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Reconhecida mundialmente como o berço do balé clássico, a Ópera Nacional de Paris compartilha agora parte de sua tradição com jovens talentos brasileiros. Em uma parceria inédita com o Centro Cultural Teatro Guaíra, a Secretaria de Estado da Cultura e o Governo do Paraná, a instituição francesa realizou masterclasses exclusivas para os alunos da Escola de Dança Teatro Guaíra (EDTG) nesta semana.
As aulas foram conduzidas por Élisabeth Platel, diretora da Escola da Ópera de Paris e uma das mais respeitadas figuras da dança mundial, e pelos étoiles — grau mais alto que um bailarino pode alcançar no Balé da Ópera de Paris — Alice Renavand e Stéphane Bullion.
A iniciativa marca também o início das comemorações pelos 70 anos da Escola de Dança Teatro Guaíra, o mais antigo corpo artístico do Centro Cultural Teatro Guaíra, que completará sete décadas de história em abril de 2026. “As estrelas da Ópera de Paris estão vindo aqui, muitas delas a gente só conhecia por vídeo, pela televisão. É muito importante e significativa essa troca de experiência, e é um presente para esses 70 anos da Escola de Dança”, celebra Cleverson Cavalheiro, diretor-presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra.
Reconhecida como o ponto de partida do balé clássico, a Ópera Nacional de Paris ocupa um lugar singular na história da dança. Fundada em 1669 por Luís XIV, foi a instituição responsável por transformar a dança em arte de palco e por estabelecer as bases técnicas e estéticas que até hoje orientam o balé clássico em todo o mundo. Da codificação dos passos e posições à criação da Escola de Dança da Ópera de Paris, em 1713 — a mais antiga em atividade —, sua trajetória se confunde com a própria evolução dessa arte.
Larissa Pansera, diretora da Escola de Dança Teatro Guaíra, que atuou como bailarina no Balé Teatro Guaíra entre 1999 até 2005 e na Cia. Deborah Colker de 2006 até 2013, teve os bailarinos da Ópera de Paris como referência desde os primeiros anos de formação. Ela acompanhou as masterclasses ministradas por Élisabeth Platel na última segunda-feira (6).
“A Élisabeth foi uma referência para mim quando eu era criança. No tempo que ainda existia VHS, eu pegava vídeos na locadora e assistia ela dançando. Ela é uma bailarina incrível e eu pude vê-la dando aula, e é impressionante ver como ela se mexe, como é tudo no lugar certo. Ela deu dicas muito valiosas”, disse Larissa.
“Estou muito feliz com essa parceria. Foram três dias intensos e muito enriquecedores, marcados por encontros, trocas de experiências e correções construtivas que contribuíram enormemente para o crescimento de todos — alunos, professores e também para mim”, afirmou a diretora da EDTG. “Espero que este seja apenas o começo de uma relação duradoura, um ‘até breve’ que se transforme em uma parceria contínua.”
Sob a liderança de Élisabeth, a Escola da Ópera de Paris mantém o rigor técnico e o refinamento artístico que a tornaram referência mundial. “Eu gostei de descobrir a energia dos alunos da Escola de Dança Teatro Guaíra e senti vontade de lhes oferecer soluções para que pudessem ir ainda mais longe na pureza e na exatidão dos movimentos, a fim de avançar na técnica”, afirmou a professora.
As masterclasses contaram com apoio de uma intérprete, que traduziu as instruções dos bailarinos franceses. Mas, em muitos momentos, a tradução se tornou dispensável. “Mesmo que eu não pudesse dar correções em português, a dança é uma linguagem universal, e as alunas conseguiram entender, mesmo que eu apenas mostrasse. Conseguimos nos comunicar com olhares e com o movimento, e isso era o mais importante”, disse Élisabeth.
A companhia de balé da Ópera de Paris é a preferida de Maria Clara Nery, de 15 anos, que está no último ano de formação da EDTG. “Foi uma experiência muito surpreendente. Eu estava um pouco nervosa por saber que a diretora da Escola da Ópera de Paris estaria aqui. É muito gratificante poder ter aula com alguém de tão longe e tão importante. Eu me esforcei muito para tentar mostrar tudo o que a gente aprendeu”, afirmou.
