O livro “Vamô Vadiá Nesta Lezeira”, de Eduardo Pontin e Francisca Sousa, é semifinalista do maior concurso literário do Brasil, o Prêmio Jabuti, na categoria Artes. A obra retrata quilombos e comunidades rurais tradicionais do sertão do Piauí, onde a Lezeira, uma dança afro-indígena, é fortemente praticada de modo secular por lavradores.
Os autores realizaram pesquisa de campo de dois anos, colhendo informações orais com mais de 150 pessoas ligadas as práticas de cultura popular, o que resultou numa obra que reflete diretamente a realidade da comunidade da Lezeira. A publicação foi viabilizada pela Secretaria de Estado da Cultura, por meio do Sistema de Incentivo Estadual à Cultura (SIEC).
A pesquisa do livro vem cumprindo importante papel social, possibilitando um contínuo processo de legitimação desta expressão cultural. Hoje, oito mestras e mestres de Lezeira são certificados como Patrimônios Vivos da Cultura do Piauí pelo Governo do Estado, reconhecimento que proporciona bolsa financeira mensal vitalícia para a perpetuação de seus saberes. Além disso, a obra “Vamô Vadiá Nesta Lezeira” está sendo avaliada para se tornar o dossiê que subsidia o registro para que a Lezeira se torne Patrimônio Cultural Brasileiro junto ao Iphan. Todo esse processo de patrimonialização e legitimação vem ocorrendo após o início da pesquisa e da publicação do livro de Eduardo e Francisca.
A obra tem formato multimídia, pois, além da literatura, dialoga diretamente com outras expressões artísticas, sendo um documento poético-sonoro-fotográfico. Isso porque, especialmente para a publicação do livro, foram gravados seis álbuns digitais por meio de estúdio itinerante profissional, que captou a sonoridade de rodas de Lezeira ocorrendo em tempo real nos chãos de terra batida onde ela acontece. Assim, ao longo do livro, o leitor pode tanto ler as letras das cantigas e quadras da Lezeira, como também escutá-las, num raro passeio musical ao sertão piauiense.
O livro também é constituído por mais de 150 fotografias autorais, o que permite ao leitor conhecer os protagonistas da Lezeira. Por fim, a obra se encerra com uma coleção de mais de 1.000 quadras pertencentes a tradição da poesia oral brasileira.