O projeto Aeropolvo entregou mais de 150 polvinhos nesta terça-feira (2), em Cascavel. Os polvinhos são bonecos de crochê em forma de polvo produzidos por pessoas privadas de liberdade para crianças em situação de emergência médica. A entrega dos bonecos aconteceu na sede do Conselho da Comunidade de Cascavel e contou com a presença de representantes de todas as instituições envolvidas no projeto colaborativo.
A iniciativa começou em 2024 na Penitenciária Industrial Marcelo Pinheiro - Unidade de Progressão (PIMP/UP) e em unidades que integram a 8ª Regional Administrativa da PPPR em Cascavel. A Unioeste fornece suporte pedagógico e capacitação aos custodiados que produzem, enquanto o Conselho da Comunidade viabiliza os insumos. Os itens prontos são destinados ao Consamu, que os utiliza nos atendimentos realizados pelo Samu.
A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Polícia Penal do Paraná (PPPR), o Conselho da Comunidade de Cascavel, a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e o Consórcio de Saúde dos Municípios do Oeste do Paraná (Consamu).
O diretor da PIMP/UP, Álvaro Marcelo Alegrette, destaca que a iniciativa vai além da solidariedade. “A pessoa privada de liberdade, através da manipulação artesanal, consegue produzir o polvinho e se capacitar em uma atividade que pode levá-la a gerar renda após o período de reclusão. Hoje, ela contribui com a comunidade ao beneficiar pacientes do Consamu e, no futuro, poderá usar essa habilidade como fonte de sustento para sua família. É um ciclo que se completa”, conta.
O projeto surgiu inicialmente com o nome Aeropolvo, tendo como objetivo oferecer os polvinhos de crochê às crianças transportadas pela aeronave de resgate do Consamu. A ideia era proporcionar conforto diante do forte barulho das hélices durante o voo. O resultado, no entanto, foi tão positivo que a ação foi ampliada e passou a contemplar também crianças atendidas pelas ambulâncias do Samu.
Segundo a enfermeira Indiara Teixeira, diretora do Núcleo de Educação Permanente do Consamu, os polvinhos desempenham um papel essencial no acolhimento pediátrico: “O atendimento pediátrico gera um estresse muito grande para a criança. Mesmo no caso de recém-nascidos, o transporte, o barulho, a mobilização e a trepidação acabam causando instabilidade. Com o objeto de conforto — no caso os amigurumis — é possível contribuir na estabilização clínica desses pacientes. É realmente de grande valia durante o atendimento”, explica.
A enfermeira ainda reforça que, para o paciente pediátrico, o objeto se torna um elo de confiança entre o profissional de saúde e a criança, o que facilita a abordagem e a execução dos recursos terapêuticos necessários.
REINTEGRAÇÃO SOCIAL– Além do impacto direto no cuidado às crianças, o projeto também fortalece o processo de reintegração social das pessoas privadas de liberdade. Dois cursos de primeiros socorros já foram realizados na PIMP/UP, ministrados por profissionais do Samu, levando noções essenciais para agir em situações emergenciais até a chegada do atendimento especializado. A capacitação já contemplou mais de 30 custodiados.
Para Rosaldo Chemim, integrante do Conselho da Comunidade de Cascavel, a ação é um exemplo de “corrente do bem”. “É um trabalho muito importante, porque ao mesmo tempo em que os custodiados estão envolvidos em um propósito de fazer o bem, isso contribui para a recuperação e capacitação deles durante o período de reclusão. Também é um gesto valioso para quem recebe, pois em um momento difícil, esse mimo representa carinho e afeto, ajudando no processo de recuperação”, destaca.
A expectativa é que a experiência seja ampliada para outras unidades prisionais, envolvendo a capacitação tanto das pessoas privadas de liberdade quanto dos servidores, fortalecendo a formação em saúde e promovendo iniciativas que unem educação, solidariedade e reintegração social.