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Fintech suspeita de movimentar dinheiro do PCC recebeu R$ 83 milhões do governo do Paraná

A fintech já tinha outro contrato prestes a ser firmado com o governo de Ratinho Júnior (PSD)

Redação
Por: Redação Fonte: https://www.plural.jor.br/fintech-suspeita-de-movimentar-dinheiro-do-pcc-recebeu-r-83-milhoes-do-governo-do-parana/
03/09/2025 às 12h28
Fintech suspeita de movimentar dinheiro do PCC recebeu R$ 83 milhões do governo do Paraná
Roberto Dziura Jr/AEN

Entre 2023 e 2024, o governo do Paraná pagou cerca de R$ 83 milhões para a BK Instituição de Pagamento S.A., fintech investigada pela Receita Federal na operação Carbono Oculto sob suspeita de movimentar recursos da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A fintech já tinha outro contrato prestes a ser firmado com o governo de Ratinho Júnior (PSD), mas a assinatura foi suspensa após a operação da semana passada, que envolveu a Receita Federal e o Ministério Público de oito estados.

O BK Bank foi contratado por meio de pregão eletrônico aberto em fevereiro de 2023, para gerenciar o Programa Estadual de Transferência de Renda (PETR), criado em 2021 pelo governo de Ratinho Júnior (PSD) para repassar R$ 80 por mês para famílias em situação de vulnerabilidade social. O valor finalizado foi de R$ 255,6 milhões pelo período de um ano, entre 9 de junho de 2023 e 8 de junho de 2024. 

Segundo o Portal da Transparência do governo, o total pago à Fintech pela execução do contrato foi de R$ 83.468.633,52. Foram R$ 55.109.790,32 em 2023 outros R$ R$ 27.554.895,16 no ano passado. O contrato foi firmado com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social e Família, para administração, emissão, distribuição, fornecimento e recarga de cartão magnético utilizado no programa de transferência de renda. Em junho do ano passado, o secretário Rogério Carboni assinou um termo aditivo que prorrogou a prestação dos serviços por mais três meses.

Neste ano, o governo do Paraná abriu um novo pregão para o gerenciamento do Cartão Comida Boa, como ficou conhecido o PETR. O BK Bank venceu novamente, desta vez com a previsão de pagamento de R$ 108 milhões. Segundo a Secretaria de Estado da Administração e Previdência (Seap), a assinatura do contrato foi suspensa até a empresa prestar informações. O governo ainda determinou que a Controladoria-Geral do Estado (CGE) acompanhe o processo e adote as medidas cabíveis.

A operação Carbono Oculto foi feita em parceria da Receita Federal com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e apoio dos MPs de Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Espírito. Os fiscais identificaram um terminal do Porto de Paranaguá como porta de entrada de metanol irregular, que seria utilizado pelo PCC para produzir, distribuir e comercializar combustível adulterado em postos. Em Curitiba, 46 postos teriam vendido combustível adulterado.

O terminal suspeito, segundo a PF, é PAR 50, privatizado em 2023 pelo governo de Ratinho Júnior. Ele foi arrematado em leilão na B3, em São Paulo, em fevereiro de 2023, por R$ 1 milhão, pelo FTS Group. Em novembro de 2023, a Liquipar Operações Portuárias S.A., empresa que pertencia ao FTS Group, foi adquirida pela Stronghold Infra Investiments, que atualmente controla o terminal. 

Na segunda-feira (1º de setembro), a oposição a Ratinho Júnior na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) criticou os modelos de privatização e concessão no estado. Segundo o lider da oposição, deputado Arilson Chiorato (PT), o modelo permite que participantes de processos licitatórios não sejam identificados, o que abre brechas para a atuação do crime organizado – como seria o caso do terminal em Paranaguá.

Em entrevista na quinta-feira da semana passada (28 de agosto), em São Paulo, representantes dos órgãos envolvidos na operação Carbono Oculto disseram que as fintechs têm papel fundamental na ocultação de recursos do crime organizado. 

“O crime organizado se infiltra na economia formal e ficou demonstrado que ele tomou conta de todos os elos da cadeia de combustíveis”, disse Márcia Cecilia Meng, superintende da 8ª Região Fiscal da Receita Federal. “Essas fintechs bancarizam o dinheiro do crime organizado. Há a blindagem dentro do mercado do capitais. Esses fundos de investimentos são fundos imobiliários, eles fazem com o capital que passe a render. Os antigos traficantes enterravam o dinheiro, hoje eles bancarizam”.

Robinson Sakiyama Barreirinhas, secretário especial da Receita Federal, disse que há uma brecha legal que permite ao crime organizado ocultar recursos em fintechs. Segundo ele, em setembro do ano passado a Receita emitiu uma instrução normativa para fiscalizar as operações financeiras, mas o órgão passou a receber ataques nas redes sociais e teve revogar a medida.

Barreirinhas não citou nomes, mas se referiu ao vídeo do deputado federal bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), que acusou o governo Lula de tentar "taxar o pix". O vídeo teve cerca de 200 milhões de visualizações nas rede sociais, o que levou a Receita Federal a revogar a normativa.

"No cerne de todas as operações aparecem as fintechs", afirmou o secretário especial da Receita. "Muitas delas são instrumentalizadas pelo crime organizado para movimentar, ocultar e lavar dinheiro. E agora de maneira mais sofisticada, utilizando-se de fundos de investimentos".

