Com o conflito entre israelenses e palestinos como pano de fundo, várias cidades da Alemanha vivenciaram nesta semana protestos contra Israel, muitos acompanhados de atos antissemitas, o que recebeu ampla condenação no país.
Nos últimos dias, a polícia alemã precisou intervir em protestos em algumas das principais cidades do país e reforçou a presença diante de sinagogas, que foram alvo de tentativas de depredação.
Em vários protestos, foram também queimadas bandeiras de Israel e outros símbolos do judaísmo, o que levou à veemente repreensão por parte de entidades judaicas e da classe política alemã.
Na sexta-feira (14/05), o governo Angela Merkel disse que protestos contra Israel são permitidos, mas que atos antissemitas não serão tolerados.
"Qualquer um que use esses protestos para externar seu ódio contra judeus está abusando do direito de protestos. Marchas antissemitas não serão toleradas na nossa democracia”, afirmou um porta-voz do governo.
Para o governo Merkel, quem protesta diante de sinagogas e ataca símbolos judaicos não está criticando um Estado, mas mostrando "agressão e ódio contra uma região e quem pertence a ela”.
O governo disse estar trabalhando para solucionar os crimes, punir os criminosos e proteger instituições judaicas.
A declaração foi dada horas depois de o embaixador de Israel na Alemanha, Jeremy Issacharoff, apelar às autoridades alemãs para que garantissem a segurança da comunidade judaica.
O presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Josef Schuster, apelou para que a população alemã não ignore o que está acontecendo. "Esperamos que os cidadãos se ergam contra este antissemitismo! E em voz alta e pública", disse ele, em comentários a uma convenção do partido.
"Basta! Não olhem para o lado! Não desculpem esse ódio contra os judeus que está sendo externado”, apelou Schuster, convidado a falar na convenção do partido liberal FDP.
O encarregado do governo alemão para o combate ao antissemitismo, Felix Klein, pediu às associações islâmicas na Alemanha que se levantassem contra a violência.
Klein disse ser terrível ver "como os judeus na Alemanha estão sendo responsabilizados aqui por ações do governo israelense com quais eles não tem nada a ver". Tal visão, afirmou ele, é "puro antissemitismo".
O chefe do Conselho Central para Muçulmanos na Alemanha, Aiman Mazyek, criticou fortemente os protestos antissemitas em frente às sinagogas. "Condeno decisivamente tais cenas repugnantes", disse ele na edição de sábado do jornal Rheinische Post.
"Quem reclama de racismo e ao mesmo tempo espalha tal ódio antissemita, perdeu tudo". Aqueles que supostamente querem criticar Israel, mas depois atacam sinagogas e judeus, atacam a todos nós", disse Mazyek.
Autoridades de várias cidades, como Frankfurt, proibiram protestos pró-palestinos programados para este sábado, citando preocupações de segurança. Este 15 de maio marca o aniversário da data em que milhares de palestinos deixaram o que hoje é território israelense, em 1948. Os palestinos chamam a data de Nakba (catástrofe).
Na sexta-feira à noite, vários políticos, como a ministra da Justiça Christine Lambrecht, a ministra da Cultura Monika Gruetters, e a candidata a chanceler federal do Partido Verde Annalena Baerbock participaram de um serviço de solidariedade realizado em uma sinagoga em Berlim.
"Ataques antissemitas, a queima de bandeiras israelenses, ódio e incitação contra as pessoas em nosso meio, isso não faz parte do discurso democrático, mas é um ataque à dignidade humana, não importa de quem venha ou de onde venha", disse Baerbock.
Os crimes de motivação política cresceram 8,5% na Alemanha em 2020 em comparação com o ano anterior, e aqueles cometidos pela extrema direita bateram recorde.
Dos incidentes criminais classificados como "crimes de expressão" – incluindo discurso de ódio e propaganda –, a grande maioria (65%) foi considerada como procedente de extremistas de direita.
O discurso de ódio antissemita também teve um aumento, com um crescimento de 15,7% nos incidentes, muitos dos quais realizados online.
Na semana passada, o governo alemão pediu que as autoridades municipais do país proíbam que manifestantes usem estrelas de Davi amarelas durante protestos contra as restrições impostas pela pandemia.
O símbolo é associado à perseguição dos judeus durante o Holocausto, quando as autoridades nazistas obrigaram a minoria a exibir estrelas amarelas em suas roupas, como uma espécie de "distintivo de vergonha".
Em protestos contra as medidas do governo para tentar conter a disseminação do coronavírus, alguns manifestantes vêm exibindo o símbolo, substituindo a palavra "Jude" (judeu, em alemão) no centro da estrela amarela por "ungeimpft" (não vacinado). A troca faz uma falsa comparação entre as medidas do governo alemão contra a pandemia e a perseguição aos judeus na época do nazismo.
rpr (dpa, ots)