Você não consegue resolver um problema se você mesmo não o entende. E infelizmente, principalmente nos Estados Unidos, muitas pessoas ainda não entendem a emergência climática.
Esse foi o tema de um artigo de opinião no The Hill, leitura obrigatória para jornalistas que cobrem o clima em todo o mundo. De autoria de dois dos mais afiados comunicadores do clima, Katharine Hayhoe, professora da Universidade de Tecnologia do Texas e cientista-chefe da The Nature Conservancy, e David Fenton, executivo de comunicações de carreira, o artigo argumenta que a mensagem do presidente dos EUA Joe Biden sobre ação climática – focada na criação de empregos em decorrência de iniciativas de infraestrutura e energia verde – é eficaz, mas, em última análise, incompleta.
Apenas 26% dos americanos dizem que estão “alarmados” com a mudança climática, de acordo com dados da pesquisa de opinião pública do Projeto Yale sobre Comunicações sobre Mudanças Climáticas.
Apenas 21% estão cientes de que existe um forte consenso científico sobre as causas e consequências das mudanças climáticas, e apenas 22% dizem que se informam sobre as mudanças climáticas pelo menos uma vez por mês.
A mensagem do governo Biden pode tornar a ação climática atraente, escrevem Hayhoe e Fenton, mas não consegue transmitir porque uma transformação rápida em toda a sociedade, como durante uma guerra, é imperativa para nossa sobrevivência coletiva.
Para jornalistas, existem lições essenciais para tirar das observações de Hayhoe e Fenton.
Em resumo: devemos reconhecer o quão pouco a maioria das pessoas entende sobre as mudanças climáticas e ajustar nossa cobertura de acordo, usando uma linguagem “falada”, mais simples, e tendo o cuidado de repetir o básico.
Em vez disso, com muita frequência, os jornalistas fazem reportagens para aqueles que já conhecem um determinado assunto – isto é, uns para os outros, em um círculo limitado de partes interessadas. Presumimos, erroneamente, que o que escrevemos ou transmitimos foi visto por todos os que importam, os que precisam ver as informações.
Priorizando a exclusividade – e talvez, vamos confessar, nossos egos – evitamos histórias que foram contadas em outro lugar e nos irritamos com a ideia de nos repetir. Em reuniões de pauta, é muito comum ouvir “O Times já fez isso” ou “Outra emissora teve aquele convidado na semana passada”.
Mas a repetição é a chave para perfurar a barreira na sociedade saturada de informações de hoje. Embora sejamos pagos por nossos empregadores, em uma democracia os jornalistas trabalham para o público. E a maioria da audiência não presta nem de perto tanta atenção às notícias quanto os jornalistas; eles precisam que nós os encontremos onde eles estão.
Para fazer isso, Hayhoe e Fenton recomendam o uso de declarações factuais diretas, como:
Para quem vem cobrindo a mudança climática há algum tempo, os fatos acima e suas implicações podem ser evidentes. Mas não é assim para o nosso público.
Portanto, devemos aproveitar todas as oportunidades para declará-los e repeti-los – em todas as matérias, de todos os ângulos, mesmo as que já foram feitas antes.
Isso não é para o bem da agenda de nenhum político. É pelo bem de um planeta habitável e do futuro de todos nós.
Este artigo foi publicado originalmente na Covering Climate Now, uma colaboração jornalística global destinada a ampliar e aprimorar a cobertura da imprensa sobre a emergência climática. O MediaTalks by J&Cia integra a iniciativa e reproduz o artigo.