A líder da oposição na Nicarágua Cristiana María Chamorro Barrios, principal adversária do presidente Daniel Ortega nas eleições previstas para novembro, foi colocada nesta quarta-feira (03/06) sob prisão domiciliar, após uma denúncia de lavagem de dinheiro feita pelo governo. A detenção da opositora foi criticada pela comunidade internacional.
"Após mais de cinco horas de batida policial na casa de minha irmã Cristiana Chamorro, pré-candidata à presidência, às 17h15 a polícia de choque a deixa em 'prisão domiciliar', sob isolamento", escreveu Carlos Fernando Chamorro no Twitter. "Sua casa ainda está ocupada pela polícia", acrescentou o jornalista, que dirige um grupo de mídia crítico do governo.
Um tribunal de Manágua emitiu um mandado de busca e prisão contra Chamoro, após um pedido do Ministério Público, que acusou de crimes de gestão fraudulenta, falsidade ideológica, ambos com o agravante de lavagem de dinheiro, bens e ativos.
A decisão judicial contra a filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro, que foi chefe de governo de 1990 a 1997, se baseia no artigo 35 da Lei de Prevenção, Investigação e Acusação do Crime Organizado e da Administração dos Ativos Apreendidos, Confiscados e Abandonados, explicou o Poder Judiciário em uma nota divulgada pelo governo.
O Ministério Público solicitou que Chamorro, que é a figura da oposição com maior probabilidade de ganhar as eleições de novembro, fosse desclassificada para ocupar cargos públicos. Além disso, pediu a proibição da opositora de deixar o país. "Chamorro deve abster-se de participar de qualquer tipo de reuniões ou atividades devido à gravidade dos crimes sob investigação", diz a corte na decisão.
Segundo a assessora de Chamorro, a polícia invadiu a casa da opositora no momento em que ela se preparava para dar uma entrevista coletiva após a denúncia apresentada pelo Ministério Público. A investigação foi aberta em 20 de maio após um pedido do Ministério do Interior. O governo a acusa de irregularidades na gestão da fundação que leva o nome de sua mãe, dedicada à promoção da liberdade de expressão.
Chamorro nega as acusações, que considera uma farsa do governo para impedi-la de participar nas eleições, já que a lei impede pessoas com processos em aberto de concorrer a cargos públicos.
Além da prisão, a opositora teve ainda a candidatura indeferida nesta quarta-feira e não poderá participar das eleições de novembro, nas quais Ortega, no poder desde 2007, deve buscar uma nova reeleição. O atual presidente ainda não confirmou a participação no pleito, mas adversários acreditam que ele deve buscar um novo mandato.
A mãe de Chamorro derrotou Ortega nas urnas em 1990, quando ele busca a reeleição após seu primeiro governo (1985-1990).
A prisão da opositora gerou críticas na comunidade internacional. Para o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, proibir "arbitrariamente" Chamorro de concorrer reflete o receio de Ortega de "eleições livres e justas". "Os nicaraguenses merecem uma verdadeira democracia", acrescentou.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) rejeitou "a desqualificação política" da opositora, que classificou como um ataque à democracia, e alertou que a Nicarágua caminha para as "piores eleições possíveis". "Ações como esta subtraem toda a credibilidade política do governo e dos organizadores do processo eleitoral", destacou.
Ex-guerrilheiro, Ortega liderou a Nicarágua de 1979 a 1990 e voltou ao poder em 2007. Desde 2018, seu governo enfrenta uma crise, desencadeada por protestos massivos contra suas políticas.
cn (EFE, Lusa, AFP)