A preocupação dos senadores com a contaminação de gestantes e lactantes pelo coronavírus levou a Comissão Temporária da Covid-19 (CTCOVID-19) a discutir o tema nesta sexta-feira (21). Foi a 23ª reunião do colegiado, que tem previsão de funcionamento até 30 de junho. A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) considerou a audiência “uma aula” e concluiu que é unânime a percepção sobre a gravidade da covid-19 e de suas sequelas. Ela defendeu a vacinação dessas mulheres e a divulgação de campanhas de combate a notícias falsas sobre o tema.
— Diante da gravidade da doença e da falta de vacinas, os gargalos foram criados e isso vai sair muito caro para todos. A gente não sabe até que ponto as sequelas serão permanentes, como foi demonstrado no debate. A gente recebeu informações maravilhosas, e olhe que sou médica infectologista. São vocês que estão mostrando aos brasileiros que o distanciamento social, o uso correto da máscara e a higiene das mãos são essenciais para salvar vidas.
Médico no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Marcos Nakamura Pereira chamou a atenção para o fato de que condições sociais, como a distância entre a moradia da paciente e o hospital para o qual ela está habilitada, aumentam o risco de mortalidade. Ele apontou falha assistencial sobre esse grupo e considerou que o número de mortes de gestantes com covid é maior do que o divulgado.
Segundo a integrante do Grupo Brasileiro de Estudos de Covid-19 e Gravidez, a ginecologista e obstetra Melania Maria Ramos de Amorim, o risco de morte nesse grupo é duas vezes maior do que na parcela não infectada por coronavírus. Ela disse que os especialistas vêm alertando sobre o problema desde o início da pandemia: de cada 10 mortes de gestantes por covid registradas no mundo, 8 vinham ocorrendo no Brasil.
O presidente da comissão, senador Confucio Moura (MDB-RO), elogiou a qualidade da discussão e disse que elaborou requerimentos para novas audiências públicas ainda durante o debate, com base no que os especialistas apontaram. Ele manifestou preocupação com o que chamou de “estragos” da doença.
— Esse vírus inicia o estrago e deixa manifestações posteriores. É uma doença para muitos especialistas, e não apenas para um, porque é, realmente, fora do normal — disse.
Os debatedores também discutiram a busca por tratamento médico das sequelas da covid-19 e a possibilidade de alteração no plano de vacinação diante do número de jovens internados por causa da doença. Médica especialista em medicina fetal, Adriana Suely de Oliveira Melo alertou para a confirmação dos riscos de transmissão do vírus para a placenta, que pode infectar o feto e levar inclusive ao aborto.
Representante do Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba (CRMPB), o médico Bruno Leandro de Souza mencionou estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com outros países, publicado em abril , que evidenciou o potencial de mortalidade de gestantes contaminadas por covid-19 em relação às grávidas não infectadas. Souza ressaltou que, apesar de haver dificuldades para a elaboração das pesquisas, há evidências de que o risco de complicações da infecção tende a ser maior nessas mulheres.
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