A vila acolhe várias empresas e pessoal devido aos investimentos ali em curso. O número de trabalhadores afetados e nacionalidades é incerto.
Um funcionário moçambicano de uma empresa fugiu para a mata com dois trabalhadores estrangeiros de uma outra firma, depois de grupos armados começarem a atacar Palma, na tarde de quarta-feira, disse à Lusa um responsável pela empresa.
O mesmo responsável disse que não recebeu mais informação deles desde então, dado que as comunicações móveis deixarem de funcionar, sendo apenas possível troca de mensagens esporádica com algumas pessoas, nalguns pontos.
Numa dessas mensagens, um outro trabalhador dá conta de uma pausa nos tiroteios e diz esperar que a petrolífera Total os consiga resgatar.
Apesar das tentativas, a Lusa ainda não conseguiu obter informações por parte da petrolífera que lidera o projeto de construção em Afungi, a cerca de sete quilómetros de Palma.
De acordo com pessoas no local, o recinto do investimento não foi afetado – um espaço de vários hectares que inclui um aeródromo, construções modulares temporárias, uma aldeia de reassentamento, além de diferentes estaleiros.
Outra fonte disse à Lusa que muitas pessoas estão refugiadas numa unidade hoteleira, junto ao aeródromo da vila.
Segundo referiu, no início do ataque, na quarta-feira, um grupo visou a estrada que liga Palma ao recinto de construção dos projetos de gás, enquanto outro grupo se infiltrou na vila.
Os disparos de armas de fogo continuaram a ouvir-se durante a manhã de hoje na sede de distrito e em redor e helicópteros militares sobrevoam a zona.
A violência em Palma, que até aqui tinha sido poupada a três anos e meio de insurgência armada, acontece um ano depois de dois ataques que desencadearam a maior vaga de deslocados do conflito.
Entre 22 e 25 de março de 2020, grupos armados ocuparam durante mais de 24 horas as vilas sede de distrito de Mocímboa da Praia e, depois, Quissanga – nesta última, um alegado militante ‘jihadista’, de cara tapada e sob a bandeira do grupo extremista Estado Islâmico, publicou um vídeo anunciando o objetivo de impor uma lei islâmica em Moçambique.
Até então havia 156.400 deslocados por causa do conflito, enquanto hoje rondam quase 700.000, quatro vezes mais.
Algumas das incursões foram reivindicadas pelo EI entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.
O Ministério da Defesa de Moçambique confirmou hoje, numa declaração à imprensa sem direito a perguntas, o ataque armado a Palma atribuindo-o a “terroristas”.
“As forças de defesa e segurança estão a perseguir o movimento do inimigo e trabalham incansavelmente para restabelecer a segurança e a ordem com a maior rapidez”, disse o coronel Omar Saranga, porta-voz do Ministério da Defesa moçambicano.
O Ministério da Defesa apela à população para “se manter vigilante e serena enquanto procura espaços seguros”, pedindo colaboração com as autoridades, “denunciando os terroristas e homens armados para a sua neutralização”.
A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.