A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado rebateu nesta quinta-feira (25) críticas feitas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao trabalho do órgão. Em audiência na comissão temporária da covid-19 durante a manhã, Guedes disse que o órgão “tem previsões muito fracas” e "trabalha mal". A IFI destacou que afirmações atribuídas a ela pelo ministro não são verdadeiras.
Em nota assinada por seus diretores e conselheiros, o órgão informa que não prevê recessão ou rompimento do teto no ano de 2021, como Guedes alegou. Também não previu que a dívida pública atingiria 100% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, ao contrário do que disse o ministro.
“Os comentários feitos sobre as projeções da IFI para o PIB não são condizentes com a análise contida no Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) de março. A IFI mantém uma metodologia própria e transparente, também passível de avaliações. Os cenários preditivos são feitos com base em dados realizados e modelos matemáticos. É evidente que projeções podem ser frustradas, e isso não é demérito”, diz o documento.
O RAF de março — edição mais recente do estudo fiscal mensal publicado pela IFI — projeta um crescimento de 2,99% do PIB para 2021 (não uma recessão), e faz observações sobre o impacto negativo de medidas de restrição à circulação nessa taxa. A previsão para o teto de gastos é que ele seja rompido em 2025, com risco moderado de isso acontecer antes. Quanto ao endividamento do setor público, estima-se que ele encerrará o ano em 92,67% do PIB. As previsões são atualizadas e explicadas a cada nova edição do RAF.
Na nota, a IFI também ressalta que o seu relacionamento com a área técnica do Ministério da Economia “sempre foi profícuo” desde a criação do órgão do Senado, em 2016.
Durante a reunião da comissão que trata das ações de enfrentamento à pandemia, Paulo Guedes respondeu a um questionamento do senador Wellington Fagundes (PL-MT) que usava os dados da IFI sobre a possibilidade de menor crescimento da economia em função de medidas restritivas de circulação. O ministro rejeitou o uso da IFI como fonte para a questão.
— Eu acho que a IFI tem previsões muito fracas, tem trabalhado muito mal. Eu acho que até o Senado deveria rever um pouco quem é que lidera a IFI, porque, aparentemente, é um economista que tem errado dez em cada dez — disse Guedes.
Em rede social, o diretor-executivo da IFI, Felipe Salto, comentou o episódio, que disse lamentar. Para ele, tratou-se de um “ataque pessoal” do ministro Paulo Guedes, que revela “aversão ao contraditório”.
O senador José Serra (PSDB-SP), autor do projeto de resolução que criou a IFI, escreveu em apoio à instituição, afirmando ter confiança no trabalho feito por ela.
“A IFI é um instrumento do Estado para monitorar o cumprimento das regras fiscais. Sua função de comunicar com isenção e transparência é essencial.
Outros senadores também se manifestaram em apoio à IFI e repudiaram as declarações do ministro Paulo Guedes. O senador Antonio Anastasia (PSD-MG) escreveu que a instituição é “uma das mais relevantes e confiáveis” do país. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) classificou o trabalho do órgão como “qualificado e reconhecido nacionalmente”. O senador Tasso Jereissati afirmou que a IFI é “fundamental para o conhecimento das contas públicas”.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) criticou Guedes por tentar “tapar o sol com a peneira” ao tentar desacreditar a IFI. Já o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) opinou que o ministro “detestou ser desmascarado” pelas avaliações da instituição, e pediu que o ministro “cumpra seu papel e trabalhe”.
A economista Monica de Bolle, uma das integrantes do conselho da IFI, também repudiou a fala de Paulo Guedes, que afirmou ser uma postura “autoritária” e que ameaça a independência do órgão auxiliar do Senado.
Outras personalidades que se manifestaram em apoio à IFI e contra as declarações de Paulo Guedes foram como o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, além de inúmeros jornalistas e economistas.