O poeta curitibano Paulo Leminski recebeu in memoriam, neste sábado (30), a Medalha de Mérito Cultural do Paraná, criada em 2024 pelo Governo do Estado e Secretaria de Estado da Cultura (SEEC) para reconhecer pessoas, instituições, projetos e eventos que marcaram a cultura paranaense. A homenagem acontece no mês em que se celebra o aniversário de 81 anos de Leminski, nascido em 24 de agosto 1944, reforçando a atualidade e a vitalidade de sua obra, que continua a inspirar novas gerações.
A entrega da medalha foi feita pela secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira, à filha do poeta, Áurea Leminski, presidente do Instituto Paulo Leminski. O reconhecimento foi realizado dentro da programação do Festival Paulo Leminski, que neste ano reúne shows, debates, oficinas e atividades voltadas à literatura, à música e à poesia.
No line up do evento, o público confere grandes nomes como Lenine e Jards Macalé, além dos talentos paranaenses Rubia Divino, Janine Mathias, Leo Fressato e Leminskanções, projeto de Estrela Leminski e Teo Ruiz.
“Foi muito especial receber essa medalha em nome do meu pai. Esse reconhecimento tem um peso enorme para nós, como família e como Instituto, porque simboliza a importância de manter viva a obra do Leminski. Vamos carregar essa homenagem como algo precioso, e dividimos essa honra com todos que acompanham e celebram sua trajetória”, afirmou Aurea Leminski.
Diretora-geral do festival, ela lembra que o evento nasceu no ano passado como uma celebração aos 80 anos de nascimento do poeta e rapidamente conquistou o público. “O festival criou um ambiente intimista, afetuoso, no palco da Pedreira, que é um verdadeiro santuário. A cada edição conseguimos mostrar a diversidade da obra dele, com artistas que conviveram com meu pai, como Jards Macalé, e outros que foram profundamente influenciados por sua poesia, como Lenine. Também abrimos espaço para talentos locais, mantendo a obra dele atual, cheia de frescor e oxigênio”, explica.
Para a secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira, a entrega da medalha sela um momento simbólico. “Leminski é um nome essencial da literatura brasileira e um ícone da cultura paranaense. Sua criação segue viva, atual e necessária, em diálogo com diferentes linguagens artísticas. A medalha é um reconhecimento à força dessa obra que atravessa o tempo”, pontua.
LEMINSKI– Curitibano por excelência, um “pinheiro que não se transplanta” , como ele mesmo dizia, Paulo Leminski Filho nasceu em 24 de agosto de 1944 na cidade que tanto se traduz em sua obra. O pai, Paulo Leminski, era filho de poloneses, e a mãe, Áurea Pereira Mendes Leminski, tinha ascendência portuguesa, negra e indígena. Teve também um irmão dois anos mais novo, Pedro Leminski, com quem compôs a música “Oração de um suicida”, que abre o primeiro álbum da banda curitibana Blindagem, de 1981.
Com Ivo Rodrigues, vocalista do Blindagem e também da precursora do rock curitibano A Chave, teve uma grande parceria musical. Além disso, suas composições foram gravadas por nomes como Caetano Veloso, que colocou "Verdura" no álbum "Outras Palavras", de 1981; pelos “novos baianos” Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira, que gravaram, entre outras, as músicas "Valeu", "Se houver céu" e "Lêda"; Arnaldo Antunes, com "UTI" e "Além alma", e por Zélia Duncan, que gravou "Dor Elegante", antes musicada por Itamar Assumpção, além de outras figuras importantes da cena musical brasileira.
Na literatura, a produção começou cedo e, em 44 anos de vida, caminhou entre poesia, prosa, ensaios, biografias e traduções. Aos 19 anos já estava presente nos círculos da literatura, como quando participou, em 1963, do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte, ao lado dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, principais nomes da chamada Poesia Concreta.
Já os primeiros livros são editados nos anos 1970. Resultado de oito anos de trabalho, a estreia aconteceu em 1975, com a publicação, pelo próprio autor, do livro de prosa experimental "Catatau", que tem como personagem o filósofo René Descartes divagando em alucinações pelos trópicos, partindo da premissa de que o filósofo estivesse no Brasil vindo na comitiva do conquistador Maurício de Nassau. Depois disso vieram dezenas de outras obras. Ele tem um Jabuti entre suas conquistas.