civis recebem de fontes internacionais. Cristiana Chamorro, ex-diretora da fundação, foi intimada na qualidade de investigada pelo suposto delito de lavagem de dinheiro. Além de jornalista, Chamorro também é uma das principais vozes da oposição na Nicarágua.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (IACHR, na sigla em inglês) adotou medidas de precaução a favor da jornalista Kalua Salazar e de sua família, pois estão “em uma situação de risco urgente de danos irreparáveis no que se refere a seus direitos na Nicarágua”, diz a nota da entidade. Kalua, que é diretora da empresa de mídia independente La Costeñísima, estaria sendo vítima de ameaças e vigilância por parte de autoridades do Estado.
A IACHR pede que o governo da Nicarágua adote medidas para proteger a integridade da jornalista e de seu núcleo familiar.
Em seu Twitter, Kalua escreveu sobre o ocorrido, que classificou como “tortura psicológica”.
“Você não pode mais ter paz em sua casa, com prisões arbitrárias, qualquer jornalista pode ser o próximo, eles montam falsos julgamentos, eles te vinculam ao terrorismo, te colocam na prisão … é assim que o jornalismo sobrevive na Nicarágua.”