A repercussão de uma cena de violência sexual em uma novela de grande audiência trouxe novamente à tona a dura realidade enfrentada por muitas de mulheres. Na novela "Dona de Mim", a personagem Kami foi vítima de um crime que chocou o público — e embora a trama seja ficcional, a situação reflete desafios reais. Em Curitiba, desde abril de 2024, o Posto Avançado da Polícia Científica do Paraná (PCIPR) funciona na Casa da Mulher Brasileira (CMB), oferecendo exames periciais diretamente no local de acolhimento às vítimas.
Desde a sua implantação, o posto já realizou centenas de exames de corpo de delito, garantindo que mulheres e crianças em situação de violência recebam atendimento pericial no mesmo espaço em que encontram apoio psicológico, jurídico e policial. Entre os exames realizados no posto, está aquele que identifica vestígios dos agressores, presentes tanto na roupa quanto no corpo das vítimas.
Sobre a importância de preservar esses vestígios, o perito oficial Jose Leprevost explica que, apesar do impulso, é importante procurar um serviço de saúde para realizar a coleta. “A vítima tende a querer se desvincular do que aconteceu, então é claro que o primeiro impulso é se higienizar, tentar tirar qualquer tipo de resíduo do que possa ter acontecido, qualquer tipo de marca. Mas para a perícia é importante ter a coleta desse vestígio. Por isso, a melhor coisa a ser feita, em primeiro lugar, é a vítima entender que não tem culpa nenhuma disso”, diz.
Assim, o especialista indica que, o quanto antes, a mulher procure serviços de saúde em hospitais que são referência para esse atendimento, como o Evangélico Mackenzie e Pequeno Príncipe, em Curitiba. “Nesses locais, os profissionais solicitam às delegacias o boletim de ocorrência e uma requisição de exames, e nós somos acionados para ir até o hospital, fazer a perícia e a coleta dos vestígios”, completa.
Antes da criação da estrutura, era necessário o deslocamento da vítima até a sede da Polícia Científica no Tarumã, o que dificultava o processo e, em muitos casos, resultava em desistências. Agora, com o serviço disponível dentro da Casa da Mulher Brasileira, o atendimento se tornou mais ágil e humanizado, evitando a revitimização em um momento de extrema fragilidade.
O funcionamento do posto fortalece a rede de enfrentamento à violência, assegurando que as provas técnicas, essenciais para responsabilizar os agressores, sejam coletadas de forma rápida e eficiente. O atendimento é voltado a mulheres vítimas de violência, crianças até 14 anos e casos encaminhados diretamente pela Casa da Mulher Brasileira. Ao reduzir o tempo entre relato e exame e ao prestar o serviço em local de acolhimento, o posto ajuda a minimizar a revitimização — um problema que afasta muitas vítimas de buscar plena justiça.
QUEDA EM TODO O ESTADO– O Paraná apresentou uma queda significativa nos casos de estupro nos primeiros sete meses de 2025. Ao todo, foram contabilizadas 3.586 ocorrências entre janeiro e julho, frente a 4.429 no mesmo período de 2024 – uma redução de 19%. Os dados refletem o investimento da Secretaria da Segurança Pública e do Governo do Estado em medidas que consolidam políticas preventivas e de enfrentamento à violência contra a mulher.
Entre as iniciativas que contribuíram para esse avanço está o Programa Mulher Segura, que integra a Operação Vida e atua diretamente nas comunidades com foco na prevenção, proteção e combate à violência contra a mulher. O programa promove ações educativas, visitas técnicas e articulação entre setores, alcançando um número cada vez maior de pessoas e municípios.
Para denúncias, além do número 190 da Polícia Militar, que é utilizado para quando o fato está ocorrendo, as vítimas podem recorrer ao telefone 181 para denunciar anonimamente a violência. A Polícia Civil do Paraná (PCPR) conta ainda com telefone 197 para denúncias.
CASA DA MULHER BRASILEIRA– A CMB está no bairro Cabral, em Curitiba, e conta com serviços de apoio psicossocial e de garantia de direitos, sendo um centro de referência no atendimento a todos os tipos de violência previstos na Lei Maria da Penha, Lei n.º 11.340/2006: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.
Sob coordenação e gestão da Prefeitura Municipal de Curitiba, a instituição engloba, além dos serviços e apoios previstos, também os serviços voltados à autonomia econômica, central de transportes, brinquedoteca, espaço pet e encaminhamentos para abrigos quando necessário.