Uma das mais proeminentes figuras da Igreja Católica na Alemanha, o cardeal Reinhard Marx ofereceu sua renúncia como arcebispo ao papa Francisco, com o argumento de que é preciso compartilhar responsabilidade pela "catástrofe" dos abusos sexuais cometidos por clérigos nas últimas décadas.
O cardeal Marx, arcebispo de Munique, foi presidente da Conferência Episcopal Alemã de 2014 a 2020. Sua renúncia foi enviada em 21 de maio, mas foi tornada pública nesta sexta-feira (04/06). Ela ainda precisa ser aprovada pelo papa.
"Eu preciso compartilhar a responsabilidade pela catástrofe dos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja nas últimas décadas”, escreveu o religioso. No texto, ele diz que espera que sua saída abra espaço para um recomeço.
A renúncia é feita meio a uma indignação crescente entre os fiéis alemães por causa de escândalos de abusos. Na semana passada, o papa enviou dois bispos estrangeiros de alto nível para investigar a Arquidiocese de Colônia, a maior da Alemanha, sobre seu tratamento de casos de abuso.
Para Marx, as investigações e os relatórios de especialistas dos últimos dez anos mostraram consistentemente que houve "muitas falhas pessoais e erros administrativos", mas também "falhas institucionais ou sistêmicas".
"Alguns na Igreja simplesmente não querem aceitar este elemento de corresponsabilidade e, portanto, também de cumplicidade da instituição, se opõem a qualquer diálogo de reforma e renovação em conexão com a crise do abuso", escreveu Marx.
Em vez disso, prossegue ele no texto, deve-se continuar com o "Caminho Sinodal", iniciada na Alemanha e que conta com forte engajamento de Marx.
O "Caminho Sinodal" é o processo de reformas internas lançado pela Igreja Católica Alemã após os escândalos causados por casos de abuso sexual e se baseia em um debate com os fiéis. Ele trata de questões relacionadas à moral sexual e à abordagem da instituição em relação aos homossexuais.
Em 2018, um relatório encomendado pela Igreja concluiu que pelo menos 3.677 pessoas foram abusadas por clérigos na Alemanha entre 1946 e 2014. Mais da metade das vítimas tinha 13 anos ou menos quando o abuso aconteceu.
Três quartos das vítimas tinham uma relação litúrgica ou didática com os acusados, por exemplo como ajudantes de missa, alunos de catecismo, ou aspirantes à primeira comunhão ou crisma.
No início deste ano, outro relatório sobre abuso sexual no país, relacionado à diocese de Colônia, trouxe à tona vários casos de abuso sexual por sacerdotes. O arcebispo de Hamburgo, ex-funcionário da Igreja de Colônia e que foi responsabilizado nesse relatório, ofereceu sua demissão ao papa e obteve "período ausente" de duração indeterminada.
rpr/lf (DPA, AP)