Para o vice-presidente da CPI da Pandemia, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), os depoimentos do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deixaram claro que o ministro não tem total autonomia na direção da pasta e "protege o presidente da República". Mas essa não foi a avaliação dos senadores Luis Carlos Heinze (PP-RS), Marcos Rogério (DEM-RO) e Eduardo Girão (Podemos-CE), que integram a base de apoio ao governo; para eles, Queiroga teve um bom desempenho, tanto nesta terça-feira (8) quanto no depoimento anterior à CPI. Além disso, os três concordaram com a avaliação do ministro de que há segurança para a realização da Copa América no Brasil.
Randolfe Rodrigues disse que "o gabinete paralelo ainda existe e está operando". Por essa razão, afirmou ele, "lamentavelmente não existe a autonomia devida do Ministério da Saúde".
Ao defender a realização da Copa América no Brasil, Heinze, Girão e Marcos Rogério destacaram que outras competições estão acontecendo no país, com atletas testados e sem público, além da adoção de outras medidas sanitárias.
— Vários outros campeonatos estão em andamento no Brasil. Entendo que a Copa América não vai prejudicar e é bem-vinda — declarou Heinze.
Marcos Rogério avaliou que o depoimento de Queiroga foi esclarecedor, mas opinou que não era necessária essa segunda convocação do ministro. O senador também lamentou a “politização da pandemia” e criticou os senadores que se opõem à realização de campeonatos de futebol, como a Copa América.
Girão também fez críticas à convocação do ministro da Saúde para um segundo depoimento na CPI.
— Ele veio e cumpriu o seu papel. É um absurdo se tirar duas vezes, em pouco mais de um mês, o ministro da Saúde para falar o que ele já tinha falado. A CPI está cada vez mais politiqueira, chegamos ao ápice da demagogia e da hipocrisia. Há várias outras competições no Brasil, com protocolos rígidos de segurança sanitária, jogadores testados, comissão técnica testada — afirmou Girão.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o Brasil não deveria sediar a Copa América enquanto os números de contaminados e mortos por covid-19 estão tão altos. Para ele, o ministro da Saúde não conseguiu justificar a realização da Copa América no Brasil.
— Provavelmente nós vamos viver uma nova onda da covid-19. Teremos dois mil visitantes vindos de outros países; o risco de nós recebermos novas cepas e eles levarem cepas brasileiras aos seus países é muito grande. O risco de contaminação é grande — afirmou Humberto Costa, ex-ministro da Saúde.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) acompanhou o colega e disse ser arriscado sediar a Copa América neste momento.
— No meio de uma pandemia você trazer três mil pessoas de outros países pode significar disseminação de cepas. É muito difícil o controle, por mais exigente que se seja. É um risco sanitário muito grande — disse Rogério Carvalho.
Ao criticar Queiroga, o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que o Ministério da Saúde não tem um cronograma de metas realista de vacinação até o final do ano. O senador disse que o ministro admitiu que o Brasil ainda terá dificuldades para avançar na vacinação nos próximos dois meses.
Na quinta-feira (10), está previsto o depoimento de Wilson Lima, governador do Amazonas, à CPI. Será o primeiro chefe de Poder Executivo a depor na comissão, que já aprovou requerimentos para ouvir outros governadores. Há suspeitas de irregularidades no uso de repasses federais em vários estados, lembraram os senadores.
Heinze disse esperar que o governador do Amazonas preste esclarecimentos sobre as investigações da Polícia Federal que apontaram irregularidades no uso do dinheiro público.
— Esperamos que ele possa esclarecer aquilo que a Polícia Federal já está investigando. Foi muito dinheiro para o estado do Amazonas e municípios. Não há como responsabilizar o ex-ministro [da Saúde] Pazuello ou o presidente Bolsonaro. O estado do Amazonas tem que explicar o que fez com o dinheiro. Como é que faltou oxigênio se tinha um saldo expressivo em conta? — disse Heinze.
Por sua vez, Humberto Costa disse esperar que o depoimento de Wilson Lima esclareça se o governo do Amazonas e o governo federal agiram ou não de maneira adequada no enfrentamento da pandemia e na questão da falta de oxigênio. O governador também terá de falar sobre as suspeitas de corrupção com dinheiro do enfrentamento da covid-19.
Marcos Rogério disse esperar que, a partir de agora, a CPI aprofunde as investigações sobre os estados. Ele quer que a comissão siga “o caminho do dinheiro” para saber o que foi feito com os bilhões de reais repassados pelo governo federal a estados e municípios.
— Há suspeitas de superfaturamento, desvios, contratos fictícios e dinheiro parado em contas. Ampliar e aprofundar as investigações dos estados é uma necessidade que se impõe. se a CPI não se presta para investigar corrupção, presta para quê? Para construir narrativas contra o presidente da República? — questionou Marcos Rogério.
Girão opinou que a CPI já está atrasada em ouvir governadores de estados em que há investigações de irregularidades. Para ele, a comissão precisa ouvir governadores, ex-governadores, prefeitos e ex-prefeitos que “receberam a visita da Polícia Federal”.
Rogério Carvalho avaliou que o governo do Amazonas foi falho e negligente no enfrentamento da pandemia e no caso da falta de oxigênio em Manaus. O senador disse também que outros governadores poderão vir à CPI para falar sobre as medidas que tomaram para impedir a disseminação da covid-19.
O senador Marcos Rogério elogiou o depoimento de Queiroga, porém criticou duramente a CPI da Pandemia por, em seu entender, estar monopolizando o tempo dos senadores. Em sua avaliação, o Senado estaria “refém dessa CPI” e a comissão estaria atrapalhando o trabalho do Ministério da Saúde.
— No Senado e no Congresso não se discutem temas estruturantes para o Brasil, porque a pauta toda está sendo ocupada pela CPI — afirmou Marcos Rogério.
Ele acrescentou que espera que todos os governadores acusados de corrupção sejam ouvidos pela CPI.
Girão também não poupou críticas ao andamento da CPI. Ele acusou o relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), de já ter relatório pronto desde antes de a comissão começar os trabalhos. Para Girão, a CPI virou “um instrumento político”.
— As pessoas não acreditam nessa CPI porque estão vendo o festival de atrocidades que está acontecendo, de desrespeito, de que o objetivo é 2022 mesmo. É um desserviço à nação — opinou.