A CPI da Pandemia vai questionar nesta quinta-feira (6) o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre a revelação de que o ministério propagandeou um número de vacinas contratadas inferior ao real. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), confirmou que esse será um dos principais assuntos a serem tratados com Queiroga.
— Amanhã vamos saber se tem ou não vacina e quais são os contratos. Vou esperar o ministro aqui com essa resposta — afirmou o senador em entrevista coletiva após a reunião da CPI desta quarta (5).
Nesta semana, a imprensa revelou que o Ministério da Saúde tem anunciado um número de doses que é aproximadamente o dobro do que foi efetivamente adquirido até agora. Em resposta oficial a um questionamento do deputado Gustavo Fruet (PDT-PR), a pasta admitiu ter 281 milhões de doses garantidas, e outras 282 milhões “em negociação”. O ministério vinha falando publicamente em 560 milhões de doses garantidas. O número foi citado, por exemplo, após a primeira reunião do Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento da Pandemia, em março.
Na semana que vem, a CPI ouvirá o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo. Um dos temas em pauta, segundo Omar Aziz, será a postura do Itamaraty diante da China durante a gestão de Ernesto Araújo. Para o senador, os ataques permanentes do ex-ministro ao país asiático podem ter prejudicado o Brasil em várias frentes.
— Vamos saber se o governo atrapalhou a chegada do IFA [ingrediente farmacêutico ativo, para fabricação de vacinas] chinês, mas não estamos tratando apenas disso. Quando você fecha parcerias comerciais e elas deixam de existir, demora anos para retomar. Não é só o vírus que mata brasileiros. Pode haver problemas econômicos. Um parceiro comercial como a China não dá para desprezar.
O presidente da CPI negou a possibilidade de adiantar uma convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes, em face dos depoimentos dos últimos dias. Os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich afirmaram que não viam interesse da pasta de Guedes no combate à pandemia. Apesar disso, Omar Aziz disse que não pretende alterar o plano de trabalho da comissão para trazer esse tema agora.
— No momento certo vamos chamar todo mundo, mas estamos seguindo uma cronologia — disse ele, lembrando que, segundo afirmou Teich nesta quarta, o Ministério da Economia não deixava de mandar recursos para a Saúde quando era solicitado.
Para o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, a disponibilidade de verbas não é o motivo pelo qual o ministro Paulo Guedes deve ser ouvido.
— O problema do Guedes não é o recurso. É que ele tem feito declarações estapafúrdias que soam para nós como uma autoconvocação dele — comentou.
A CPI aprovou nesta quarta uma audiência com duas autoridades de saúde do Amazonas: o atual secretário de Saúde, Marcellus Campêlo, e o ex-secretário-executivo de Saúde João Paulo Marques. Ainda não há data, mas esses deverão ser os primeiros depoimentos referentes à situação da pandemia nos estados. Após a reunião, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), autor de requerimentos para convocação dos servidores, avaliou que esse passo é importante para garantir a isenção da CPI.
— Apontamos a investigação para o caminho do dinheiro. A oposição trabalha com a narrativa de que o presidente da República é o grande culpado por tudo que está acontecendo, mas o que nos interessa é a busca pela verdade: atos do governo federal e o caminho do dinheiro que saiu de Brasília e chegou aos estados. O que foi feito com ele? — questionou.
O Amazonas foi o primeiro estado a reportar colapso hospitalar em função da pandemia, no início de 2021. Um dos focos da CPI é a apuração das responsabilidades pelo desabastecimento de insumos médicos no estado.