Laura Maria de Ramos Strozzi, de 17 anos, também participou das masterclasses de dança. “Eu achei muito bom ter vários professores convidados aqui para dar aulas para a gente. Acho lindo a metodologia da Escola da Ópera de Paris, eu gostaria de ser uma bailarina de lá”, conta a aluna da EDTG.
TROCA DE EXPERIÊNCIAS – Os étoiles Alice Renavand e Stéphane Bullion ministraram as masterclasses de segunda a quarta, 6 a 8 de outubro. Para Bullion, que integrou o Balé da Ópera de Paris por três décadas, o encontro com jovens bailarinos representa uma oportunidade de perpetuar o legado que recebeu.
“O que me interessava era sobretudo saber o que eu ia fazer com aquilo que me foi transmitido, ensinado. Eu tinha um verdadeiro aperto no coração de partir sem tentar fazer com que isso servisse a alguém. A primeira motivação é justamente essa: retribuir o que aprendi, transmitir o que tantos me deram de forma generosa à geração futura”, afirmou.
Sobre o trabalho desenvolvido com os alunos da EDTG, o étoile explicou que preferiu adaptar-se ao grupo, respeitando o processo de cada um. “Eu não tinha planos específicos. Primeiro é preciso que a gente se conheça, para ver em que ponto eles estão, como trabalham, conhecer um pouco a escola. Depois, tentei me adaptar e fazê-los descobrir coisas que não estão acostumados a ouvir, ou que até já ouviram, mas ainda não conseguem sentir ou aplicar”, disse.
Para ele, essa troca carrega também a herança da instituição que o formou: “Eu cresci dentro da escola da Ópera e estou nela há 30 anos. Estou impregnado por essa casa e por essa escola. Todas as pessoas que me transmitiram conhecimento passaram por ela — sou um produto dessa casa”, afirmou.
Alice Renavand também destacou a emoção de compartilhar sua experiência com jovens de outro país. “Estou muito feliz de estar aqui no Brasil. É realmente interessante e instrutivo vir a outro país e poder compartilhar nossa escola de dança francesa. Os alunos são muito entusiasmados, e é um prazer enorme, uma verdadeira troca”, disse.
Ao falar sobre os desafios da formação artística, ela deixou uma mensagem aos jovens brasileiros: “Meu conselho é trabalhar muito, mas também manter o prazer e sempre se perguntar por que fazemos as coisas. É preciso aceitar que o caminho até se tornar um grande bailarino leva tempo, exige esforço e repetição. O segredo é encontrar prazer nesse processo. Manter a exigência técnica para, depois, ser livre e realmente dançar, expressando-se artisticamente.”
Alice encerrou reforçando o valor do intercâmbio entre os países: “Espero que isso os inspire tanto os bailarinos quanto os professores. Estamos aqui para dar, mostrar e trocar. Espero que possamos lhes oferecer um pouco de alegria e ideias para refletir e evoluir. A França e o Brasil têm algo em comum, e espero que, por meio da dança e da arte, possamos realmente fazer algo juntos.”
PARCERIA–Desde 1985, as Temporadas Cruzadas promovem o intercâmbio artístico entre a França e diversos países. Em 2025, Brasil e França se reencontram vinte anos após a primeira temporada brasileira na França, “Brasil, Brasis”. Com apoio dos governos de ambos os países, a nova edição busca renovar os laços culturais e incentivar novas colaborações, colocando a arte como elemento central da diplomacia entre as nações.
Além da masterclass de dança, foram realizadas masterclasses de música exclusivas para alunos da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap/Unespar). As masterclasses e o concerto no Teatro Guaíra são fruto de um trabalho articulado desde maio de 2024 pelo Centro Cultural Teatro Guaíra, pela Secretaria de Estado da Cultura e pelo Governo do Paraná, no âmbito da Temporada França-Brasil 2025.
