Após pedido de Wilson Witzel para se retirar do depoimento à CPI da Pandemia, senadores governistas afirmaram que a participação do ex-governador, nesta quarta-feira (16), foi usada para reforçar o que eles consideram uma “tentativa” dos senadores de oposição ao governo de construir uma narrativa para “enquadrar o presidente da República” como responsável pela crise sanitária no país.
Durante as mais de quatro horas de depoimento, o ex-governador do Rio de Janeiro disse que seu impeachment foi resultado de uma perseguição política para substanciar o que seria uma narrativa do governo federal de fragilizar os gestores estaduais por terem tomado medidas restritivas durante a pandemia.
Para o senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), Witzel tentou usar a CPI como palanque político e acabou prejudicando a credibilidade do colegiado.
— Ficou muito ruim, ainda mais, para mim, a imagem do Senado como tá passando ao todo dessa CPI. Porque nós temos um relator que responde a 17 processos no Supremo Tribunal Federal, perguntando perguntinhas casadas com alguém que é investigado por desviar aproximadamente R$ 700 milhões da Saúde do Rio de Janeiro em plena pandemia. Ele [Witzel] veio e falou o que quis, ouviu o que não quis, e quando percebeu que o bicho ia pegar com ele, ele correu como um covarde — disse o senador em coletiva à imprensa após o fim da reunião.
O senador Marcos Rogério (DEM-RO) também lamentou o comportamento do depoente e criticou o caminho das investigações traçado pela CPI até o momento. Para ele, o colegiado não tem buscado evidências e provas no sentido de esclarecer as acusações de desvios de recursos federais nos estados e municípios.
— Hoje, mais uma vez, trazem para a CPI um depoimento encomendado para sustentar narrativas acusatórias. E quando começam as perguntas que colocam em xeque aquele que é sabatinado, aquele que é interrogado, simplesmente foge do embate. Então, até agora nessa CPI, a oposição só tem narrativas, provas não há — criticou.
Marcos Rogério também criticou a decisão do colegiado de rejeitar a convocação do secretário-executivo do Consócio Nordeste, Carlos Eduardo Gabas, para prestar depoimento à CPI. Os requerimentos que pediam a sua convocação apresentavam como justificação o fato de ele ter comprado, através do consórcio, 300 ventiladores clínicos de UTI da empresa Hempcare, em valor aproximado de R$ 48 milhões, pagos antecipadamente e que, segundo o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), nunca foram entregues.
— Agora quando a investigação mira em personagens dos estados, para seguir o caminho do dinheiro, para saber o que foi feito com os bilhões de reais encaminhados aos governos estaduais e às prefeituras, a oposição faz um movimento de blindagem. Hoje a farsa caiu na CPI da Pandemia. Um personagem central na investigação contou com apoio dos membros da oposição para blindar a sua convocação. Seu Carlos Gabas é acusado de conduta grave. O consórcio do Nordeste comprou, pagou, e não recebeu por respiradores e na CPI, o grupo da maioria acha que isso não é objeto de investigação — acrescentou Marcos Rogério.
Eduardo Girão, um dos autores do requerimento para convocação de Gabas, classificou a atitude da CPI como “escárnio”. Ele disse que o grupo perde "autoridade moral" sobre a imparcialidade das investigações.
— Esses respiradores foram comprados com o dinheiro suado dos contribuintes do Nordeste, do povo nordestino, dos nove estados. E simplesmente esses respiradores nunca chegaram — lamentou Girão.