Concluída em 31 de maio deste ano, a usina de Baihetan chamou a atenção do mundo nas notícias, principalmente pela velocidade e eficiência de sua construção, através do uso de tecnologias avançadas, incluindo inteligência artificial. Outro aspecto relevante – e preocupante – da construção da usina em causa foi sua localização, em um terreno montanhoso e geologicamente ativo.
Esta estrutura está prevista para entrar em serviço no início do próximo mês, em 1º de julho de 2021. Em princípio, deverá ajudar Pequim a reduzir suas emissões anuais de dióxido de carbono em 51,6 milhões de toneladas.
Contudo, não obstante seu imenso progresso científico, devido a sua posição geográfica poderá haver não só tensões com a população tibetana, como também o gerar de novas tensões com a Índia, com a qual Pequim já vem piorando relações desde o ano passado.
Há quem se questione se, de fato, a construção de usinas hidrelétricas poderia ser uma resposta eficaz a longo prazo para combater as mudanças climáticas.
Bruno Gastal explica que "qualquer forma de produção de energia hidrelétrica é sempre uma grande aliada, sendo uma das fontes renováveis mais baratas, eficientes e confiáveis. No entanto — e isso é muito importante — isso não necessariamente quer dizer que ela seja sempre uma alternativa sustentável e 'verde'".
Ou seja, a construção de usinas hidrelétricas pode ajudar a combater parte dos problemas ambientais, mas por outro lado poderá piorar a situação de outros problemas. Neste caso, as mesmas podem ser um perigo para a concentração de sedimentos nos rios, o que desequilibrará gravemente os ecossistemas em seu redor. Por outro lado, cerca de 100 mil pessoas tiveram de ser deslocadas de suas habitações para a construção da Baihetan.
Ainda assim, Gastal acredita que "não há dúvidas de que uma economia do tamanho da chinesa vai necessitar de todas as formas possíveis de energia neutra em carbono para atingir a sua meta de neutralidade até 2060, incluindo hidrelétrica. Principalmente porque não há indícios de que a China esteja disposta a sacrificar o crescimento econômico para isso".
Por outro lado, o especialista crê que "outra tecnologia que vai ser importantíssima nesse sentido é a de armazenamento de energia, fundamental para estabilizar o fornecimento de energia de fontes como solar e eólica".
O mesmo acrescenta que, considerando a liderança chinesa no setor fotovoltaico, Pequim deveria ter tudo para vir a estar na vanguarda de tecnologias não carbônicas.
A Sputnik referiu que em 2020 a China colocou 38,4 GW de nova capacidade de energia a carvão em operação, mais de três vezes a quantidade utilizada em outras partes do mundo, o que levantou suspeitas. Contudo, Gastal nos apresenta sua interpretação de uma maneira simples e direta.
"A China está tentando tirar o máximo proveito do contexto econômico atual, dado que foi a primeira grande economia a ser totalmente reativada desde o início da pandemia [...] o carvão é útil nesse sentido porque é uma forma de garantir o fornecimento de energia barata nos próximos anos, com base numa matéria-prima que o país possui internamente."
"Acho, portanto, que a aposta chinesa é consolidar sua posição na economia global a curto prazo para só depois 'se dar o luxo' de investir em sua transição energética, apostando também no desenvolvimento de tecnologias que façam que essa transição seja menos custosa [...] No papel, portanto, os atuais investimentos não invalidam a meta, mas eles certamente apontam para o risco de que a China protele o máximo possível sua transição energética — o que não seria nada bom para o futuro climático da Terra."
É importante relembrar que, em um encontro de líderes organizado pelos EUA, a China se comprometeu a controlar o crescimento do consumo de carvão no atual plano quinquenal e gradualmente o reduzir entre 2025 e 2030.
Bruno Gastal aponta que a neutralidade carbônica não é um objetivo que possa ser atingido somente a partir de ações conduzidas pelo Ministério do Meio Ambiente. Para que tal seja conseguido, o Partido Comunista da China (PCC) deveria convertê-la em uma política de Estado, passando por praticamente todos os setores da economia e do governo.
Em conclusão, além da política energética, as políticas agrícola, urbana e industrial têm de estar alinhadas a esta meta.
Pequim também deverá se esforçar na recuperação de seus ecossistemas degradados, combatendo o desmatamento e a desertificação. Para além disso, os planos nacionais parecem também requerer o desenvolvimento de outras tecnologias para captura de carbono, apesar destas ainda se encontrarem em uma fase bastante inicial de seu desenvolvimento.