Na natureza, a Araucária (Araucaria angustifolia), espécie florestal nativa brasileira, leva de 12 a 15 anos para produzir sua semente: o pinhão. Bastante apreciado na alimentação, o pinhão é considerado alimento funcional, benéfico à saúde, além de não conter glúten. No entanto, a sua cadeia produtiva é baseada no extrativismo e praticamente não há organização. Por outro lado, a araucária está na lista das espécies ameaçadas de extinção e são necessárias ações para estimular seu plantio e conservação. Juntando todos estes fatores, um trabalho de pesquisa realizado pela Embrapa Florestas, em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), buscou conhecer melhor a espécie e viabilizar a produção de pinhões em menos tempo por meio da técnica de enxertia. A ideia é incentivar seu plantio, possibilitar a geração de renda a produtores rurais e aumentar a oferta de um alimento saudável à população.
Como resultado de 18 anos de pesquisa conduzidas pelo pesquisador Ivar Wendling, hoje produtores rurais têm acesso a metodologias de seleção de plantas superiores, enxertia e implantação de pomares de pinhão precoce que começam a produzir na metade do tempo: de seis a oito anos. Como a araucária é uma planta dioica (possui árvores-macho e árvores-fêmea), também foram desenvolvidas técnicas para antecipação da produção de pólen para fecundação das pinhas. Além disso, já existem cultivares registradas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e viveiros treinados na técnica.
Em Bituruna (PR), a araucária de pinhão precoce virou política pública e produtores rurais foram incentivados a plantar em suas propriedades. É o caso do Sr. Ernesto Zembruski. Além de fazer plantios e aprender a técnica, ele se tornou parceiro da pesquisa, realizando enxertos em mudas já existentes em áreas de pasto e também produzindo mudas para seu próprio consumo e para os vizinhos. “Ter uma araucária que produz em menos tempo é o sonho de todo produtor rural”, comemora Zembruski. Algumas árvores em sua propriedade surpreenderam e começaram a produzir pinhões aos quatro anos de idade. E a primeira colheita já foi feita, para satisfação e estímulo à produção. “É uma forma da gente ter renda e cuidar da araucária, essa árvore que é tão especial pra gente”, comemora o produtor. O Município também está se articulando, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) e Embrapa, para montar uma agroindústria para beneficiamento do pinhão, em especial para produção de farinhas.
A técnica utilizada, a enxertia, possibilita produzir pinhões com as características desejadas pelo mercado consumidor, pois é possível identificar e selecionar árvores matrizes de acordo com o que se deseja: época de produção, composição nutricional, produtividade, tamanho e formato do pinhão, entre outras. Além disso, a técnica possibilita a formação de enxertos de galho e de tronco, o que origina árvores em formatos diferentes que podem ser utilizadas de diversas formas na implantação dos pomares. Os enxertos de galho dão origem a árvores de porte arbustivo, com até 5 metros de altura. Já os enxertos de tronco dão origem a árvores maiores, com formação de tronco, que crescem como araucárias comuns mas vão produzir pinhas a uma altura mais baixa e mais precocemente.
A técnica despertou o interesse do empresário Cleverson Coradin, que atua no ramo madeireiro em Colombo/PR. Em sua propriedade, ele implantou meio hectare com pomar de pinhão precoce, em outubro de 2017. Coradin está animado e imagina, em breve, poder usufruir dos resultados tanto para consumo próprio quanto para venda. “A araucária é típica aqui da região, mas a gente percebe um aumento no interesse pelo pinhão. Então, esta técnica vai possibilitar um aumento na produção, o que pode ser muito bom para quem consome e para quem planta”, avalia Coradin. A empolgação é tanta que ele pretende, em breve, ampliar a área plantada.
“Além do consumo no mercado interno, percebemos um interesse do mercado internacional pelo pinhão por ser um alimento natural e por suas características benéficas à saúde. Mas, antes de tudo, precisamos aumentar a produção para termos uma constância de matéria-prima e não dependermos do extrativismo”, afirma Wendling.
Interessados na tecnologia podem consultar as publicações abaixo ou a Embrapa via SAC: www.embrapa.br/fale-conosco/sac