Relator da Comissão Temporária Covid-19 (CTCOVID-19), o senador Wellington Fagundes (PL-MT) afirmou nesta segunda-feira (19), em reunião para debater protocolos de tratamento da doença, que a desinformação é o maior problema do Brasil na pandemia. Segundo ele, o governo federal erra na forma de se comunicar com a população. Wellington ressaltou ainda que a política de saúde brasileira é elaborada pelo Poder Executivo, mas segundo ele a execução das ações de combate ao coronavírus cabe aos estados, ao Distrito Federal e, principalmente, aos municípios. Para o senador, as medidas de isolamento impostas pelos estados para conter o vírus são necessárias, mas devem ser feitas com critério e bom senso.
— É preciso melhorar a comunicação com a população para esclarecer o que é uma pandemia, ou seja, um problema alastrado no mundo inteiro. Infelizmente nossos meios de comunicação estão sendo usados erroneamente. Até agora, estamos perdendo vidas, justamente por não termos uma informação correta e adequada — declarou.
Participaram da audiência representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM), do Instituto Questão de Ciência (IQC) e de médicos intensivistas. Para eles, a ciência aliada à medicina, a vacinação em massa e uma comunicação adequada são as principais saídas para a pandemia.
Para a presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), Natália Pasternak, a ciência deve ser vista como aliada da medicina e da saúde pública, para que todas as decisões sejam tomadas com base em informações corretas e evidenciadas. Doutora em microbiologia, Natália disse que o tratamento precoce contra o coronavírus tem componentes desmentidos pela ciência. Segundo ela, existem evidências científicas, em mais de 30 estudos, de que medicamentos como ivermectina e hidroxicloroquina não funcionam. Natália lamentou o fato de médicos indicarem esses remédios, “numa tentativa desesperada de oferecer algo aos pacientes”.
— Anticoagulantes não são indicados para o tratamento. Inclusive, alguns são perigosos para a saúde. Antibióticos não devem ser receitados para infecções virais, e esse kit está sendo prescrito indiscriminadamente no Brasil. Há perigos em receitar esses medicamentos, principalmente num momento frágil, onde as pessoas estão desesperadas e com medo e os médicos precisam de respaldo claro do Ministério da Saúde para ter tranquilidade.
O vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Donizetti Giamberardino, alertou para o fato de que a prescrição inadequada de medicamentos pode levar os clínicos a responderem judicialmente. Ele disse que esses profissionais têm autonomia, mas não devem se exceder na indicação de exames e remédios excepcionais já que, segundo afirmou, “a medicina caminha ao lado de evidências científicas”.
— O médico tem capacidade e deve decidir, em dose e tempo corretos. E isso se refere a qualquer medicação. Mas essa autonomia é limitada ao benefício, e quem ultrapassar responde por isso — alertou.
Giamberardino defendeu a vacinação em massa como solução para a pandemia e pediu que a população esteja atenta às medidas de contenção do coronavírus: uso da máscara, higiene das mãos e distanciamento social.
— Precisamos dos esforços de todos os legisladores e executivos na compra da vacina. O melhor caminho, talvez, seria fábricas no Brasil, [já que] essa vacinação a conta-gotas tem um resultado menos efetivo do que a em massa. Precisamos de políticas públicas de conscientização da população, e não de condutas públicas que a confundam, o que é um desserviço — ponderou.
O médico intensivista Fabrício Silva lamentou que, de cada dez pacientes intubados com covid-19, oito morram no país. Ele comentou que os métodos de sedação e analgesia não são algo simples e que médicos recém-formados ainda estão imaturos para tratar da situação. O debatedor deu sugestões, como a elaboração de cartilha com passo a passo sobre esses procedimentos e cursos com orientações para atendimento dos pacientes iniciais. Ele também sugeriu a instalação de uma linha de discussão com o Ministério da Saúde, com plantão 24 horas, para que os profissionais possam discutir os casos mais sérios.
Para Fabrício, as autoridades precisam entendam as características de cada região do país, afim de colaborar com a padronização do tratamento dos infectados com covid-19, “numa linha de cuidado que seja única, de norte a sul do país”.
— É inegável o quanto saímos imaturos da graduação e despreparados para tratar um paciente crítico com covid. A ideia seria individualizar o cuidado, numa padronização que precisa atingir, de diferentes formas, os profissionais. Tanto os recém-formados quanto os mais experientes.
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