A pandemia do coronavírus impactou de forma negativa a doação de sangue na Fundação Hemocentro de Brasília (FHB). O movimento de doadores nos cinco primeiros meses de 2021 está menor que nos últimos dois anos.
A média entre janeiro e maio deste ano está em 142 doações por dia. No mesmo período do ano passado, essa média era mais alta, de 154 doações, enquanto que nos cinco primeiros meses de 2019, o número de doações era maior ainda, de 168 por dia. O número atual corresponde a uma redução de 8% com relação a 2020 e de 15,5% com relação a 2019.
Em 10 de junho, o estoque de sangue no Hemocentro de Brasília encontrava-se crítico para o tipo O- (mais raro); baixo para os tipos B-, AB- e O+; e regular para os tipos B+, AB+, A+ e A-.
Nesta segunda-feira (14), comemora-se o Dia Mundial do Doador de Sangue. A data foi instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para lembrar da importância da conscientização quanto à necessidade da doação de sangue e como uma forma de agradecimento aos doadores.
Mas, afinal, por que doar sangue? Qual a importância de doar sangue?
— Sangue é extremamente necessário para pessoas que passam por grandes cirurgias, como transplantes, pessoas em tratamento contra o câncer e pacientes que estão tratando complicações da covid-19. Apesar dos avanços da medicina e das tecnologias, não existe medicamento que substitua as células do sangue. É por isso que esse gesto solidário é essencial — responde a chefe da Seção do Ciclo do Doador da FHB, Anne Ferreira.
E o que é necessário para doar sangue? Os critérios para se tornar um doador estão descritos nos sites de todos os hemocentros do país e no site do Ministério da Saúde. Há, porém, requisitos básicos que devem ser observados pelos doadores.
— O voluntário precisa estar bem de saúde, descansado e bem alimentado para doar sangue. O processo todo, do cadastro à coleta do sangue, leva entre 60 e 90 minutos. Tirar esse tempo para salvar vidas é fundamental atualmente — observa a chefe da Seção do Ciclo do Doador da FHB.
Anne Ferreira esclarece ainda que algumas condições de saúde demandam transfusões frequentes, a exemplo de pessoas que têm doenças hematológicas.
— Para minimizar o risco de reações adversas, o sangue doado passa por uma análise aprofundada chamada fenotipagem, ou seja, identificação de mais características além dos conhecidos grupos ABO e fator Rh, conhecidos popularmente como tipo sanguíneo.
O Ministério da Saúde avalia que houve redução de 15% a 20% em 2020 nas doações, devido à diminuição no número de pessoas circulando em razão da covid-19. Assegura, no entanto, que não houve desabastecimento nos estoques dos 107 hemocentros do país. Em 2019, foram realizadas cerca de 3,3 milhões de coletas de sangue no país. Ano passado, foram menos de 3 milhões, uma redução de quase 10%.
O ministério ressalta que acionou o Plano Nacional de Contingência do Sangue em alguns casos, o que possibilitou o remanejamento de bolsas de sangue para estados com maiores dificuldades. De acordo com a pasta, os hemocentros brasileiros também têm adotado todas as medidas de higiene necessárias para a contenção da disseminação do coronavírus e estão preparados para receber os candidatos à doação com segurança.
O Ministério da Saúde, em conjunto com as redes estaduais, vem incentivando, desde o início da pandemia, a população a doar sangue, uma vez que o consumo é diário e contínuo, uma vez que as anemias crônicas, cirurgias de urgência, acidentes que causam hemorragias, complicações da dengue e da febre amarela, transplantes, tratamento de câncer e outras doenças graves continuam ocorrendo durante a pandemia. O ministério destaca que não há um substituto para o sangue e que a sua disponibilidade é essencial para manutenção da vida.
No Senado tramitam projetos de lei que buscam incentivar e aperfeiçoar a doação de sangue. Entre eles o PL 3.607/2020, que obriga a testagem laboratorial do sangue e do plasma doados aos hemocentros de forma a detectar o coronavirus e, com isso, pesquisar a frequência de indivíduos na população que apresentam anticorpos contra a doença e a disponibilidade de plasma convalescente. De autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), o texto aguarda votação em Plenário.
Em 15 de abril, os senadores aprovaram substitutivo do senador Omar Aziz (PSD-AM) ao Projeto de Lei (PL) 1.855/2020, do senador Irajá (PSD-TO), que inclui os doadores de sangue entre as pessoas com direito a atendimento preferencial — assim como já acontece com pessoas com deficiência, idosos, gestantes, lactantes, indivíduos com crianças de colo e obesos — em repartições públicas, bancos, rodoviárias, hospitais, correios, entre outros locais. Para tanto, os doadores precisarão apresentar comprovante de doação, com validade de 120 dias. O texto aprovado pelos senadores está em análise na Câmara dos Deputados.
Também aguarda votação na Câmara o PL 1.322/2019, aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado em julho de 2019, que concede meia-entrada em eventos artístico-culturais e esportivos aos doadores de sangue regulares (ao menos três vezes ao ano). O projeto é de autoria do senador Fabiano Contarato (Rede-ES).
Entre os requisitos básicos para a doação de sangue estão: apresentar boa condição de saúde; ter entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos (menores de 18 anos, precisam estar acompanhados de um responsável); pesar no mínimo 51 quilos; estar descansado (ter dormido pelo menos seis horas nas 24 horas anteriores); estar alimentado (evitar alimentação gordurosa nas quatro horas que antecedem a doação); ter repousado bem na noite antes da doação; e apresentar documento original com foto recente, que permita a identificação do candidato.
Além dos requisitos básicos a serem cumpridos pelas pessoas interessadas em doar sangue, há diversos fatores que impedem o ato, alguns temporários e outros definitivos. Há ainda critérios relacionados ao uso de medicamentos, cirurgia ou outros procedimentos, comportamento sexual, acupuntura, viagens, doenças, vacinas, gravidez e amamentação, drogas, tatuagem, piercing e maquiagem definitiva.
O intervalo entre as doações de sangue é de 90 dias para as mulheres e de 60 dias para os homens, sendo que as mulheres podem doar no máximo 3 vezes durante um período de 12 meses, e os homens podem doar 4 vezes. Durante a triagem clínica o doador é avaliado, tendo como critério situações de risco acrescido para aquisição de doenças transmissíveis pelo sangue. São realizados questionamentos sobre comportamento sexual do doador. As situações são avaliadas de maneira sigilosa e individual pelo profissional que realiza a triagem clínica.
Candidatos à doação de sangue que foram infectados por covid-19, após diagnóstico clínico ou laboratorial, deverão ser considerados inaptos por um período de 30 dias após a completa recuperação.
Já os candidatos à doação que tiveram contato, nos 14 dias anteriores à doação, com pessoas infectadas pelo novo coronavírus, deverão ser considerados inaptos por 14 dias após o último contato.
Quem permaneceu em isolamento voluntário ou indicado por equipe médica devido a possível infecção pelo novo coronavírus deverá ser considerado inapto pelo período que durar o isolamento (no mínimo, 14 dias), se estiver assintomático.
Por sua vez, os candidatos à doação que tenham viajado para países com transmissão local, e que tiveram confirmada infecção pela covid-19, serão considerados inaptos por 14 dias após o retorno desses locais. Para esse critério, serão consideradas as informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde.
Profissionais de saúde e de outras categorias, que tenham pacientes com suspeita ou diagnóstico de covid-19, estão aptos para doar se forem afastados do atendimento a esses pacientes por mais de 14 dias. Já os profissionais de saúde da linha de frente que tiveram covid-19 estarão aptos para doar 30 dias após sua recuperação.