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Da identificação de vítimas às causas: como atua a Polícia Científica em grandes acidentes
Se por um lado a atuação da PCIPR exige lidar com cenários complexos e a pressão por respostas rápidas, por outro vai muito além da simples coleta...
01/10/2025 10h56
Por: Redação Fonte: Secom Paraná

Casos de acidentes de grande impacto, como a explosão ocorrida em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba, em agosto, chamam a atenção e levantam muitas dúvidas sobre o trabalho da Polícia Científica do Paraná (PCIPR). Afinal, como os peritos e técnicos atuam em situações tão desafiadoras? Apesar da importância do ofício, é comum que muitos não saibam, de fato, como tudo acontece na prática.

Se por um lado a atuação exige lidar com cenários complexos e a pressão por respostas rápidas, por outro vai muito além da simples coleta de vestígios. É um trabalho que envolve coordenação entre diferentes órgãos, uso de tecnologia avançada e a integração de especialistas de várias áreas — tudo pensado para reconstruir, passo a passo, o ocorrido. Nessas situações, o papel da perícia criminal e das equipes de ciência forense é decisivo para esclarecer os fatos e oferecer respostas às famílias.

“O trabalho tem início com o isolamento rigoroso da área e uma avaliação preliminar das características do evento, das necessidades materiais e de pessoal, além da identificação dos riscos envolvidos. Após a garantia plena das condições de segurança para todos os peritos e técnicos envolvidos, a equipe da Polícia Científica acessa o local”, explica o chefe da Divisão Operacional da PCIPR, Leonel Letnar Junior.

Em casos de acidentes de grande porte, assim que o acesso é autorizado, os policiais científicos iniciam um mapeamento detalhado da área. São registradas imagens, coletadas amostras e preservados vestígios que possam contribuir para a reconstituição dos fatos. Cada detalhe importa — da disposição dos objetos a pequenos fragmentos que, muitas vezes, tornam-se peças-chave para explicar a dinâmica do caso.

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DIVERSIDADE DE EXAMES PERICIAIS —Quando se fala em incidentes que apresentam alta complexidade técnica, seja pela dificuldade de acesso, volume de informações ou pela natureza do caso, cada análise se torna única. Por isso, diferentes tipos de perícias podem ser realizadas nestes casos. Em algumas situações, a análise pode passar pelas seções de perícias em local crime, engenharia, química, balística, perícia ambiental, computação forense e, claro, pela identificação de vítimas.

Essa diversidade pode, inclusive, estender-se às investigações de crimes cibernéticos. Um exemplo é abordado na série Adolescência, da Netflix, que alerta para os riscos do ambiente online e reforça a importância do trabalho técnico e investigativo. Nesse contexto, a Polícia Científica atua na análise de dispositivos digitais e físicos ligados a crimes cibernéticos, como casos de aliciamento e exploração sexual infantil. As perícias ocorrem tanto em operações de busca e apreensão, no local, quanto em laboratório, onde os equipamentos são examinados para identificar e comprovar o uso ilícito de conteúdo.

Os laudos técnicos seguem a mesma lógica: podem incluir testes químicos para identificar substâncias tóxicas, exames físicos para verificar falhas estruturais e análise de aparelhos eletrônicos. Todas as informações são cruzadas com rigor, garantindo precisão e confiabilidade nas respostas.

Como explica Letnar, é justamente essa integração que faz a diferença no momento de determinar a causa do evento. “A perícia cruza informações e vestígios, como registros de operação, condições dos equipamentos e, eventualmente, depoimentos. Assim, é possível identificar, por exemplo, se um defeito decorreu de uso incorreto, desgaste natural, falta de manutenção ou até de eventos externos, como sabotagem”, afirma.

Independentemente da complexidade do caso, o objetivo permanece o mesmo: oferecer respostas técnicas, precisas e imparciais para apoiar as investigações e garantir mais segurança à sociedade.

IDENTIFICAÇÃO DE VÍTIMAS —A atuação da Polícia Científica também é decisiva na identificação de vítimas. Desde o início da ocorrência, equipes especializadas são mobilizadas para a recuperação de corpos e vestígios, utilizando técnicas de análise biológica, odontológica e, quando necessário, exames de DNA.

“O diferencial para o rápido processo está na execução simultânea de diversas etapas: equipes de antropologia forense são deslocadas ao local, profissionais de tanatologia (estudo científico da morte) forense realizam a separação de amostras e reforçamos a custódia de vestígios enquanto o efetivo da Seção de Genética Molecular Forense se dedica integralmente ao caso”, explica o chefe da Divisão Operacional da PCIPR.

Em fevereiro deste ano, graças ao trabalho de análise de vestígios, especialistas conseguiram identificar mais uma vítima da tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho (MG). O caso reafirma como o avanço das técnicas de análise genética e a preservação adequada dos materiais são fundamentais para oferecer respostas, mesmo após seis anos.