"A instrução normativa estendia às fintechs a mesma obrigação de transparência de todas as instituições financeiras, mas a Receita Federal recebeu o maior ataque de suas história, com mentiras, dizendo que seria uma tributação. Quem ganhou com as mentiras foi o crime organizado".
Róbson Barreirinhas, secretário especial da Receita Federal, sobre o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira

Para Robinson Barreirinhas, o Brasil tem um "paraíso fiscal" nas fintechs. "Temos um paraíso fiscal com as fintechs, a novidade agora são os fundos. A fintech não tem agências, o dinheiro entra por meio de contas bolsão, que estão dentro de instituições financeiras normais, só que essas contas estão em nome da fintech, não no nome do real destinatário. Ela repassa esses valores para gestores, que investem em um fundo e injeta esse recurso no mercado via empréstimos ou aquisição de debêntures. Essa empresa lava dinheiro e adquire bens".

Promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-SP, João Paulo Gabriel afirmou que o crime organizado cria camadas de ocultação dos recursos, baseadas em empresas de fachada. "Conforme o estado vai identificando essas fraudes, eles passam a desconstituir essas empresas. O grupo como se espalha, se fragmenta nessa rede e o estado não consegue alcançar o patrimônio. O objetivo da operação foi mapear essa rede e identificamos que ela atua em todo o setor, a começar pelas usinas de álcool, as distribuidoras e a rede de postos".

Yuri Fisberg, também promotor do Gaeco-SP, disse que alguns postos chegam a vender gasolina com 90% de metanol – quando o máximo permitido pela Agência nacional de Petróleo (ANP) é de 0,5%. "É arriscado para pessoas, veículos e para o meio ambiente. Esse metanol é importado em especial por Paranaguá e devia ir para (empresas) químicas, mas em geral são empresas químicas de fachada ou que têm atuação paralela de desvio. Todo esse movimento é transferido para uma fintech, que nega vínculo com a maioria dos investigados".

Em nota, o BK Bank diz que atua em conformidade com a lei e que ainda não foi notificado sobre a suspensão da assinatura do novo contrato com o governo do Paraná. Segue a nota:

O BK Bank, representado pelo escritório Fernando José da Costa – Advogados, esclarece que foi surpreendido ao ser injustamente mencionado nas notícias veiculadas na mídia nacional, relacionadas à operação denominada Carbono Oculto, deflagrada em 28/08/2025.

Ressalta que o Bk Bank é Instituição de Pagamento autorizada pelo Banco Central, que atua há mais de 13 anos no mercado, prestando serviços para a administração pública e setor privado, de maneira idônea e com conformidade regulatória.

Afirma que o seu compromisso com a legalidade é público e inegociável, e que jamais compactua com práticas ilícitas, e que segue colaborando com as investigações.

Referente a eventual suspensão da assinatura do contrato com o Governo do Paraná, para execução do programa Comida Boa, informa que até o momento, não foi formalmente notificada sobre eventual decisão de suspensão, mas que se coloca à disposição da administração pública, para prestar as informações que se fizerem necessárias.

Destaca ainda que a Instituição permanece executando suas atividades de forma regular, e que segue empenhado em garantir o cumprimento de todas as suas obrigações contratuais.

Em nota enviada ao Plural, a Liquipar informou que nunca movimentou cargas de combustíveis no Porto de Paranaguá, pois a ordem de serviço foi emitida em junho deste ano. Segue a nota da empresa:

A Liquipar Operações Portuárias esclarece que jamais movimentou qualquer carga de combustíveis, incluindo metanol, no Terminal PAR50, no Porto de Paranaguá. Desde que assumiu a administração do terminal, em abril de 2024, a Liquipar ainda não realizou nenhuma operação, inclusive, seus tanques permanecem vazios e nenhum tipo de produto foi movimentado até o presente momento.

A ordem de serviço, que é emitida pela Autoridade Portuária e é indispensável para o início das operações, só foi expedida em junho de 2025. Até então, o terminal não estava apto a operar, o que tornaria tecnicamente impossível qualquer movimentação de cargas nesse período.

É importante ressaltar que o licenciamento concedido pelo órgão ambiental IAT, não contempla a movimentação de metanol, limitando-se apenas a diesel, biodiesel e etanol;

Essas informações podem ser facilmente comprovadas:

- Pelas guias de importação, que não registram qualquer operação realizada pela Liquipar;

- Pelas estatísticas oficiais disponíveis no site da Portos do Paraná;

- Pelo ofício expedido pela Autoridade Portuária (PROTOCOLO nº: 24.368.330-0) em 6 de agosto de 2025 no qual solicita explicações pela ausência de movimentação junto ao terminal da Liquipar, o que comprova de forma inequívoca e incontroversa, que até o presente momento, não há qualquer movimentação de produtos no PAR 50, área arrendada cujo arrendatário é a Liquipar;

Além disso, destaca que:

- Todas as operações portuárias são controladas e fiscalizadas pela ANTAQ, Receita Federal, Portos do Paraná e demais autoridades competentes;

O investimento de R$ 572 milhões anunciado pela empresa tem como objetivo exclusivo a modernização, a segurança e a ampliação da infraestrutura do terminal, de acordo com o previsto no contrato de arrendamento, em conformidade com todas as exigências legais e ambientais.

A Liquipar é por definição um terminal portuário destinado ao armazenamento de líquidos em tanques fixos, ela não realiza transporte de mercadorias ou tampouco formula combustíveis.

A Liquipar atua com absoluta transparência e está à disposição das autoridades para cooperar com as investigações, prestando todos os esclarecimentos necessários, em coerência com seu compromisso com a legalidade, a segurança e o desenvolvimento do Porto de Paranaguá.

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