Em 14 de janeiro, para comemorar o fim do 8º Congresso do Partido dos Trabalhadores da Coreia, o líder norte-coreano Kim Jong-un presidiu um prestigioso desfile militar onde muitos novos modelos de equipamentos bélicos foram exibidos. Este foi o segundo desfile nos últimos meses, já que o último lote de novas armas foi revelado durante um desfile em outubro de 2020, na comemoração do 75º aniversário do Partido dos Trabalhadores da Coreia, de acordo com o jornal The Diplomat.
O desfile mais recente revelou rifles de precisão e lançadores de granadas semiautomáticos para tropas terrestres, destruidores de tanques e pesados lançadores múltiplos de foguetes (MLRS, na sigla em inglês) e, por último, um novo modelo de submarino lançador de mísseis balísticos (SLBM, na sigla em inglês).
À primeira vista, parece que Pyongyang está se envolvendo em um vigoroso programa de modernização militar, com o objetivo de se aproximar da liderança tecnológica que os EUA e a Coreia do Sul possuem em termos de armas convencionais, uma vez que a maior parte do material bélico da Coreia do Norte remonta, ou é baseado, a armas das décadas de 1960 a 1980.
No entanto, se as novas armas forem, de fato, utilizadas, a sua realidade operacional poderia muito bem ser substancialmente diferente da ameaça perceptiva retratada nos desfiles extravagantes de Pyongyang, explica o artigo.
Por outro lado, seria necessário que o Exército da Coreia do Norte adotasse uma doutrina viável para a incorporação de seus novos armamentos nos seus planos de guerra atuais. Contudo, uma vez que a Coreia do Norte não entrou em nenhum combate em grande escala desde o final da Guerra da Coreia em 1953, existem várias dúvidas quanto à eficácia das ditas novas doutrinas derivadas do Estado-Maior do Exército norte-coreano para a utilização de forma eficiente da aparente modernização militar testemunhada recentemente.
Além disso, mesmo que haja uma nova doutrina funcional, ainda resta a questão do treinamento das Forças Armadas no geral. As unidades militares precisam de treinamento suficiente e de exercícios regulares de manobra. Com base em comunicados da imprensa norte-coreana, podemos ver que os exercícios de suas forças consistem, predominantemente, em unidades concentradas disparando contra alvos estáticos ou elementos terrestres. Estas atividades são realizadas com pouca frequência, contrastando com os exercícios de manobra realizados pelos militares sul-coreanos frequentemente de forma unilateral, ou executados anualmente em conjunto com as forças dos EUA como parte de aliança.
Finalmente, os sistemas de armas implementados por Kim Jong-un não deveriam causar pânico em ninguém, pois não há maneira de avaliar a qualidade, ou capacidade, e a operacionalidade sustentável de tais armamentos, conforme a mídia. Com exportações de armas para a Coreia do Norte proibidas desde 2006, a indústria de defesa norte-coreana foi privada de transferência de tecnologia e, desse modo, tem operado isoladamente, contando com tecnologia de duplo uso, pesquisa doméstica e amostras de armas contrabandeadas de engenharia reversa.
É improvável que tais condições para a pesquisa e desenvolvimento militares, juntamente com uma economia empobrecida, produzam equipamentos competitivos a nível internacional, mesmo que pareçam bem em desfiles, destaca o The Diplomat.
O novo SLBM da Coreia do Norte, o Pukkuksong-5, que fez sua estreia durante o desfile militar em 14 de janeiro, é certamente impressionante, mas seu efeito dissuasor prático seria bastante limitado.
Em primeiro lugar, a dissuasão nuclear efetiva por meio de submarinos exige que os submarinos com resistência ultralonga realizem patrulhas submersas extensas, geralmente de várias semanas, sem possibilidade de reabastecimento, de modo a maximizar sua furtividade. Kim Jong-un teria prometido a construção de tal submarino, mas até agora parece que nada ainda foi feito, diz a mídia.
De igual modo, mesmo que o líder norte-coreano conseguisse a construção de uma dessas embarcações, e se o Pukkuksong-5 funcionasse com credibilidade, alcance e precisão aceitáveis, tal dissuasão marítima submersa enfrentaria o desafio de tentar não ser afundado prematuramente pelas três forças antissubmarino mais avançadas na Ásia, pertencentes aos EUA, Japão e Coreia do Sul, concluiu a mídia.
Como o desenvolvimento de ogivas nucleares, a pesquisa e a construção de mísseis balísticos e a fabricação de armas convencionais são extremamente caras, sendo previsível que os gastos em defesa representem a maior parte do orçamento anual da Coreia do Norte. Na verdade, Pyongyang gasta, supostamente, cerca de 23% do PIB da Coreia do Norte nesse setor.
A mídia questionou motivos justificáveis para o país despediçar recursos com armamento, afirmando que estes não foram dados por "nenhum dos dois principais adversários oficiais da Coreia do Norte, os EUA e a Coreia do Sul".
The Diplomat apontou que é previsível que Washington e Seul continuem concentrando seus esforços em convencer a comunidade internacional a ser mais assertiva na implementação das sanções existentes da ONU, de modo a que as tentativas de desenvolvimento militar por parte da Coreia do Norte sejam dificultadas.